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Positividade tóxica: é necessário sempre pensar positivo e parecer feliz?

Especialistas discutem se mensagens motivacionais realmente funcionam quando se está passando por problemas

Positividade tóxica: é necessário sempre pensar positivo e parecer feliz?
Positividade tóxica: é necessário sempre pensar positivo e parecer feliz? Foto: Pexels

Quando se inicia um novo ano é comum estabelecer metas e pedir por um ano melhor. Porém, logo após os dias passarem e as pessoas voltarem a ter problemas do dia-a-dia, é comum escutar mensagens como “está tudo bem acontecer isso”; “não seja negativo” e “isso poderia ser pior”, entre muitas outras mensagens positivas Às vezes elas falas não vêm de terceiros, mas dos próprios pensamentos, que faz com que essas mensagens motivacionais fiquem ecoando na cabeça. Mas afinal, o quanto querer ser positivo é saudável?

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Segundo a psicóloga Natália Araújo de Souza, ‘positividade tóxica’ é a crença, de que se um indivíduo pensar de uma única forma exclusivamente positiva diante de todas as circunstancias da vida, independente do sofrimento causado, conseguirá evitar sentimentos e pensamentos negativos. “Nesse modo de pensar, a pessoa considera apenas um lado da situação e não acessa aquilo que julga ser desagradável, acreditando que pelo simples fato de não pensar sobre o sofrimento, ele não existisse”, diz a profissional do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

A psicanalista Larissa dos Santos Silva diz que é necessário passar por determinadas situações para saber como lidar e se autoconhecer. “Isso não quer dizer que o indivíduo precisa ficar preso a essa condição, e sim vivenciar para que aprenda a lidar com frustrações futuras. Pensar negativo de forma saudável faz parte do nosso processo de autoconhecimento, desencadeia questionamentos diante de determinadas ocasiões”, explica Larissa que, além dos atendimentos psicanalíticos, trabalha em um centro de acolhida para pessoas em situação de rua.

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É possível separar o otimismo da positividade tóxica?

Segundo a explicação do dicionário, otimismo significa: disposição para ver as coisas pelo lado bom e esperar sempre uma solução favorável, mesmo nas situações mais difíceis. Neste caso, as pessoas otimistas criam situações e esperanças positivas, mas não desconsideram os pontos negativos. Na positividade tóxica, o lado desfavorável e ruim é excluído ou até mesmo não existe, gerando um pensamento distorcido da realidade.

“Quando perdemos um emprego, ou algo que muito queríamos não da certo, ficamos tristes, é comum. Ao mesmo tempo somos otimistas sobre novas possibilidades, isso é saudável. Em contrapartida, a pessoa que no se permite ficar nem um pouco triste em determinada circunstância, e passa a disparar frases positivas de maneira exagerada, está evitando lidar com a real situação na qual se encontra, isso não é saudável”, exemplifica Larissa.

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Como ajudar alguém que está passando por problemas sem ser positivamente tóxico?

“A escuta empática e sem julgamentos pode ser uma possibilidade de ajuda”, diz Natália. Ela cita alguns exemplos como: dizer para a pessoa que ela não está sozinha; tentar compreender o que está acontecendo; perguntar o que poderia fazer para que ela se sinta melhor e como gostaria de ser ajudada (não necessariamente precisa ser uma ação positiva) e falar que você está disponível e que pode contar com você. “Suspenda o pré-julgamento, soluções mágicas ou tente livrar o outro do desconforto emocional”, complementa.

Rede social: vilã ou heroína?

As redes sociais são uma influência direta na vida das pessoas, inclusive no âmbito da positividade tóxica. Larissa comenta que, durante esse período pandêmico, as pessoas necessitam mostrar o quão bem estão (mesmo não estando). “Essa necessidade de demonstrar estar bem a todo instante, se trata de mecanismos de defesa no qual a pessoa expõe algo superficialmente, quando não consegue confrontar sua realidade, é como se fossem colocadas mascaras por cima de mascaras para não lidar com questões que lhes trarão desconforto, ouvir a si mesmo por muitas das vezes é doido, porém necessário, ninguém além de nós mesmos saberá onde estão as raízes de traumas. Sendo assim, creio que já temos uma resposta a respeito do impacto negativo da positividade tóxica na pandemia”, relata a psicanalista, que faz o convite para se questionar alguns aspectos:

  • Quem eu tenho seguido em redes sociais?
  • Como me sito diante dos conteúdos vistos em minhas redes sociais?
  • As pessoas que sigo, acompanho, me impulsionam a ser quem sou, da maneira que sou?

“Quando determinado conteúdo começa a te fazer mal, e você se pega repensando sobre sua felicidade, por não ser tão extrema quanto exposta ali na rede, é hora de repensar prioridades”.

Todavia, ela comenta que também existem contribuições positivas, quando observamos o número de pessoas com acesso a atendimento psicológico no período e o uso das redes sociais para divulgar informações sobre questões psicológicas e como obter ajuda.

O papel das emoções para o equilíbrio psicológico e saúde mental

A psicóloga Natália fala da importância de compreender as emoções e como elas fazem parte da nossa característica como espécie, ajudando a olhar para o mundo de um jeito mais realista e demonstrando maturidade emocional, com a capacidade para tolerar frustrações, adversidades, principalmente quando as coisas não acontecem conforme o planejado.

“As emoções não devem ser taxadas como boas ou más. Todas, sem exceção desempenham um papel fundamental diante dos fatos. É um processo adaptativo, ou seja, a pessoa que reage de forma correspondente ao que ela está sentindo, tende a ter mais saúde emocional. Um exemplo desse comportamento, pode ser observado em pessoas que se encontram em processo de luto. Neste caso, a tristeza é uma emoção correspondente, e que tem uma função primordial naquele momento, faz o indivíduo olhar para dentro e ressignificar aquela perda”, diz Natália Araújo.

Como ter uma boa saúde mental?

As especialistas trazem algumas reflexões e aspectos para que haja uma compreensão pessoal, que leva para a manutenção de uma boa saúde mental. “O primordial quando falamos em saúde mental, é entender a nossa condição individual, demandamos questões que diferem das demais pessoas. Sendo assim, devemos primeiramente, nos observarmos”, diz Larissa.

Natália cita alguns outros tópicos que podem ser auxiliares:

  • Prática regular de atividade física;
  • Sono de qualidade
  • Meditação
  • Autoconhecimento.

“Conhecer a si mesmo demanda tempo de qualidade, amor, respeito e cuidado consigo. Respeitar seus limites é imprescindível para obter um resultado real e transparente para o que se busca”, conclui Larissa.

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