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MP do Rio ouve mais uma vítima de João de Deus

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça Criminais do Ministério Público do Rio de Janeiro (CAO Criminal do MPRJ), a promotora de Justiça Somaine Cerruti, vai ouvir até sexta-feira (28) mais uma mulher que acusa o médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus, de crime sexual. O ato teria ocorrido durante atendimento no centro espírita Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO).

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Segundo a promotora, na semana passada, foram ouvidas quatro mulheres na sede do MP no centro do Rio e uma outra no município de Angra dos Reis, na costa verde do estado. Somaine Cerruti acrescentou que o MP do Rio colocou toda estrutura à disposição das vítimas que moram no estado, mesmo fora da capital. Há ainda uma mulher do Rio de Janeiro, que está morando fora do país. Ela se comunicou com o MPRJ informando que gostaria de prestar depoimento, e o caso foi encaminhado para o Ministério Público de Goiás, que organizou uma estrutura de depoimentos por vídeo conferência.

Como os fatos ocorreram em Goiás, os processos têm de tramitar lá, mas, com o volume de enorme de denúncias, as unidades do MP nos estados estão fazendo força-tarefa para ouvir as vítimas em seus territórios.

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Depoimentos
Por causa do sigilo de Justiça, os nomes das vítimas não podem ser revelados, e as idades das mulheres variam entre 20 e 60 anos. Elas têm também diferentes condições financeiras, e os casos ocorreram entre 2017 e 10 anos atrás.

De acordo com a promotora, os relatos indicam uma forma comum de atuação do médium, que após as celebrações centro espírita Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO), as convidavam para um tratamento diferenciado em uma outra parte das instalações.

“Algumas eram convidadas após o evento que ocorria de forma coletiva a irem diretamente para a sala dele para um tratamento diferenciado. Todas se sentiam muito prestigiadas pela forma como isso era colocado já que quem estava lá tinha um problema muito grave e queria uma solução praticamente milagrosa. As pessoas estavam lá acreditando em uma cura espiritual”, contou.

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Ainda conforme informações da promotora, os depoimentos indicam que a forma de abordagem do médium dependia da idade e da condição socioeconômica da mulher, mas havia algo em comum. “Todas narram que aquilo começava com uma reza e de repente sentiam uma mão mais próxima do seio e ficavam na dúvida se elas estavam com pensamento indevido ou se realmente aquilo estava acontecendo.

Quando se davam conta de que estavam sendo abusadas, elas congelavam porque estavam sozinhas em uma sala com ele sem saber o que fazer. Ele se aproveitava de um momento de alta vulnerabilidade”. João de Deus ainda costumava oferecer presentes às vítimas após os abusos.

A promotora destacou que a mulher acreditava que o fato tinha acontecido apenas com ela e isso explica o fato de as denúncias não terem ocorrido antes. Além disso, temiam ser desacreditadas, uma vez que João de Deus era conhecido como uma grande autoridade na cidade e sequer a Polícia daria crédito às denúncias.

“Outras tinham medo de atrapalhar as curas verdadeiras que tinham testemunhado lá, achando que tinham que lidar com isso. Todas narram que nunca mais tiveram contato com ele. Uma delas narra que precisou retornar porque a família queria voltar, mas ela ficou bem distante de todos os lugares onde ele poderia estar.”

Prescrição
Somaine Cerruti lembrou que a legislação determina em 20 anos o prazo máximo de prescrição, mas há situações diferenciadas como a de pessoas com mais 60 anos na data da sentença, e o tempo para prescrição é contada pela metade. João de Deus tem 76 anos. Por isso, como algumas denúncias se referem há mais de 10 anos elas serão prescritas. “Nada que aconteceu há mais de 10 anos, ainda que a gente estivesse falando de um homicídio ou de um estupro, nada pode ser imputado a ele.”

Ainda assim, a promotora alertou que é importante as vítimas se apresentarem para fazer os relatos. “Mesmo os casos prescritos a gente tem procurado incentivar as mulheres a prestarem depoimentos porque se não puder ter uma resposta penal naquele caso, servem pelo menos para a Justiça ver o volume de ações ilícitas do mesmo sentido que esse homem cometeu para aumentar a pena dele.”

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