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Aumento dos casos de suicídio entre crianças e adolescentes no Brasil traz alerta

De acordo com dados de uma pesquisa da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso Brasil), com base em números do Ministério da Saúde, de 2000 a 2015, o registro de suicídios aumentou 65% entre garotos e garotas de 10 a 14 anos. No mesmo período, o crescimento foi de 45% na faixa etária de 15 a 19 anos.

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No Hospital Pequeno Príncipe (HPP), referência em atendimentos dessa natureza, apenas em 2017 foram atendidos 30 casos de autoagressão na faixa etária dos 11 aos 17 anos – que incluem, por exemplo, automutilação e intoxicação por medicamentos ou outras substâncias. Deste total, 27 foram tentativas de suicídio. Os números, infelizmente, podem ser ainda maiores devido à subnotificação.

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De acordo com a psicóloga Marianne Bonilha, profissional que atua no Serviço de Psicologia do HPP, a maioria dos casos revela um problema na estrutura familiar. “Associado ainda ao fato de a criança ou adolescente não ter a quem recorrer, a internet se torna perigosa. Na rede tem mais que o passo a passo de como se suicidar, há também pessoas doentes que estimulam isso, especialmente a partir de jogos, como temos visto com frequência”, avalia.

A especialista lembra que, atualmente, meninos e meninas buscam suprir algo que falta em suas rotinas, pois, dentro dos lares, todos estão conectados e distantes uns dos outros. “O que falta e o que é preciso é o diálogo. As crianças e adolescentes precisam entender e conhecer frustrações, os ‘nãos’, o limite, o meio termo e terem condições de se expressar mesmo quando não ficam satisfeitos com isso”, completa.

Casos evitáveis

Em 2015, um levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontou o suicídio e a morte acidental por autoagressão como a terceira causa de óbitos entre adolescentes de 15 a 19 anos. Ainda de acordo com a entidade, mais de 1,2 milhão de garotos e garotas perdem a vida todos os anos por causas evitáveis.

A psicóloga lembra que a ausência de uma válvula de escape leva muitas crianças e adolescentes a uma situação extrema. “Hoje não se pode errar. Eles não têm um escape, então não dão conta das vivências, das emoções e fazem disso, por vezes, um bullying agressivo e violento, por exemplo. Alguns extrapolam para os semelhantes e, outros, para si mesmos. E a tentativa de suicídio é a procura pelo ponto final para o sofrimento. Um sofrimento que poderia ser amenizado se essa criança tivesse alguém com estrutura para explorar o jeito que se pode ver o mundo”, reitera.

De acordo com a especialista, o suicídio é uma questão social e de saúde pública. “Já que tantos casos podem ser evitados com auxílio ou intervenção profissional, se a família não está dando conta, não tem essa estrutura, deve procurar ajuda, mas a escola também pode tomar partido, os amigos mais próximos, os conhecidos do cursinho e assim por diante”, enfatiza.

Setembro Amarelo

No mês de setembro acontece a campanha “Setembro Amarelo”, movimento mundial para conscientizar a população sobre a realidade do suicídio. De acordo com o Centro de Valorização da Vida (CVV), o suicídio é considerado um problema de saúde pública e mata 1 brasileiro a cada 45 minutos e 1 pessoa a cada 45 segundos em todo o mundo. Pelos números oficiais, são 32 brasileiros mortos por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer. Conforme o CVV, pelo menos o triplo de pessoas tentaram tirar a própria vida e outras chegaram a pensar em suicídio.

Como pedir ajuda

Desde 2015, o número 188 atende ligações gratuitas para prevenção do suicídio. O Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias.

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