Estilo de Vida

Ser pai após os 50 anos pode ser uma experiência notável; especialistas comentam

Pais como Sérgio Franco, que na foto está com sua filha Thais, com mais idade têm mais tempo para dedicar a seu filho | André Porto/Metro
Pais como Sérgio Franco, que na foto está com sua filha Thais, com mais idade têm mais tempo para dedicar a seu filho | André Porto/Metro

Estranhamente, no vídeo do nascimento de Thais Helena Franco, as cenas mostram apenas o chão. Mas, o som  de um choro compulsivo ao fundo –  que não é do bebê – explica o que aconteceu. O pai, Sergio Franco, então com 53 anos, sem conter a emoção, não conseguiu gravar o parto. “Acredito que a idade fez a diferença em nossa relação, desde o início, porque ele já estava numa faixa etária em que é normal ficar mais emotivo, observa a filha, hoje com 21 anos.

“Existe uma notável diferença entre ser um pai jovem e um pai mais adulto. Os níveis de ansiedade quando se é mais novo são diferentes  em relação aos mais velhos, que têm mais paciência, disposição e são mais seguros e compreensivos”, afirma o psicólogo e docente universitário, Rodrigo Aguirre.

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O especialista acredita que ser pai a essa idade é um ato planejado de maneira consciente e que o acúmulo de experiências é fundamental para a ideia mais clara da relação que querem estabelecer com seu filho. “Se espera que os homens de 50 anos que resolvem ser pais é porque querem. É algo que planejam, considerando o fato de que o relógio corre contra eles.”

Assim como a etapa fértil da mulher começa a diminuir a partir dos 30 anos, nos homens isso ocorre a partir dos 40. Isso acontece porque há uma diminuição na produção de sêmen, os espermatozoides ficam mais lentos e a idade também pode trazer a possibilidade de uma indesejada disfunção erétil.

Um homem com mais de 50 anos tem 38% menos probabilidade de engravidar uma mulher comparado a um de 30.

Outro dado interessante, é que de acordo com alguns estudos, ao chegar aos 60, 85% dos espermatozoides do homem é considerado anormal, ou seja, apresentam defeitos de formação, o que acarreta a morte da maioria fazendo com que não alcancem o óvulo.

 

Preconceito social 

Hoje – estima o psicólogo – na paternidade tardia existe uma maior tolerância, mas ainda assim persiste o preconceito social. As clássicas perguntas: “Como você vai brincar com seu filho se está mais cansado?”; “Que idade você terá quando seu filho estiver no ensino médio?”; “Já parou para pensar que quando seu filho estiver na faculdade você não terá condições muito boas para ajudá-lo?”. Esses são alguns exemplos de questionamentos ao envelhecimento, que não contemplam uma percepção positiva, de que existe uma maneira de envelhecer de forma saudável e ativa. “As pessoas não veem que essa pode ser uma etapa em que a  vida está muito mais bem resolvida, além disso, nessa etapa da vida do filho, o pai já está aposentado e pode dedicar muito mais tempo a seu cuidado.” Foi assim  com Sérgio Franco e Thais. “Meu pai sempre esteve muito presente, por isso minha ligação com ele foi sempre muito forte”. Casos como esse, de Franco e Thais, certamente ajudam a derrubar os preconceitos, e podem ainda explicar uma tendência de aumento do número de pessoas que decidem ser pais em idades mais avançadas.

Aspectos positivos

Além de poder brincar com o pai em horário comercial, graças ao tempo disponível por causa da aposentadoria, Thais destaca nele uma disponibilidade afetiva, que acredita ser fruto da maturidade. “Ele sempre foi extremamente carinhoso comigo e com a família de modo geral”, descreve a jovem.  “Estava o tempo todo com ele, andando de bicicleta, no cinema ou no shopping”, conta Thais. Ela diz que hoje, com 74, seu pai não está mais ativo quanto antes, mas por outro lado é cada vez mais carinhoso e sentimental. “Está numa fase muito bonitinha, qualquer coisa ele chora”, diz a jovem. “Os pais com mais de 50 têm uma maturidade emocional que passa tranquilidade às crianças, permitindo também laços mais fortes com eles”, afirma o psicólogo. Outra coisa que ajuda bastante os papais de 50 anos ou mais, segundo Aguirre, é a capacidade de escutar o filho e de transmitir experiências que viveram com o passar do tempo, valorizando o significado dos afetos e  dos vínculos. “Graças a essa maturidade emocional que os caracteriza, têm a vida um pouco mais resolvida, não apenas economicamente falando, mas também emocionalmente”. Essas coisas ajudam a conseguir lidar com o filho de forma mais aberta que os pais jovens, acrescenta o especialista.

Também pode acontecer de um pai com mais de 50 ter outros filhos mais velhos. Dessa maneira, a história começa novamente, mas não do zero porque há antecedentes nesse caminho percorrido. O psiquiatra Alejandro Koppmann diz que “a experiência vivida e, eventualmente, ter tido filhos antes, ajuda o pai a não cometer os mesmos erros que realizaram ao serem pais de primeira viagem. E acrescenta, “tem que haver uma preocupação em relação a aplicar todo o aprendizado do filho anterior a este, porém não se pode esquecer que cada filho é diferente e tem que se respeitar essa subjetividade.”

Já Aguirre, recomenda  “não cair na categoria de ‘pais avôs’, e relaxar mais do que se deve. “Devem dar às crianças os limites de que precisam.” 

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