Em entrevista ao “Os Donos da Bola”, da Rádio Bandeirantes, o médico e cientista defendeu a paralisação dos campeonatos na contenção da pandemia de covid-19
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Por que o futebol precisa parar no Brasil?
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) não está informando todos os riscos que os jogadores, jornalistas e o público têm enfrentado e vão continuar a enfrentar por causa da continuidade dos jogos de futebol. O plano de “vamos testar todo mundo”, na prática, não funciona. É só ver os surtos de covid-19 entre jogadores de times pelo Brasil inteiro.
Mas os testes não podem ser um bom caminho para monitorar a doença?
O problema é que a CBF não fala que, entre os resultados dos testes RT-PCR, existem até 30% de falsos negativos. Então, mesmo que só 2,2% dos jogadores deem positivo, há uma chance que 3 a cada 10 dos que testaram negativo estarem com a doença. No jogo contra o Palmeiras, há duas semanas, o Corinthians teve que remover o Cantillo da concentração horas antes do jogo, porque ele testou positivo.
Qual a diferença do Brasil para outros países que mantiveram os jogos?
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Em países como Portugal ou Inglaterra, o futebol continuou mas fecharam todos os bares e restaurantes, impediram as pessoas de se aglomerar para assistir o jogo. Isso não acontece no Brasil.
E a rotina dos clubes coloca mais pessoas em risco?
Sim, porque falta um rastreamento dos contatos dos jogadores. O atleta sai do treino e pode não ir direto para casa. Para ter garantia do protocolo, ou isolamos ou jogadores em uma bolha, como a NBA (liga de basquete dos Estados Unidos) fez, ou você rastreia os contatos, como a Inglaterra faz. Por aqui, não se faz nenhuma das duas coisas.
As possíveis sequelas da doença também são um fator pela paralisação?
Com certeza. Não vemos ninguém falando para o atleta de ponta: “você sabe que, se tiver covid-19, mesmo que seja brando, você pode ter efeitos colaterais e sequelas crônicas pro resto da vida”. E nisso entra insuficiência respiratória, cardíaca, hepática, disturbios intestinais ou neurológicos graves a longo prazo.