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‘Anora’ vence a Palma de Ouro em Cannes

A 77ª edição do Festival de Cannes foi encerrada com ‘Anora’ sendo a vencedora do principal prêmio do festival

Ganadores de la Palma de Oro
Ganhadores da Palma de Ouro (Neilson Barnard/Getty Images)

A comédia dramática de Sean Baker, estrelada por Mikey Madison (Better Things, Era Uma Vez em Hollywood), conta a história de uma stripper nova-iorquina que obtém mais do que esperava ao se casar com o filho de um oligarca russo.

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Baker é o primeiro cineasta americano a ganhar a Palma de Ouro desde Terrence Malick, que a recebeu por ‘A Árvore da Vida’, em 2011.

Ao receber seu prêmio, Baker falou do pódio sobre a importância da experiência cinematográfica. "Assistir a um filme com outras pessoas em uma sala de cinema é uma das grandes experiências comunitárias", disse Baker. "Compartilhamos risadas, tristezas, raivas, medos e, com sorte, fazemos catarse com nossos amigos e desconhecidos. Por isso, digo que o futuro do cinema está onde começou: em uma sala de cinema".

Na distribuição de cartas, ‘Anora’, de Sean Baker, leva o ás, pois entreter e fazer rir na Seção Oficial com um filme é uma missão amaldiçoada, pois aqui se vem, seja público, crítico ou júri, para tudo menos se divertir com o cinema. Vamos supor que ‘Anora’ seja uma comédia, e de fato poderia ser uma screwball do século XXI, com uma personagem feminina, uma prostituta, pela qual o filho tolo de um bilionário russo se apaixona enquanto está de férias em Nova York por algumas semanas.

Por um momento, pode-se confundir com Cinderela ou com Uma Linda Mulher, mas Sean Baker, diretor de The Florida Project e Red Rocket, é um cara que não brinca em serviço e monta uma história cheia até transbordar: com graça, com cinismo, com prostitutas, com gângsteres, com vícios e virtudes, com sentimentos, má ação, dinheiro sujo, dinheiro nojento, sexo duro e sexo tocante..., um filme tão completo que todos ganham, os bons e os maus.

"Partilhamos risos, tristezas, raivas, medos e, com sorte, fazemos catarse com nossos amigos e desconhecidos. Por isso digo que o futuro do cinema está onde começou: numa sala de cinema".

—  Sean Baker, diretor de cinema

A protagonista é Mikey Madison, conhecida apenas por alguns filmes de segunda categoria, e que aqui faz um trabalho fantástico mimando o protagonista (Mark Eydelshteyn), o co-protagonista (Yuri Aleksandrovic), o espectador e o lobo da Chapeuzinho Vermelho se estivesse no conto. Grande precisão dramática e cômica para construir seu personagem entre o ambicioso e o digno. Além disso, o regimento de ‘feministas’ fofoqueiras tem muito mais para fuçar aqui do que em todos aqueles clichês em que costumam se revirar. Prêmio de interpretação para ela.

‘Anora’, a vencedora, termina com uma menção e homenagem a Jesús Franco. Sean Baker, o diretor deste filme e de joias como ‘Tangerine’ e ‘Projeto Flórida’, conta que teve o cineasta espanhol em mente durante toda a produção do que agora e para sempre é, como já foi dito, a Palma de Ouro de Cannes. Ele está interessado na forma clara e sem ambiguidades de abordar o sexo porque, em sua opinião, estamos perdendo a direção no que diz respeito ao sexo. Por que tanto puritanismo em relação ao sexo e tanta leveza com, por exemplo, a violência? Baker se questiona sempre que tem oportunidade. E ele diz isso para dar sentido à sua própria visão, ao mesmo tempo frontal e nua dos corpos, mas rigorosamente ética e até moral.

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E, na verdade, se algo distingue ‘Anora’ no papel da atriz Mikey Madison, é a sua clareza, a sua falta de preconceitos, a sua simples e descomplicada liberdade. Por isso e pela sua capacidade de mudar os lugares-comuns, de discutir a parte mais conformista do olhar. Conta-se a história de todas as histórias, a de ‘Cinderela’. Uma trabalhadora do sexo conhece um dia um jovem e desmiolado herdeiro de uma fortuna, mas não de uma fortuna qualquer, mas de uma fortuna russa, daquelas com jato privado e ouro incrustado. E assim até que a carruagem volte a ser o que sempre foi.

Todo o filme se move em um equilíbrio instável entre o essencial do que mostra e o profundamente sério do que esconde: se é a exploração dos corpos, se é o consumo predatório, se é toda a sociedade que se consome. É uma comédia até deixar de ser. É romântica até doer. Também é muito triste em sua euforia e muito bela em sua suja e silenciosa brutalidade. A Palma de Ouro volta ao cinema americano 13 anos depois, desde que Terrence Malick a ganhou com ‘A Árvore da Vida’, e é bom que assim seja.

Premiados

As honras também foram para Miguel Gomes, que ganhou o prêmio de melhor diretor por ‘Grand Tour’; o elenco feminino da comédia musical ‘Emilia Pérez’ levou o prêmio de melhor atriz pelo elenco todo: Adriana Paz, Zoe Saldana, Karla Sofía Gascón e Selena Gomez; o prêmio de melhor ator foi para Jesse Plemons por ‘Kinds of Kindness’; e Coralie Fargeat ganhou o prêmio de melhor roteiro por ‘The Substance’.

‘Emilia Pérez’ também ganhou o prêmio do júri; ‘All We Imagine as Light’ foi a vencedora do grande prêmio; o prêmio Camera de Ouro para melhor estreia foi para o filme ‘Armand’, dirigido por Halfdan Ullmann Tøndel; Nebojša Slijepčević ganhou a Palma de Ouro de curta-metragem por The Man Who Could Not Remain Silent; e o prêmio especial foi concedido a Mohammad Rasoulof por “The Seed of the Sacred Fig”.

O concurso deste ano teve destaque depois que o governo iraniano acusou Rasoulof de criar propaganda contra o regime logo após Cannes selecionar seu filme para a competição deste ano. O thriller foca em um juiz do Tribunal Revolucionário de Teerã lidando com paranoia em meio a intensas protestos políticos. O diretor foi condenado a oito anos de prisão, além de açoites e uma multa.

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