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‘Game of Thrones’ encerra após nove anos com final controverso; leia análise

Entertainment Weekly/Divulgação

Após sete temporadas de promessa, o oitavo ano de «Game of Thrones» finalmente entregou o tão falado inverno de Westeros. Com ele, veio a guerra contra o exército de mortos-vivos do Rei da Noite (Vladimir Furdik) – tido como principal vilão da série, mas que não durou mais que um episódio. A briga pelo Trono de Ferro retomou o foco da narrativa – mas acabou derretido por um Drogon desolado. Em suma: foram seis episódios de «uau, porém…».

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«Winterfell» é o episódio que abriu a temporada final, com uma guerra fria gostosa de se assistir, entre Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) e Sansa Stark (Sophie Turner). É com muita indignação (justa) que a segunda percebe que precisaria reconhecer a Mãe dos Dragões como rainha se quisesse sobreviver à guerra contra os mortos-vivos. Cersei Lannister (Lena Headey), sempre tão impetuosa, também precisou se dobrar aos desejos de Euron Greyjoy (Pilou Asbaek), seu último aliado contra Dany, para conseguir o exército que precisava.

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Com muita história para contar em pouco mais de 1h, o grande momento do episódio foi quando Jon Snow (Kit Harington) descobre sua verdadeira origem como herdeiro legítimo das casas Stark e Targaryen. Vale destacar também o encontro entre Bran Stark (Isaac Hempstead-Wright) e Jaime Lannister (Nikolaj Coster-Waldau), rápido, porém necessário.

Sansa Stark Game of Thrones Sophie Turner

Na semana seguinte, «Uma Cavaleira dos Sete Reinos» fez justiça a uma das personagens mais amadas da série, Brienne de Tarth (Gwendoline Christie). Em uma cena emocionante, ela finalmente recebeu o título oficial de cavaleira, sendo consagrada por Sor Jaime Lannister. O momento pré-consagração é um dos melhores do episódio, quando Brienne, Jaime, Sor Davos (Liam Cunningham), Tyrion (Peter Dinklage), Tormund (Kristofer Hivju) e Podrick (Daniel Portman) refletem sobre a guerra que está por vir. Ele faz lembrar o cuidado de «Game of Thrones» com a construção de diálogos – ao contrário do primeiro episódio, que abre a temporada com piadas toscas e tem o breguíssimo diálogo entre Jon e Dany: «mantenha sua rainha quente».

Também é neste episódio que Arya Stark (Maisie Williams) tem sua primeira relação sexual. O público da série acompanhou o crescimento da personagem e, talvez por isso, achou estranha a cena. Contudo, como a própria atriz defende, foi um momento bastante respeitoso e mostrou o amadurecimento da mais novas das meninas Stark.

Arya Stark Maisie Williams Game of Thrones

«A Longa Noite» trouxe a batalha mais esperada por quem assiste ao programa. Contudo, todos foram pegos de surpresa quando o grande-problema-Rei-da-Noite foi completamente resolvido em um único episódio – por mais que ele tenha sido o mais longo da série até então. Também foi o campeão de reclamações: para muita gente, as cenas ficaram mais escuras que o aceitável e teve até quem clareou as cenas, para uma melhor compreensão.  Ainda assim, é preciso reconhecer o trabalho do diretor Miguel Sapochnik, responsável por criar conduzir subplots dentro da batalha, da ação ao terror.

E se a expectativa era de um banho de sangue, os roteiristas pareceram se acovardar nessa reta final da série e quase todos os personagens principais foram mantidos vivos. Destaque para as mortes de Lyanna Mormont (Bella Ramsey), a garotinha que matou um gigante, e de Theon Greyjoy (Alfie Allen), finalizando seu arco de redenção após os atos cruéis que cometeu na segunda temporada.

Jon Snow Aegon Targaryen Kit Harington Game of Thrones

Se até então a linha narrativa fazia sentido, foi em «Os Últimos Starks» que as coisas começaram a desandar. O ship Brienne e Jaime finalmente se concretizou, para ser desfeito pouco depois. Ora, se o Regicida rompeu com a irmã/amante, por que resolveu correr para Porto Real e salvar a pele dela? As rachas do relacionamento entre Jon e Dany também se deram aqui, quando ela suplica – e depois ordena – que ele não revele a ninguém sobre sua origem.

Porém, o mais absurdo é que Daenerys, voando em um dragão em um dia claro, não tenha sido capaz de ver a frota de Euron chegando para atacar os seus navios. Pior: o lorde das Ilhas de Ferro consegue abater Rhaegal em movimento, mas é incapaz de acertar Drogon quando o dragão voa direto para o seu navio. A impressão que ficou é que os roteiristas precisaram resolver um problema de pós-produção, que não conseguia lidar com dois dragões em cena.

Cersei Lannister Lena Headey Game of Thrones

A outra grande batalha acontece em «Os Sinos«, quando Daenerys leva seu dragão e seu enorme exército (que era maior do que o apresentado no terceiro episódio) para atacar Porto Real. O episódio é um verdadeiro «bolo de padaria», em que tudo é muito lindo – novamente, graças à direção de Sapochnik –, mas muita coisa não faz sentido. Cersei morre, chorando, ao lado de Jaime, soterrada pelos escombros da Fortaleza Vermelha, e isso foi visto como um final indigno para ela, dada sua magnitude e crueldade. A própria atriz estranhou essa conclusão, após ler o roteiro pela primeira vez.

O melhor plano de Tyrion, Mão da Rainha e um dos personagens mais inteligentes da série, era enviar Cersei e Jaime para o exílio – como se uma rainha exilada jamais tentasse voltar ao trono. Após todos esses anos, Arya desiste de matar sua inimiga número um simplesmente porque Sandor Clegane (Rory McCann) diz a ela que a «vingança não vale a pena». Drogon sozinho dá conta de queimar todo o exército Lannister e a Companhia Dourada, mas quando a série contava com dois dragões, na batalha contra o Rei da Noite, o estrago foi proporcionalmente menor. Por fim, Dany, sempre tão justiceira, resolve que Porto Real se render não é o suficiente e queima todos os habitantes da capital de Westeros.

Se for para destacar bons momentos do episódio, vale lembrar o embate entre Sandor e Gregor Clegane (Hafþór Júlíus Björnsson), tão aguardada pelos fãs, o diálogo de despedida entre Tyrion e Jaime e a luta entre este último e Euron.

Emilia Clarke Daenerys Targaryen Game of Thrones

A série chega ao fim com «O Trono de Ferro«, após a vitória de Dany. A personagem se estabelece como uma tirana, mas que não se dá conta disso. Para ela, «os fins justificam os meios» e o mundo será bom porque ela assim o quer. Jon Snow, o outro herói da trama, pensa o oposto disso e, para evitar mais um reinado de opressão, assassina a própria amada após beija-la e reconhece-la como sua rainha, no melhor estilo César e Brutus. O Trono de Ferro, no fim das contas, não fica com ninguém, já que Drogon o derrete.

Depois disso, os lordes de Westeros se reúnem para o julgamento de Tyrion, que (espertamente) sugere que isso só pode acontecer quando houver um novo rei. Seu discurso, porém, leva os chefes das famílias nobres a escolher Bran Stark como novo monarca. A opção pegou grande parte dos espectadores de surpresa e não convenceu. Embora sempre tenha recebido destaque na série, desde o primeiro episódio da primeira temporada, ele foi perdendo espaço a partir do sexto ano, quando se tornou o Corvo de Três Olhos. Por isso, ficou o sentimento de que Bran não tinha feito nada para merecer governar. Ainda mais se levar em consideração que o próprio Bran autoriza a independência de um de domínios – que já era seu, de qualquer jeito –, levando Sansa, sua irmã, ser coroada rainha de Winterfell.

Por outro lado, a finalização de Arya merece elogio, ao transformar a assassina em exploradora. Sem função em um reino de paz, não caberia a personagem se tornar uma lady, ainda mais quando a própria sempre rejeitou o título. Além disso, abre espaço para uma continuação em spin-off, como sugeriu o escritor Stephen King após o episódio deste domingo (19).

bran stark isaac hempstead wright game of thrones

Após nove anos no ar, «Game of Thrones» finaliza com um sabor agridoce, como vinham alertando os showrunners David Benioff e D. B. Weiss há anos. O ritmo lento das primeiras temporadas fez com que o espectador não engolisse muito do que aconteceu nas últimas, justamente pela velocidade com que os problemas foram resolvidos – quem não lembra dos corvos-relâmpagos do sétimo ano? Sem o suporte dos livros desde a quinta temporada, os roteiristas só podiam trabalhar em cima de parte das ideias de George R. R. Martin, reduzindo a complexidade da trama. Aliás, isso pode beneficiar o autor, quando ele finalmente publicar os dois últimos livros, lucrando com fãs insatisfeitos com o fim da série de TV.

Mesmo assim, vale lembrar que o programa segue como o maior sucesso da história da HBO, batendo recordes de audiência, acumulando prêmios e revolucionando nosso jeito de assistir TV. Em uma época em que o streaming domina, foi a fantasia medieval que levou o público para a frente da televisão, todos os domingos, no mesmo horário, para acompanhar a saga de Westeros – e quando não assim, desligar a internet para evitar os spoilers. Também já contou com o maior elenco da televisão americana, quando, na terceira temporada, escalou 257 atores. Entre muitos acertos e alguns erros – especialmente na conclusão –, «Game of Thrones» continua firme como um marco na cultura pop mundial.

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