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‘Racismo recreativo’: médico que filmou negro acorrentado terá que pagar R$ 300 mil de indenização

Homem alegou que houve uma ‘brincadeira errada’; caseiro disse que não queria gravar os vídeos

Médico filma funcionário negro acorrentado em Goiás
Médico filmou funcionário negro acorrentado em fevereiro de 2022, em Goiás Polícia Civil (Divulgação)

A Justiça condenou o médico Márcio Antônio Souza Júnior, que filmou um caseiro negro acorrentado e postou as imagens nas redes sociais, por “racismo recreativo”. O homem alegou que tudo não se passou de uma “brincadeira errada”, mas a juíza Erika Barbosa Gomes Cavalcante, da Vara Criminal da comarca de Goiás, entendeu que houve crime e condenou o autor a pagar uma indenização no valor de R$ 300 mil.

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As imagens viralizaram em fevereiro do ano passado. Em um dos vídeos, o médico aparece conversando com o caseiro, que trabalhava na fazenda dele e recebia um salário mínimo, e o mostra com pés e mãos presos por grilhões, e com uma gargalheira no pescoço. “Falei para ele estudar e não quer. Vai ficar na minha senzala.”

Após a repercussão negativa do caso, o médico gravou outro vídeo, no qual apareceu ao lado do funcionário e negou que o tinha colocado em uma “situação de escravidão”. “E ai, camarão. O povo está enchendo o saco. O que você acha disso?”, diz o médico. O funcionário responde: “O povo tem é que trabalhar. A vida melhor que Deus deu para o homem foi trabalhar, moçada”. O médico completa: “Aqui é tranquilidade, paz. Não tem nada de escravidão. Quem não queria uma vida dessa”.

A Polícia Civil recebeu uma série de denúncias e abriu um inquérito para apurar o crime de racismo. O médico foi indiciado em março de 2022 e, desde então, um processo tramitava na Justiça.

Ao ser ouvido pela juíza, o caseiro disse que não viu a situação como uma brincadeira e deixou claro que não queria ter gravado as imagens. “[O funcionário] não teve nenhuma vontade de gravar os vídeos e não vê a situação como uma brincadeira, pois se fosse, estariam todos iguais no vídeo, esclarecendo, por fim, que não são amigos”, destaca a sentença.

O médico também foi ouvido em juízo e ressaltou que “não teve a intenção de praticar racismo, mas afirma que pegou erroneamente os apetrechos na casa do pai dele e que fez uma brincadeira errada”.

Apesar das alegações, a juíza entendeu que houve um “racismo recreativo” e condenou o médico a pagar uma indenização R$ 300 mil, que será dividido entre a Associação Quilombo Alto Santana e a Associação Mulheres Coralinas.

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“Trata-se de um vídeo absolutamente criminoso, evidenciando o crime de racismo contra uma pessoa negra, com apetrechos utilizados na época da escravidão, motivo porque não há que se falar que foi uma brincadeira, em razão de ser crime o racismo recreativo”, escreveu a magistrada na decisão.

Ao site G1, a defesa do médico reafirmou que ele é inocente e que vai recorrer. “Reitera ser inocente e que não teve qualquer intenção de ofender, menosprezar, discriminar qualquer pessoa ou promover esse tipo de atitude, inaceitável em nossa sociedade. Recorrerá contra essa injusta condenação ao Tribunal de Justiça”, destacou a nota.

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