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Entenda como funciona o lockdown em países pelo mundo

Lockdown na Alemanha Lennart Preiss/Getty Images

No início do ano passado, quando a pandemia de covid-19 surpreendeu o mundo e sobrecarregou hospitais, a China e  logo depois os países europeus foram os primeiros a adotar medidas rígidas de confinamento da população para conter a disseminação do coronavírus. O chamado lockdown – palavra que marcou o ano de 2020 – é eficaz, mas não é simples implementá-lo.

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Capaz de frear o contágio da doença, a restrição de circulação de pessoas resultou em uma série de desafios para governos ao redor do globo, exigindo medidas de apoio aos cidadãos como planos de socorro financeiro emergencial.

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Para o ministro das Relações Exteriores, do Brasil, Ernesto Araújo, as restrições impostas para conter a pandemia de covid-19 são ameaças às “liberdades fundamentais”. Os governos federal e estaduais não seguiram o exemplo o lockdown como medida de combate à doença. Mesmo assim, algumas cidades, como Araraquara, no interior de São Paulo, se viram obrigadas a adotar a medida por conta própria diante de estatísticas assustadoras.

Um ano depois do início da pandemia, muitos países recorrem a novas medidas de contenção para abaixar a taxa de contágio (veja exemplos abaixo). O Reino Unido, liderado pelo primeiro-ministro Boris Johnson, retomou a quarentena no fim do ano passado e, como incentivo para que as pessoas fiquem casa, instituiu o chamado “Furlough Scheme”, um auxílio financeiro que paga até 80% da média do rendimento de britânicos que foram demitidos durante a crise ou são autônomos.

O mesmo foi instituído na Alemanha, liderada por Angela Merkel, e na Holanda, de Mark Hutte. Em ambos os países, onde restaurantes e lojas estão fechados, existe uma ajuda financeira de 75 a 80% da renda para artistas, autônomos, desempregados e microempresários, com base no rendimento anterior. Estima-se que a pandemia de covid-19 tenha custado 23 bilhões de euros (cerca de R$ 151 bilhões) aos cofres públicos da Alemanha em 2020.

Mas, apesar da eficácia em frear o contágio da doença, o lockdown não escapa de protestos. “A cada dia que passa conheço mais pessoas que que acham que o confinamento está demorando muito tempo e que os números já melhoraram como eles [governantes]  queriam”, conta a brasileira Letícia Dias, professora em Munique.

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Em entrevista ao jornal O Globo, o pesquisador de Oxford Ricardo Schnekenberg, afirmou que o lockdown é uma “medida ruim que ninguém quer tomar”, mas que o Brasil, que acumula mais de 11 milhões de infectados, precisa adotar regras mais restritivas se quiser controlar rapidamente os casos.

Alemanha

Assim como na Dinamarca, as máscaras utilizadas no país para proteção são as cirurgicas, N96 ou PFF2. As escolas nunca pararam de funcionar para filhos de trabalhadores essenciais. As empresas enviaram um documento às escolas para garantir o ensino dos pequenos. Aos trabalhadores que perderam o emprego e autônomos, a Alemanha paga um auxílio correspondente a 75% do rendimento médio do ano de 2019 (ainda pré-pandemia).

“Existe bastante multa, principalmente para quem chegou de viagem de algum país de risco e não está respeitando a quarentena obrigatória. Os testes são todos gratuitos e eu mesma sempre faço. Como trabalho em creche e as crianças sempre estão com algum resfriado, eu já fiz oito testes RT-PCR para covid-19 e todos de graça, pelo governo. Até agora, todos negativos.” – Letícia Dias, em Munique, Alemanha

Dinamarca

Com escolas prestes a abrir, a Dinamarca ainda mantém o restante dos serviços fechados e restaurantes e bares ainda deverão ser os últimos a retomar suas atividades. Máscaras ao ar livre não são obrigatórias, mas em estabelecimentos fechados e no transporte público, sim. Por lá, apenas máscaras cirúrgicas, N95 e PFF2 são permitidas. Para autônomos, microempresários e artistas, o governo está oferecendo auxílio financeiro. Uma ajuda econômica também pode ser solicitada para pagar aluguel e outras despesas fixas.

“A situação é bem melhor. Atualmente, temos 231 pessoas internadas no país pela covid-19. Você ainda pode se reunir com, no máximo, cinco pessoas ao ar livre. O governo está muito vigilante. É socialmente inaceitável ser visto com várias pessoas ao mesmo tempo.” – Amalie Bendixen, Copenhage, Dinamarca

Reino Unido

O país, que já está em lockdown há seis semanas, informou na semana passada que conseguiu reduzir em 79% a taxa de contaminação de covid-19. No mesmo anúncio, o primeiro-ministro Boris Johnson disse que o país deve sair do confinamento total em meados de junho. Mas no momento, ainda é preciso manter distanciamento social. O uso de máscaras é obrigatório em locais fechados. Desde o fim do ano passado, quando a Europa retomou o confinamento para evitar uma nova onda da doença, o Reino Unido está pagando 80% dos salários para quem não pode trabalhar.

França

Um toque de recolher está em vigor em todo o país, obrigando que as pessoas fiquem em casa entre 18h e 6h. Cafés e restaurantes estão fechados há meses. Cidades como Nice e Dunquerque estão em lockdown aos finais de semana e na sexta-feira passada (26), autoridades de Paris pediram ao governo francês que decrete um “lockdown” de três semanas na capital para controlar a alta de casos de covid-19. Desde que o país retomou o lockdown no final do ano passado, o desrespeito às regras pode gerar uma multa inicial de € 135 (cerca de R$ 910).

Portugal

Em confinamento total desde janeiro deste ano, Portugal estabeleceu regras para evitar a alta transmissão do coronavírus por lá. Desde janeiro, as escolas pararam de receber alunos e só é permitido sair de casa com alguma justificativa ou para passeios próximo às residências. Os chamados “passeios higiênicos” permitem que os moradores passeiem perto de suas casas para uma atividade ao ar livre ou para um passeio com o animal de estimação.

“Fui à farmácia, fui parada por policiais no caminho de volta para a casa e precisei mostrar a minha bolsa de compras para justificar a saída. Eu tenho uma admiração muito grande pelo jeito que as pessoas estão levando as restrições a sério. Os portugueses, em geral, se uniram nesse momento difícil, seguimos as regras e agora melhoramos os índices” – Kimberly Genschmer, em Moledo, Portugal

Nova Zelândia

Neste final de semana, a maior cidade do país, Auckland, retomou restrições contra a covid-19 depois de um morador testar positivo para a doença. Agora, a restrição que deve durar no mínimo sete dias, impede que pessoas saiam de casa para lazer. Só é permitido circular para trabalhar ou fazer compras essenciais, como farmácia e supermercado. A gestão da premiê Jacinda Ardern se tornou um exemplo no combate da doença. Por lá, são 2,3 mil infectados e apenas 26 vítimas.

Chile

O país decretou um bloqueio total para a região metropolitana de Santiago, capital do país. Imposto desde o dia 15 de janeiro, mais de 7 milhões de habitantes da cidade só poderão sair de casa para comprar alimentos, remédios ou ir ao hospital em alguma emergência. Assim como em Portugal, é preciso apresentar uma justificativa para circulação nas ruas. O governo de Sebastián Piñera optou pela medida depois de uma explosão de novos pacientes de covid-19 em 24 horas.


*com supervisão de Vanessa Selicani

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