A primeira mulher presidente do Chile, que deixou neste domingo (11) o seu segundo mandato, compartilha com o Metro Jornal o balanço de seu governo e fala sobre os desafios da América Latina.
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Qual conquista que lhe deu maior satisfação como governante?
Posso mencionar dezenas de coisas, mas quero destacar a educação gratuita no ensino superior, que é uma maneira muito concreta de garantir os direitos sociais, começando com os mais de 300 mil que este ano estudarão de graça. E, em segundo lugar, o fim do (sistema eleitoral) binominal e o fim das relações incestuosas entre dinheiro e política. Estas e outras mudanças instalaram na sociedade uma convicção que terá um efeito duradouro: é possível fazer as mudanças exigidas pela sociedade quando se quer e se tem vontade. E essas mudanças podem ser traduzidas em direitos e instituições.
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Fez grandes mudanças no Chile. O que espera do restante da América Latina?
A América Latina tem a desigualdade como questão número um. Apesar de muitos progressos terem sido feitos para a redução da pobreza, o crescimento econômico das últimas décadas levou ao surgimento de questões ligadas à desigualdade. E isso se deve, em parte, por termos um modelo de produção baseado em atividades extrativistas que não favorece a inovação, não gera sinergias e não promove empregos de qualidade. Além disso, esse modelo, como em outros países, tende a uma concentração excessiva e pouco saudável do poder econômico. Portanto, é essencial diversificar a matriz produtiva e apoiar esse esforço com um forte impulso ao investimento em ciência e tecnologia, bem como ajustar acordos comerciais com as demandas atuais.
Também acredito que a redução das lacunas sociais é essencial para melhorar a condição de vida das maiorias e evitar a intensificação dos conflitos políticos. E tudo indica que as políticas sociais universais são as chamadas para reduzir as desigualdades, juntamente com as políticas fiscais que lhes dão suporte fiscal responsável. Por outro lado, a integração regional é fundamental para a construção do desenvolvimento da região.
Concordou em colaborar com a ONU e a OMS. Quais são os grandes desafios dessas organizações?
Primeiro, quero deixar claro que não são cargos, mas que recebi dois convites para colaborar, sem remuneração e de forma remota e voluntária. O que vou fazer é contribuir para o Conselho Consultivo de Alto Nível (das Nações Unidas) de Mediação e a Aliança para a Saúde da Mãe, do Recém-Nascido e da Criança, da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Quanto aos desafios, há uma grande coincidência global: o modelo de desenvolvimento que predominou até agora foi abalado pela implacável realidade das mudanças climáticas, cujos efeitos já estão à vista e serão cada vez mais frequentes e intensos. Isso implica não só reduzir emissões de CO2, mas também ousar transformar modelos produtivos e repensar o tipo de crescimento para ser privilegiado. Em um cenário internacional marcado pela incerteza, torna-se ainda desafio trabalhar ativamente pela estabilidade e paz comum, com o fortalecimento de instrumentos multilaterais e cooperação.
Do lado da OMS, o principal desafio é apoiar os países para tornar o acesso à saúde universal uma realidade. É essencial promover políticas para abordar, a partir de uma perspectiva de saúde pública, a epidemia de doenças não transmissíveis, especialmente a obesidade e suas consequências, e possibilitar o acesso a medicamentos a preços acessíveis e de qualidade.