Brasil

Em fim de governo, Equador troca farpas com Odebrecht

planeta-odebrecht-seloQuase 13 milhões de equatorianos foram neste domingo às urnas para escolher o próximo presidente do país. O atual mandatário, Rafael Correa, está no poder desde 2007, ano em que – por coincidência ou não – a Odebrecht começou a pagar no Equador propinas de US$ 33,5 milhões.

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A investigação  ainda não cita nomes concretos, mas a campanha eleitoral nos últimos meses criou um terreno fértil para acusações.

Quem mais confronta o presidente é Carlos Pareja Yannuzelli, o ‘Capaya’, ex-ministro de Hidrocarbonetos de Correa. Tirado do cargo em 2015 por suspeitas de corrupção na Petroecuador, a estatal de petróleo, ele  deixou o país no final do ano passado, se dizendo ameaçado.

De Miami (EUA), criou um Twitter chamado ‘Capaya Leaks’, em que expõe acusações contra o ex-presidente e sua equipe em tom dramático. Correa e seu vice, Jorge Glas, “sabiam tudo” sobre os casos de corrupção do país, segundo o ex-ministro.

Como os ataques cresceram perto do primeiro turno das eleições, em 19 de fevereiro, Correa lembrou, em seu Twitter, a capa da Revista ‘Veja’ no Brasil às vésperas das eleições de 2014. A edição estampava, com base no doleiro Alberto Youssef, que os ex-presidentes Lula e Dilma “sabiam de tudo” sobre a corrupção na Petrobras. “Seguirão lançando ‘bombas’ midiáticas sem provas até as eleições”, escreveu Correa.

O clima hostil também deu origem a informações falsas. No final de março, circulou pela internet uma suposta lista com todos os subornados pela Odebrecht, que aparentava estar alojada no site do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. Uma  busca na página bastaria para descobrir que a tal lista não existia, mas os principais jornais do país fizeram questão de esclarecer a farsa.

O resultado do segundo turno, entre Lenín Moreno (situação) e Guillermo Lasso (oposição), não saiu até o fechamento desta edição.

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História turbulenta

A Odebrecht chegou ao Equador em 1987. Nestes 30 anos, fechou 15 contratos, três dos quais ainda vigoram. A construtora teve obras em estradas e no setor de petróleo, mas a atuação mais forte foi em serviços hídricos e de irrigação, o que incluiu três transposições de rios.

Nem tudo correu bem nas  últimas três décadas. Em setembro de 2008 a Odebrecht foi expulsa do Equador. Menos de um ano após ter sido concluída pela empreiteira – com aporte de US$ 241 milhões do BNDES –, a Hidrelétrica de San Francisco, na região central do país, interrompeu suas operações por problemas técnicos.

Na crise que gerou a expulsão, o governo equatoriano recorreu a órgãos internacionais de arbitragem para não pagar a dívida com o BNDES, e sem informar antes ao Itamaraty. O episódio gerou um atrito diplomático entre o Equador e o Brasil, que chegou a convocar o embaixador para consultas.

No documento em que revela os US$ 33 milhões pagos na era Correa, os EUA afirmam que a empresa fez repasses em espécie a um funcionário do governo para “resolver problemas” ligados à hidrelétrica.

Só no país andino, a Odebrecht teve US$ 608 milhões de financiamento do BNDES para cinco obras. A empreiteira e o governo fizeram as pazes em 2010 e desde então assinaram mais seis contratos.

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As relações voltaram a estremecer no fim de 2016. A exemplo de outros países da América Latina, o Equador tenta fechar um acordo para que a empresa confesse os crimes e os processos comecem antes de 1º de junho – data em que vence o período de confidencialidade sobre a corrupção internacional do grupo. Mas as negociações estão travadas mesmo após quatro reuniões entre os procuradores e a Odebrecht.

O Procurador-geral do Equador, Galo Chiriborga, afirma que a empreiteira “quer um acordo sem entregar informação alguma, que o Estado declare que todas as contratações com a empresa foram regulares, e que não se possa, depois da assinatura, pedir mais informações ou cobrar indenizações”.

Por precaução Chiriborga pediu – e a Justiça aceitou – o bloqueio de US$ 40 milhões que a Odebrecht tinha a receber por obras já feitas. A ideia é que o dinheiro sirva de indenização caso o acordo não saia do papel.

O próprio procurador, porém, não está livre de desconfiança pública, já que ocupou cargos no Executivo por muitos anos e foi ministro de Minas (na época Minas e Petróleo) no governo Correa.

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