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Alvo do Caso Odebrecht na Guatemala está foragido da Justiça

planeta-odebrecht-seloTrês meses depois de a Odebrecht revelar ter pago propinas em 11 países além do Brasil, os efeitos já são bem visíveis – na forma de prisões e acordos judiciais – em vários deles, mas em poucos o roteiro é tão mirabolante quanto na Guatemala.

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No país de 16 milhões de habitantes, ao sul do México, eis os principais suspeitos do Caso Odebrecht: o ex-presidente Otto Molina, que renunciou e está preso, seu ex-ministro Alejandro Sinibaldi, foragido em lugar desconhecido – o que não o impede de se defender pelo Twitter – e mais de 100 deputados. Um rol de dar inveja à ‘Lista de Janot’.

As investigações estão no início, mas as autoridades já desconfiavam da Odebrecht antes que se revelasse, no final de 2016, que a empreiteira pagou US$ 18 milhões em propinas na Guatemala.

A Odebrecht chegou à Guatemala em 2012, conquistou apenas um contrato – a revitalização de uma estrada – e pagou as propinas de 2013 a 2015.  Nenhum país  teve crimes da construtora em um tempo tão curto e com um histórico tão recente.

Há investigações contra a Odebrecht na Guatemala desde agosto de 2016, mas o Ministério Público local não é dos mais transparentes.

Em protesto contra a falta de respostas e aos gritos de “ladrões” e “sem-vergonhas”, mais de 10 mil pessoas marcharam pela capital no dia 7 de março. Em um país onde metade do povo vive na zona rural, o ato foi convocado por camponeses, e os cartazes contra a corrupção se misturavam aos que pediam medidas como a reforma agrária.

“O governo prometeu corrupção zero, mas não cumpriu. Mentiram para nós”, diz o agricultor Romulo Cruz López, do Codeca (Comitê de Desenvolvimento Campesino), que liderou o protesto.

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Apesar de o atual presidente, Jimmy Morales, também ser alvo da ira dos manifestantes, dois analistas ouvidos pelo Metro Jornal consideram que ele esteja “limpo” no caso Odebrecht.

Quem deverá se enrolar é o ex-presidente Molina. Toda a propina foi paga no governo dele, que começou em 2012 e terminou em 2015, de forma melancólica: em 3 de setembro daquele ano, ele se apresentou à polícia para ser preso, um dia após renunciar. Ele e a vice, Roxana Baldetti, são acusados de liderar um esquema de corrupção na arrecadação de impostos.

Mas o nome mais visível da Lava Jato na Guatemala é Alejandro Sinibaldi, ex-ministro de Comunicações, Infraestrutura e Moradia (uma pasta tripla). Vários indícios apontam que ele foi o destinatário, pelo menos inicial, de US$ 11,5 milhões.

Sua história foi ainda mais incrível do que a de Molina. Em 2015, ele desistiu da candidatura à presidência durante a campanha. Um ano depois, em junho de 2016, foi emitido um mandado de prisão contra ele – que figura em quatro denúncias de corrupção – mas já era tarde: havia saído do país e desde então está foragido, e não se sabe onde. Os palpites de repórteres ouvidos pelo Metro Jornal são Itália e Miami (EUA).

Mesmo procurado, Sinibaldi não deixou de se pronunciar. No final de janeiro, escreveu em seu Twitter que as autoridades violam sua presunção de inocência ao “politizar, midiatizar, julgar e sentenciar” os casos.

E por que não rastreiam o computador e descobrem o paradeiro dele? “Isso foi perguntado, mas ninguém deu uma resposta a respeito”, diz Jessica Gramajo, repórter do jornal Prensa Libre.

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Aval para obra teria rendido propina a deputados

O único contrato que a Odebrecht firmou na Guatemala foi para reformar 140km da estrada Cocales–Tecún Umán, que desemboca na fronteira mexicana, no sudoeste do país.

A obra entrou na mira do Ministério Público em agosto de 2016, quando um deputado da oposição, Roberto Villate, afirmou que mais de cem colegas teriam recebido até 250 mil Quetzales (cerca de US$ 40 mil) cada um para votar projetos de interesse do governo. Jornalistas ouvidos pelo Metro Jornal dizem que o número é exagerado e não passaria de 15 parlamentares.

O detalhe: uma das medidas era a aprovação do aporte de US$ 280 milhões que a Odebrecht contraiu com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)  para a obra. Como a dívida com o banco recai sobre o governo, a operação precisa de aval prévio do Congresso. A ‘mini-propina’ de US$ 40 mil por deputado teria saído dos US$ 11,5 milhões recebidos pelo ex-ministro Alejandro Sinibaldi.

O mesmo Sinibaldi autorizou, em 2013, uma mudança no contrato que aumentou o valor pago à Odebrecht por quilômetro executado na revitalização da estrada.

Mesmo com essa benesse, a empreiteira concluiu menos de 40% da obra, parada desde 2015. Um ano depois o contrato foi suspenso pelo governo, que estuda fazer nova licitação. 

 

Outro lado da história – Palavra da Odebrecht

Procurada pelo Metro Jornal, a Odebrecht “reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça” e informa que  “já possui entendimentos avançados com alguns países da América Latina para esclarecer os atos praticados pela companhia” em cada local.

 

‘Planeta Odebrecht’, por Rafael Neves, mostra a cada semana a Lava Jato em um país. O Equador é o próximo. 

 

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