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Há 30 anos no Peru, Odebrecht responde por casos de corrupção; entenda

planeta-odebrecht-seloEm junho do ano passado, o parlamentar peruano Juan Pari Choquecota apresentou ao Congresso do país o relatório de uma comissão de investigação – espécie de CPI – sobre suspeitas de propinas pagas no Peru por sete empreiteiras brasileiras. O documento de 650 páginas era baseado em dados da Lava Jato.

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Mais de seis meses depois, o destino desse documento foi semelhante ao da maioria das CPIs brasileiras: a gaveta. “Foi feito o relatório, mas sentimos muito pouco ânimo dos congressistas em seguir adiante com as investigações. Pareciam estar com medo do que poderiam encontrar”, diz Walter Albán, diretor executivo da Proetica, o escritório peruano da Transparência Internacional.

O que os políticos locais não esperavam era que os Estados Unidos divulgassem, em dezembro, que a Odebrecht confessou ter pago US$ 29 milhões (R$ 89,5 milhões no câmbio atual) em propinas no Peru de 2005 a 2014, período em que – segundo a CPI peruana – a construtora obteve US$ 12,8 bilhões em contratos públicos.

Nestes anos o país teve três presidentes: Alejandro Toledo (2001-06), Alan García (2006-11) e Ollanta Humala (2011-16). Os três governos estão envoltos em suspeitas.

Toledo é, no momento, o mais encrencado. Acusado de receber US$ 20 milhões por ajudar a Odebrecht a ganhar o contrato de parte da Rodovia Interoceânica, que liga o litoral peruano ao Acre.

No último dia 9, o juiz Concepción Carhuancho pediu a prisão de Toledo, mas ele se recusa a se entregar e tem se defendido publicamente até no Twitter. O ex-presidente diz que o “investigam há 11 anos sem achar nada”, e que é alvo de uma “caça às bruxas”. Toledo, que atua como professor visitante na Universidade Stanford, na Califórnia (EUA), tentou asilo em Israel, mas foi barrado. A Justiça peruana já informou que pedirá a extradição dele.

Além disso, o país vive a mesma expectativa da política brasileira: o levantamento do sigilo das delações dos 77 executivos da Odebrecht. “O assunto ocupa a agenda política e econômica diária e ameaça derrubar grande parte da classe política e o empresariado do país”, avalia Luis Carlos Arias, diretor de redação do Metro Jornal em Lima, capital peruana.

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Outro lado: Odebrecht diz que aprimora práticas éticas

Por meio de nota, a Odebrecht informou que “vem cooperando com autoridades brasileiras e estrangeiras para o avanço das investigações em curso. A extensa colaboração promovida demonstra o seu entendimento por uma necessária mudança de postura na relação entre entes públicos e privados. A empresa vem adotando as medidas necessárias para aprimorar seu compromisso com práticas empresariais éticas e de promoção da transparência em todas as suas ações”.

Outras empreiteiras na mira

O Peru aparece na Lava Jato desde 2014, mas foi a prisão de Marcelo Odebrecht, em junho de 2015, que avolumou os indícios sobre o país.
Uma das planilhas apreendidas na 14ª fase da Lava Jato foi a famosa “Posição Programa Especial Italiano”, que aponta, segundo a investigação, aportes de R$ 128 milhões que a empreiteira fez a pedido do ex-ministro Antonio Palocci em nome do PT.

Uma das anotações da planilha é “Programa OH”, ligado a um repasse de R$ 4,8 milhões. Seria uma referência a Ollanta Humala, último presidente antes do atual, Pedro Pablo Kuczynski, o PPK.

A imprensa peruana suspeita que isso não seja uma propina exatamente, mas uma ajuda à campanha de Humala. Outras gigantes da construção no Brasil também são investigadas. Um delator da Lava Jato no Brasil, o advogado Roberto Trombeta, disse ter transferido US$ 5,76 milhões do Peru para uma conta bancária em Andorra controlada por ele. De lá, não se sabe o destino final do dinheiro.

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Esta é a primeira reportagem da série ‘Planeta Odebrecht’. Além do Peru, o Metro Jornal vai narrar as investigações em Angola, Argentina, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Moçambique, Panamá, Rep. Dominicana e Venezuela, uma vez por semana.

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