Divulgadas durante períodos eleitorais em todo o mundo, as pesquisas de intenção de voto costumam incendiar campanhas e influenciar eleitores. Feitas por institutos de pesquisas de opinião pública (como Ibope, Datafolha e Vox Populi) a pedido de veículos de comunicação ou entidades representativas (como as confederações nacionais da Indústria e de Transportes), as pequisas no Brasil precisam ser registradas na Justiça Eleitoral para serem divulgadas.
Mas como são feitas as pesquisas de intenção de voto nas eleições presidenciais no país? Geralmente, envolvem entrevistas a algumas centenas de pessoas. O número varia de acordo com o instituto e com o cliente que encomendou o trabalho.
A pesquisa Vox Populi divulgada no dia 15 de setembro, por exemplo, ouviu 2 mil eleitores. Já a Ibope encomendada pela TV Globo e pelo jornal O Estado de S.Paulo, divulgada no dia seguinte, envolveu 3 mil eleitores. A Datafolha de 11 de setembro, por sua vez, entrevistou 10,5 mil pessoas.
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Os números podem parecer pequenos, diante do universo eleitoral brasileiro de quase 143 milhões de pessoas, mas os institutos de pesquisa garantem que são suficientes para representar os eleitores do país e retratar, considerando-se as margens de erros e os intervalos de confiança, as intenções de voto dos brasileiros.
O segredo, explicam os institutos, está na escolha dessa amostra, que não tem nada de aleatória. Trata-se de um trabalho estatístico que busca dividir o eleitorado de acordo com critérios como sexo, idade, escolaridade, ocupação e espaço geográfico. O pressuposto é que eleitores com características semelhantes tendem a ter a mesma preferência política.
“Se a sua amostra é bem calculada e os indivíduos são capazes de constituir uma miniatura do conjunto da sociedade, a tendência é que o comportamento desses indivíduos se reproduza para o conjunto. Existe uma analogia que se faz que é o exame de sangue. Você não precisa tirar todo o sangue do indivíduo para saber quais as características. Você tira só alguns mililitros”, explica o diretor do Vox Populi, João Francisco Meira.
O Vox Populi, por exemplo, divide sua amostra em cinco estratos: idade, sexo, escolaridade, renda e ocupação. Já o Ibope divide em apenas quatro: idade, sexo, escolaridade e ramo de atividade. A partir de informações da Justiça Eleitoral e de pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como o Censo e a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), é possível conhecer o perfil do eleitor em cada cidade e estado.
Então, de acordo com o tamanho da população, do número de homens e mulheres, das principais ocupações e do grau de escolaridade daquele local, o instituto divide a amostra geograficamente. Por exemplo, se um determinado local for predominantemente agrícola, a amostra daquela região terá mais empregados da agricultura do que da indústria ou de serviços. Se no local, o perfil da população é de escolaridade mais baixa, a amostra terá mais entrevistados nessa faixa de escolaridade. E assim sucessivamente.
Dependendo do número de eleitores, um local pode ter uma amostra mais estratificada do que outro. Tanto o Ibope quanto o Vox Populi ouvem eleitores nas capitais e no interior. Cidades grandes, como São Paulo, podem até ser divididas em zonas.
Estados menores têm peso menos relevante. Na pesquisa presidencial do Ibope, por exemplo, os estados do Amapá, de Roraima e de Rondônia se revezam em cada pesquisa. Já o Vox Populi faz a pesquisa em 25 unidades da Federação – Roraima e Amapá não entram porque têm menos de 1% do eleitorado, portanto um percentual inferior à margem de erro da pesquisa, que é 2 pontos percentuais.
Definida a amostra, o próximo passo é preparar o questionário e abordar os entrevistados. As pesquisas são feitas nos domicílios ou na própria rua, desde que a pessoa more na zona previamente estabelecida para o trabalho.
“Nas eleições, temos que ter o cuidado de fazer a pergunta de forma totalmente isenta. A pessoa começa fazendo a pergunta [para que seja respondida] de forma espontânea. Daí a gente apresenta um disco [uma figura em forma de círculo] com os nomes dos candidatos, de modo que não prioriza nenhum dos candidatos. O entrevistador entrega para a pessoa, que lê os nomes e diz em quem vai votar. O entrevistador não faz nenhuma leitura dos nomes”, explica o diretor de Opinião Pública, Política e Comunicação do Ibope, Hélio Gastaldi.
A pesquisa, em geral, é feita em dois ou três dias. Segundo Gastaldi, o difícil é encontrar pessoas que se enquadrem nos estratos pré-determinados. “O trabalho do investigador é muito difícil. É um trabalho duro. Ele tem que ter muita disposição. Os questionários são de rápida aplicação. O entrevistador demora muito mais tempo procurando as pessoas, batendo nos domicílios ou abordando as pessoas”, disse.
Como qualquer trabalho estatístico, as pesquisas de intenção de voto estão sujeitas a margens de erro. Nas pesquisas de intenção de voto para presidente, em geral, a margem de erro é 2 pontos percentuais para mais ou para menos. Isso significa que se um candidato tem 35% das intenções de voto na pesquisa, ele tem, na prática, algo entre 33% e 37%.