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Novembro Azul: Especialistas respondem dúvidas sobre câncer de próstata

Quando Ubiraci Rodrigues descobriu seu câncer de próstata, aos 51 anos, o diagnóstico parecia uma “morte iminente”. O pequeno tumor foi descoberto por meio do exame de toque, um dos três que faz rotineiramente para prevenir a doença — uma ecografia da região e um exame da enzima antígeno prostático específico (PSA) não haviam detectado o câncer.

Mas a impressão inicial não se confirmou. Descoberto precocemente, o tumor de Ubiraci respondeu bem ao tratamento, e o paciente acabou não precisando de cirurgia ou qualquer procedimento invasivo. Hoje com 56 anos, ele mantém acompanhamento semestral com o urologista e segue sua vida normalmente: “O médico me fala que provavelmente não vai ser o câncer de próstata que vai me matar, já que está estável por todo este tempo”.

O Instituto Nacional do Câncer (Inca) prevê que, apenas em 2020, mais de 65 mil brasileiros receberão o mesmo diagnóstico que Ubiraci encarou há cinco anos. No entanto, cerca de 15,5 mil deverão desenvolver um quadro fatal do câncer de próstata — segundo maior causador de mortes em homens, atrás apenas do câncer de pulmão.

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A descoberta nos estágios iniciais é importante fator para a cura, mas requer realização frequente dos exames. O urologista Anibal Branco, do hospital curitibano Marcelino Champagnat, conta que o tratamento não é apenas menos efetivo com o diagnóstico tardio, mas também mais invasivo: “Quando a doença é descoberta em um estágio mais avançado, o tratamento acaba sendo muito mais agressivo, comprometendo a produção de testosterona e elevando os riscos de doenças cardíacas, impotência sexual e distúrbios cognitivos”.

Neste ano, a proposta de conscientização do Novembro Azul ganha urgência. “A preocupação com a covid-19 tem comprometido a detecção precoce”, alerta Cynthia Lemons, oncologista do Hospital Samaritano Higienópolis. “Apesar de ainda não termos dados concretos, há expectativa  de que a pandemia favoreça o diagnóstico tardio da doença, uma vez que muitos pacientes não têm realizado seus exames.”

Somando o tabu relacionado aos exames de próstata, o desconhecimento sobre este tipo de câncer e as particularidades do período de pandemia, o número de brasileiros sem a sorte de Ubiraci Rodrigues pode crescer em 2020. Para aumentar a consciência sobre tais riscos, o Metro consultou especialistas para responder as dúvidas mais frequentes sobre o câncer de próstata.

Novembro Azul: perguntas e respostas sobre o câncer de próstata

Como nasce um câncer na próstata?
A próstata é uma glândula do tamanho de uma noz, localizada abaixo da bexiga, em frente ao reto e envolvida pela uretra — o canal por onde passa a urina. Ela é responsável por produzir o líquido que compõe o sêmen e, como qualquer parte do corpo, está em constante reposição de células. Estas células podem começar a se multiplicar de forma desordenada, originando um tumor; sem tratamento, estas células “malignas” podem cair na corrente sanguínea e chegar a outros órgãos, iniciando um estágio mais avançado da doença — a metástase.

Ter caso na família aumenta meu risco?
Sim. Como o câncer de próstata está relacionado a fatores genéticos, a hereditariedade é importante fator para aferir sua propensão — se você tem pai, irmão, tio ou qualquer parente paterno ou materno com a doença, vale um cuidado especial. Quando o câncer atinge um parente de primeiro grau antes dos 65 anos, o risco é ainda maior.

Câncer de próstata só aparece em idosos?
Não. Pessoas de todas as idades devem ficar atentas, mas o risco aumenta com o envelhecimento — a doença costuma ser diagnosticada a partir dos 50 anos, idade em que a Sociedade Brasileira de Urologia recomenda iniciar exames, mas pode acometer pacientes na faixa dos 40. O oncologista Raphael Brandão explica que, além da idade, são fatores de risco para o câncer a obesidade, o sedentarismo, o consumo de bebida alcoólica e cigarros, além de alimentações ricas em gordura e alimentos ultraprocessados.

Quais sintomas posso sentir com o câncer de próstata?
Embora muitos casos sejam assintomáticos, alguns desconfortos podem ser identificados por certos pacientes. Lemos conta que, caso o crescimento da próstata comprima o canal da uretra, o indivíduo experienciar maior urgência para urinar, ou fluxo de urina reduzido. O urologista Nilo Jorge Leão, do Instituto Baiano de Cirurgia Robótica, aponta outros sintomas como presença de sangue na urina ou sêmen, disfunção erétil, dores no quadril e dormência nas pernas e pés.

Posso fazer exames apenas se tiver sintomas?
Não! Segundo o urologista Anibal Branco, aqueles que não realizam exames anualmente correm grande risco, porque o câncer de próstata não causa sintoma algum nas fases iniciais, quando é mais manejável. “Normalmente quando aparece algum sintoma, já aconteceu a metástase para o osso e a partir desse momento não tem mais cura.” A dosagem da enzima PSA no sangue é um dos principais exames, pois seu nível aumenta no caso de alterações na próstata. No entanto, existem tumores malignos que não aumentam o PSA, e são detectados apenas com o exame de toque.

Quão desconfortável é o exame de toque retal?
Especialistas reiteram que o procedimento é indolor, e dura apenas alguns segundos. Ele também é absolutamente necessário para a avaliação da próstata, segundo a oncologista Cynthia Lemos, pois detecta alterações que outros exames podem deixar passar.

Fatores de risco

Caso na família
Diagnósticos de câncer de próstata em parentes de primeiro grau significam risco dobrado para desenvolver a doença

Idade
Cerca de 60% dos quadros de câncer de próstata são identificados em homens acima de 65 anos; pacientes abaixo dos 40 são mais raros

Mutações genéticas
Os genes BRCA-1 e BRCA-2 podem sofrer raras alterações hereditárias, que representam maior risco para câncer de próstata, mama e ovários

Dieta (em estudo)
A relação ainda está sob estudo, mas há indício de dietas abundantes em gordura animal e carne vermelha aumentam o risco para câncer de próstata

Obesidade (em estudo)
Embora não haja comprovação de maior risco para a doença em pessoas obesas, este grupo é mais propício a desenvolver uma forma mais agressiva do câncer


*Com supervisão de Luccas Balacci.

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