Estilo de Vida

Isolamento social é oportunidade para se desconectar da internet

Em tempos de pandemia, controlar o tempo conectado pode ser bom, já que o uso excessivo de internet traz consequências para a saúde

No mundo inteiro, o isolamento social motivado pela pandemia está deixando muita gente atrás das telas por mais tempo do que o normal. Na Europa, onde a crise chegou há mais tempo, houve aumento de 10% a 20% no consumo de internet, segundo a empresa especializada Cloudflare. Porém, não é de hoje que o excesso de conectividade traz problemas.

“As pessoas estão passando por um momento bem delicado, em que suas rotinas foram transformadas, há muitas incertezas – isso por si só já gera ansiedade, medo, angústia. Essas informações e estímulos excessivos – Whatsapp, redes sociais – potencializam ainda mais esses sentimentos. As pessoas acabam tendo pensamentos negativos que não conseguem controlar”, afirma a psicóloga Thaiana Brotto.

Ela também conta que consumir informações exageradamente pode ser uma forma de querer ter controle sobre uma determinada situação. No entanto, às vezes, há um efeito contrário do esperado.

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“O excesso de controle, de querer saber, provoca mais ansiedade e não traz benefício nenhum, porque a situação não está no nosso controle”, diz. “Todos precisam saber o que está acontecendo, mas fazer com que isso tome conta do seu dia vai trazer prejuízo”, acrescenta.

Sempre online

De acordo com estudo da Universidade de Hong Kong, 6% da população mundial está viciada na internet, representando cerca de 460 milhões de pessoas demasiadamente conectadas pelo globo.

Outra pesquisa, conduzida nos EUA e no Reino Unido, revelou que sete em cada grupo de dez pessoas já tentaram moderar seu consumo digital de alguma forma, e uma em cinco já experimentou um detox digital.

Sair: clique

Um estudo em conjunto das universidades de East Anglia, Greenwich e Auckland examinou um pequeno grupo, enviado a uma viagem livre de tecnologia. A maioria dos participantes que ficaram offline por mais de 24 horas disse ter aprendido mais sobre lugares turísticos e as praias, porque se via na obrigação de conversar com outros viajantes e pessoas locais.

Os benefícios do detox digital e um crescente número de casos de pessoas viciadas fizeram surgir várias opções de tratamento. Existem terapias psicológicas, aparelhos, apps e até mesmo clínicas especializadas.

“Tais coisas podem ajudar a estabelecer limites e fronteiras, o que é bom. Mas para que realmente funcione, é preciso querer se desconectar”, explica o autor de livro sobre o tema e jornalista Blake Snow (veja entrevista ao lado).

“A pessoa deve encontrar hábitos de desconexão agradáveis e excitantes para preencher o vazio deixado por distrações digitais”, conclui.


MALES DIGITAIS

Estes são alguns dos possíveis efeitos na saúde do vício em internet, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde):

SAÚDE FÍSICA

Sedentarismo
Associado, por exemplo, com uma dieta deficiente, diminuição do tempo de sono e condição física insuficiente, está relacionado com obesidade e sobrepeso

Visão
Pode provocar sintomas como fadiga ocular, olho seco, dor de cabeça, visão borrada e duplicada

Problemas muscoesqueléticos
Manter uma postura fixa durante uso prolongado de dispositivo pode causar ou exacerbar sintomas muscoesqueléticos

Audição
Dispositivos eletrônicos podem gerar níveis sonoros prejudiciais à audição, relacionados a danos permanentes

Lesões e acidentes
Uso de dispositivos enquanto se realizam outras tarefas propicia lesões e acidentes

Infecções
Higiene insuficiente e o uso compartilhado de dispositivos permitem a propagação de patógenos e enfermidades infecciosas.

SAÚDE PSICOSSOCIAL

Assédio cibernético
O novo tipo de assédio está associado a uma série de graves consequências psicossociais

Desenvolvimento social
Pode causar uma retração no campo social e se tornar obstáculo para o desenvolvimento de aptidões sociais, como a interação cara a cara

Privação do sono
Se relaciona com a privação do sono, que afeta o crescimento e o desenvolvimento de crianças e adolescentes

Condutas sexuais de risco
O conteúdo sexual e o aumento de sua disponibilidade na internet propiciam comportamentos sexuais de risco, como pedofilia

Comportamentos agressivos
O conteúdo violento de vídeos e jogos online pode ter efeitos adversos no comportamentos de crianças, adolescente e adultos


Entrevista – Blake Snow

Autor de ‘Log Off: How to Stay Connected after Disconnecting’.

O excesso de internet nos faz mal. Por quê?
Não é minha opinião, há uma quantidade esmagadora de pesquisas que provam que a socialização virtual não é substituta da real. Na verdade, é ainda pior, já que o rolar infinito de telas faz sentirmos que a nossa vida é pior em comparação com a dos outros ou faz o mundo parecer muito pior e assustador do que realmente é.

No mundo moderno, você acha que é possível se desconectar de verdade?
Como destacado no meu livro, não só conseguimos nos desconectar, nós podemos prosperar offline achando um bom equilíbrio. Smartphones, internet e redes sociais não são ruins por si só. Mas podem ser se deixarmos. O truque é colocar barreiras para que elas trabalhem para a gente em vez de interromper e ditar nossas vidas diárias.

E clínicas que curam o vício?
Elas podem ser boas, especialmente em casos extremos. Mas o paciente precisa verdadeiramente querer isso e procurar substitutos offline para reduzir o tempo de tela.

Me conte sobre sua experiência.
Ninguém morre desejando ter passado mais tempo online. Devemos fazer planos e preencher nosso dia com objetivos offline. Além de desligar alertas, temos que procurar hobbies offline e paixões que nos excitem para continuar longe da tela. É difícil. As mentes mais inteligentes do Vale do Silício estão todas conspirando contra e tendo sucesso em nos fazer clicar e rolar por várias horas. Mas é possível.

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