Não se viu nada igual antes. Até hoje o esquema tático influencia os treinadores mais modernos. E já se passaram 5 décadas: Brasil, tri no México em 1970. Confira abaixo o especial:
ANÚNCIO
Cabeça
Ainda no campo de defesa, Gerson rolou para Clodoaldo, que driblou um, dois, três, quatro italianos. O relógio cravava 41 minutos do 2º tempo quando o volante abriu na esquerda para Rivellino, que tocou para Jairzinho achar Pelé na entrada da área. O Rei só rolou para Carlos Alberto Torres chegar como um raio para finalizar com força e cravar 4 a 1 na final da Copa do México de 1970. Era a terceira estrela no peito brasileiro, que completa exatos 50 anos neste domingo.
O gol que encerrou os trabalhos do tri é exatamente a imagem mais fiel que se pode ter daquele esquadrão. Apesar de cinco décadas decorridas daquele 21 de junho no estádio Azteca, a mistura de futebol-arte, potência física e resultado provou que ele é tão moderno hoje como era em 70.
Recomendado:
Efeito Gracyanne: seguidor sugere que Endrick, do Palmeiras, abra os olhos para mensagens da namorada com personal trainer
Rayssa Leal conquista etapa da Liga Mundial de Street Skate
Defesa de Dani Alves custou caro, diz revista especializada
Moderno e inovador. O “culpado” se chama Mário Jorge Lobo Zagallo. À frente do selecionado no lugar de João Saldanha a menos de três meses antes da abertura do Mundial, o Velho Lobo teve personalidade para revolucionar na montagem da equipe. Foi quando ele anunciou aos jogadores que o time seria: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Pelé e Tostão.
Zagallo havia colocado Rivellino na ponta esquerda na vaga de Paulo Cézar Caju; inventou Tostão como o atacante mais perto do gol – mais até do que Pelé –; e recuou Piazza da volância para a zaga para a entrada de Clodoaldo no meio. Nos termos de hoje, Tostão seria o “falso 9”. Tudo com muita movimentação e sem posição engessada dos homens de frente.
Para Clodoaldo, a lendária Holanda de 1974, “Laranja Mecânica”, jogava nos moldes dos brasileiros de 1970. Mas não foi só o famoso time de Johan Cruijff que bebeu da ideia. Outro exemplo era o “insuportável” tiki-taka estabelecido por Pep Guardiola no Barcelona entre 2008 e 2012, que fez o time dominar o cenário da bola. As referências vão entre o equilíbrio do “Carrossel Holandês” de Rinus Michels, decorrente do time de 1970, com a própria Seleção Brasileira de 1982, eliminada pela Itália na Copa da Espanha.
Pulmão
O triunfo histórico rende a Zagallo e seus comandados os merecidos louros. Mas existe um fator “invisível” que também teve muito peso na conquista. Claro que comparando com o futebol de mais embate físico de hoje em dia, os jogos da Copa de 1970 parecem estar em câmera lenta. Mas não se engane: a preparação física do grupo foi muito trabalhada.
O time se reuniu no dia 12 de fevereiro e permaneceu assim até 1º de maio, um mês antes da estreia. Ao chegar ao México, cerca de três semanas antes do início, a escolha foi pela cidade de Guanajuato, que tinha altitude compatível com as partidas que o Brasil disputaria.
Todo o plano, porém, havia sido desenhado por João Saldanha, com o auxílio de Lamartine Pereira da Costa, oficial da Marinha que tinha sido observador da Olimpíada na Cidade do México dois anos antes. O trabalho previa menos bola e mais treinos de resistência e condicionamento, além do isolamento em cidades mais altas. O Velho Lobo era contrário à ideia, mas foi convencido pelo preparador físico Admildo Chirol, que tinha como assistentes Carlos Alberto Parreira e Cláudio Coutinho.
O resultado foi que, além de ganhar na bola, a Seleção também se sobressaía pelo físico. Prova disso é que dos 19 gols que o Brasil anotou nos seis jogos que disputou, 12 saíram no 2º tempo.
Coração
Além de superar as outras 15 seleções para conquistar o tricampeonato, o Brasil também teria que vencer a desconfiança por conta do fracasso do time comandado por Vicente Feola na Copa anterior, de 1966, na Inglaterra, quando caiu ainda na 1ª fase. Brito, Gérson, Tostão, Jairzinho e Pelé eram remanescentes em 70 e ainda não haviam digerido o revés na Inglaterra. Semanas antes do Mundial, inclusive, o Rei praticamente cravou sua despedida após a disputa do México.
Mas não era só esse o fantasma que assombraria a Seleção. Quis o destino que o Uruguai entrasse no caminho, na semifinal. Com ele, o “Maracanazo”, como foi batizada a derrota por 2 a 1 para a Celeste no primeiro Mundial realizado por aqui, em 1950, e que já completava 20 anos na ocasião. Nas entrevistas pré-jogo, os brasileiros se diziam calmos. Só que, quando a bola rolou, era como se Ghiggia e companhia estivessem do outro lado, e a tensão, confessou Clodoaldo, tomou conta da Seleção em campo.
E foi o próprio camisa 5 que marcou um gol surpreendente aos 44 minutos da etapa inicial, que fez o placar igualar em 1 a 1. Para que, no 2º tempo, o time se reencontrasse e exorcizasse mais um fantasma com a vitória por 3 a 1.