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Galo e retranca

Há certo ruído na maior parte dos debates futebolísticos no Brasil quando os assuntos são algumas desgastadas dicotomias: “beleza” ou “eficiência”, “reativo” ou “propositivo”. Muita gente, ao abordar estes temas, embola o meio de campo todo, faz associações não necessariamente verdadeiras entre estes adjetivos.

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Não existe problema em priorizar a defesa e os contragolpes. Mas se você se limita a esperar demais o oponente, sem aptidão para evitar que ele crie um considerável número de oportunidades, sem escape para incomodar minimamente nas transições em velocidade, e/ou despido da capacidade para respirar um pouco com a posse, você provavelmente precisará da sorte além do recomendável. Logo, a estratégia não terá sido bem executada. O defeito, nestes casos, objetivamente falando, não é que o time em questão não “jogou bonito”. Tampouco a inadequação a um estilo X ou Y, idealizado por determinadas correntes. O ponto central é que, neste cenário descrito, no fundo, você não está sendo “pragmático” – e sim ampliando o risco de derrota. Foi o que ocorreu com o Galo clara e recorrentemente nos primeiros tempos contra Grêmio e Santos, pelo Brasileiro. E aqui nem cabe dizer que esta tem sido uma faceta comum do trabalho de Rodrigo Santana. Em outras oportunidades, seja controlando as ações tentando se impor, seja com uma postura mais cautelosa e eficaz, verdadeiramente segura, o Atlético teve boas atuações sob seu comando. Desde que ele chegou, sem dúvida, a equipe está mais organizada. Fica apenas a lição: não há receita de bolo; o time pode jogar mais recuado, de forma mais cautelosa, ou agredir mais; o que não dá, todavia, é para ultrapassar certa linha tênue e abdicar em demasia do jogo. De um jeito ou de outro, ainda que o combate, a neutralização do adversário seja a prioridade, ao menos em algum grau, se você não atacar – nem que seja por meio de estocadas pontuais –, sua ideia não é inteligente nem para se defender.

Numa das melhores passagens do livro “Klopp”, de Raphael Honigstein, publicado recentemente no Brasil pela editora “Grande Área”, Peter Krawietz, auxiliar do badalado treinador alemão, afirma: “O sistema por si só não é realmente importante no futebol. Ser treinador é tentar fazer com que o futebol, um jogo baseado em inúmeros eventos aleatórios, seja menos aleatório; dando uma força para a sua própria sorte”. Tostão sempre diz coisas nessa linha na sua coluna na Folha. Levando uma dose desse raciocínio para o tema específico desta coluna, sustentaria o seguinte: se você se defende na maior parte do tempo, e ao recuperar a bola, se perde num “bate e volta” sem fim, sendo martelado o tempo todo, ainda que seja competente na marcação, aumenta até a chance de o acaso, o circunstancial jogar contra você – numa confusão na área, num chute desviado… Nada contra a retranca e/ou um comportamento tático, digamos, menos “assertivo” de um time dentro da partida. Mas com algum respiro estes procedimentos se tornam, inclusive, mais prudentes.

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