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Arthur e Guardiola

Quando se fala de volantes, normalmente limita-se a cacoetes. “Sai para o jogo”, “brucutu”, “pegada”, “fraco na marcação”… Há muito mais, claro, a ser observado.

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Arthur, do Grêmio, é exímio passador. Chega bem ao ataque. Possui grande técnica, habilidade. Se nos apegarmos aos clichês, dá para dizer que preenche todos os requisitos de um volante moderno, talentoso. Noves fora todos os predicados gerais listados deste atleta, porém, eis sua característica que mais me impressiona: a capacidade de, pressionado, manter a tranquilidade e encontrar soluções. O combate chega forte; mais de um adversário apertando com vigor, velocidade; parece que não haverá remédio: Arthur terá de dar um chutão, perderá a bola, se embaralhará de alguma maneira – não por culpa própria, e sim por méritos dos oponentes. Não é o que ocorre. Ele encontra uma saída. Gira para um lado. Caso necessário, roda para o outro. Esconde a gorduchinha. Mantém o controle. Acha os espaços, descobre um passe útil, que garante sua equipe ainda na fase ofensiva. Tudo isso se materializa em grau e com traços que denotam não apenas aptidões, digamos, diretamente futebolísticas. Apreendendo as sutilezas, as entrelinhas, percebe-se um preparo emocional, uma força mental para não sucumbir à pressão – num sentido amplo – que mandam para escanteio qualquer preocupação com uma possível imaturidade – oriunda da juventude. Na melhor das acepções, Arthur desfila em campo como um veterano.

Não me sinto tão seguro para avaliar de maneira nitidamente apropriada o futebol de Fred, do Shakhtar. Já o observei, claro, em alguns jogos da Champions League e pela seleção. Mas sei lá… Sem a devida sequência, o foco correto. Tudo de forma um tanto errante, esporádica. Pelo que conheço, todavia, a impressão é favorável. E o decantado endosso/interesse de Guardiola me dá a melhor das sensações. Não somente por um viés rasteiro: elogio de um cara famoso, muito qualificado. Não. Um meio-campista da estirpe de Fred, de sua posição receber o aval do técnico catalão seria como um artista de folk angariar o apreço de Bob Dylan; um compositor de óperas gozar da estima de Wagner; um escritor colher louvores vultuosos de Proust: Guardiola é a expressão máxima da mais profunda compreensão dos jogadores desta função, da competência de com eles criar algo tão único quanto consistente e belo. Sua filosofia, seu gênio passam de diversos modos pela maestria com que utiliza este tipo de peça em seu xadrez.

Quase todo mundo avaliou a ausência de Arthur na lista numa espécie de exercício comparativo com Fred. Ou um, ou outro. Pela percepção que tenho do primeiro, pelo feeling que carrego em relação ao segundo, e, óbvio, por uma análise dos dois nomes que citarei, fico com a sensação de que o jovem gremista poderia ter sido selecionado no lugar de Renato Augusto ou de Taison – eu sei, características e posições diferentes, no caso deste último; ainda assim…

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