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Arco, flecha, terra e morte

lizemara-pratesO primeiro contato que tive com índios foi em gravuras nos livros ilustrados na pré-escola. Logo em seguida, aprendi que eles foram os primeiros habitantes do Brasil identificados pelos nossos descobridores. A indumentária indígena fazia parte das comemorações do Dia do Índio, em 19 de abril. E ponto.

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Confesso que sempre desejei ver um índio caracterizado. Na primeira vez que fui ao Tocantins, em 2000, me preparei para vê-los. Eles não apareceram. Pelo menos não como eu imaginava, com suas vestes tradicionais. Os vi numa balsa e em uma escola. Todos aculturados. O mais perto que cheguei de uma tribo autêntica foi na Ilha do Bananal. Mas, muito à distância.

Os índios estão presentes em todo o país. Não só nas proximidades da Amazônia. Estão aqui no Rio Grande do Sul. Em comunidades indígenas ou em acampamentos onde esperam demarcação de áreas para se instalarem. A demarcação das áreas é de competência da União que tem a tarefa de resgatar um compromisso histórico. Mas, também de respeitar a Constituição. E o direito de propriedade. Há comunidades centenárias no interior do Estado, com propriedades escrituradas que passaram de pai para filho. Ali estabeleceram-se agricultores, a maioria pequenos, que cultivam a terra e criam animais. Formaram família. Alavancaram a economia de municípios com poucos habitantes.

É o caso de Faxinalzinho, a 420 quilômetros de Porto Alegre, no norte gaúcho, onde dois irmãos agricultores foram mortos no dia 28 de abril, quando tentavam desobstruir uma estrada para levar alimento aos suínos que passavam fome na propriedade. O bloqueio de estradas é uma das estratégias adotadas pelos indígenas para pressionar a demarcação.

No centro desta polêmica, o principal personagem é o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Acusado de negligência por ambos os lados. No meio, uma comunidade amedontrada e uma administração temerosa com os efeitos econômicos. O município tem 2.570 habitantes, 25% deles na zona rural. A disputa envolve 2.700 hectares de terra. O comércio fechou por alguns dias. As aulas foram suspensas. A cidade está congelada. E este é apenas um caso. Que dura 12 anos.

A expectativa é pelo avanço de uma solução com a vinda do Ministro ao Estado. E se ele vai ouvir os dois lados. Há importantes argumentos por parte dos índios e dos agricultores que devem ser levados em conta. Acima de tudo, o respeito à lei e a preservação da vida.

Lizemara Prates é jornalista do Grupo Bandeirantes de Comunicação. Apresenta o AgroBand, na TV Band, e tem comentários diários sobre agronegócio na Rádio Bandeirantes e na BandNews FM. Escreve no Metro Jornal de Porto Alegre

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