O Japão está vivenciando seus verões mais extremos desde que os registros de temperatura começaram em 1940. O calor não é apenas desconfortável: ele mata. Em 2023, pelo menos 263 pessoas morreram de exaustão pelo calor, a maioria idosos. O mais desconcertante? Em mais de 60% dos casos, elas tinham ar-condicionado... mas não o usavam.
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O motivo? Não é tão simples quanto pensar “eles estavam apenas com frio”. Décadas de cultura de consciência energética, casas com isolamento térmico inadequado e uma relação tensa com os custos de eletricidade entram em jogo aqui. Alerta de spoiler: eles estão finalmente começando a largar o botão de ligar.
Um país quente desconfiado do frescor artificial
Se o ar se torna irrespirável no verão, por que algumas pessoas ainda não ligam o ar-condicionado? O grande problema é que muitas casas no Japão são construídas com paredes leves, sem isolamento térmico. O resultado: o que você resfria no verão ou aquece no inverno… desaparece em minutos.
Isso transforma o ar-condicionado em um consumidor implacável de energia. Estima-se que manter uma casa “fresca” pode ser responsável por até 30% do consumo de energia. E quando se trata de casas antigas, a situação piora ainda mais.
Muitas pessoas — especialmente idosos — simplesmente não o usam. Por hábito, medo da conta... ou porque sempre foi assim.
O governo diz: “Por favor, liguem!”
Em 2022, o governo japonês começou a reagir. Primeiro, com regulamentações mais rígidas para tornar as novas casas mais eficientes em termos de energia. Depois, lançando subsídios para que as casas existentes pudessem pelo menos atualizar suas janelas (sim, vidros duplos são uma revolução por lá).
O problema? Substituir um estoque habitacional de 54 milhões leva tempo... e dinheiro. Muito dinheiro.
Diante da emergência climática, Tóquio optou por uma estratégia mais direta: convencer as pessoas a usar ar-condicionado. Neste verão, o governo metropolitano cobrirá a taxa básica de água de junho a setembro para mais de 7 milhões de residências.
Por que água? Porque, com menos gastos com serviços, eles esperam que as pessoas percam o medo de ligar aquele bendito ar-condicionado.
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Uma solução imperfeita, mas refrescante
Não é uma solução mágica, mas em um país onde o orgulho em resistir à onda de calor pode ser mais forte do que uma onda de calor, cada gesto conta. E embora o medo do ar-condicionado não desapareça da noite para o dia, pelo menos o Japão não o trata mais como um inimigo... mas como um aliado contra um inimigo ainda maior: as mudanças climáticas.

