Com o aumento dos dispositivos inteligentes nas residências, as preocupações com a privacidade e a recolha de dados continuaram a crescer. Já não são apenas os nossos telefones que mantêm registos detalhados das nossas atividades, mas também as smart TVs, que parecem estar a recolher muito mais do que os utilizadores pensam.
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O que é reconhecimento automático de conteúdo (ACR)?
Um estudo recente realizado por estudantes dos EUA, Reino Unido e Espanha revelou que os fabricantes de TVs inteligentes estão usando uma tecnologia chamada Reconhecimento Automático de Conteúdo (ACR) para monitorar o que os usuários assistem em seus dispositivos.
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O ACR permite que a TV colete dados não apenas sobre o que é assistido nas plataformas de streaming, mas também sobre a programação linear da televisão, os jogos disputados e até o tempo gasto assistindo a determinados conteúdos.
Que informações eles estão coletando?
Os resultados do estudo indicam que as smart TVs coletam uma ampla variedade de dados de visualização, incluindo:
- Programas de televisão lineares que são assistidos.
- Filmes e séries transmitidos em plataformas de streaming.
- Videogames jogados na tela.
- Tempo total de visualização de determinado conteúdo.
Com esta informação, os fabricantes criam uma impressão digital única para cada televisão, permitindo-lhes analisar com precisão os hábitos de consumo dos utilizadores. É importante ressaltar que mesmo que os usuários não utilizem os aplicativos internos da TV e conectem o dispositivo apenas através de uma porta HDMI externa, a TV continua coletando dados.
Na verdade, o estudo observa que “existe tráfego de rede ACR quando você assiste televisão linear ou quando usa uma smart TV como monitor externo usando HDMI”.
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E quanto aos termos e condições?
Um dos requisitos para que as smart TVs coletem essas informações é que o aparelho esteja conectado à Internet, algo essencial para o seu funcionamento. Além disso, na maioria dos casos, os utilizadores aceitam os termos e condições sem estarem plenamente conscientes do que isso implica para a sua privacidade. Uma vez aceites estas condições, os fabricantes podem começar a recolher dados de forma contínua.
Exceções à regra: e quanto ao Netflix e ao YouTube?
Embora a maioria das aplicações permita a recolha de dados, o estudo revela que existem algumas exceções. Por exemplo, Netflix e YouTube parecem ser aplicações onde não foi detectado tráfego de rede ACR, possivelmente devido a acordos especiais ou restrições técnicas. No caso da Netflix, a plataforma impede até mesmo a realização de capturas de tela de seu conteúdo, sugerindo um maior nível de proteção aos dados de seus usuários.
Capturas de tela: outro golpe na privacidade
Uma das revelações mais preocupantes do estudo é que algumas smart TVs fazem regularmente capturas de tela do que está sendo assistido.
Por exemplo, as smart TVs LG capturam imagens da tela aproximadamente a cada 10 milissegundos (equivalente a 100 capturas por segundo), enquanto as TVs Samsung capturam imagens a cada 500 milissegundos (2 por segundo). Essas capturas de tela são então enviadas ao fabricante como parte do tráfego ACR, fornecendo ainda mais detalhes sobre o que os usuários estão vendo.
Apenas LG e Samsung?
Embora o estudo tenha se concentrado em TVs inteligentes da LG e Samsung, há relatórios que sugerem que praticamente todos os fabricantes de TVs inteligentes estão implementando práticas semelhantes. Isto significa que, embora os métodos variem, a privacidade do utilizador está em risco na maioria dos dispositivos inteligentes que temos em casa.
O que pode ser feito?
Este estudo é mais um lembrete de que a privacidade doméstica está sendo cada vez mais violada com a introdução de tecnologia avançada. Apesar da comodidade que as smart TVs oferecem, os utilizadores devem estar conscientes dos potenciais riscos e considerar medidas adicionais para proteger as suas informações pessoais, como rever cuidadosamente os termos e condições ou desligar a TV da Internet quando não for necessário.
Com a evolução contínua da tecnologia e a expansão dos dispositivos inteligentes, é essencial que os consumidores estejam melhor informados sobre a forma como os seus dados pessoais estão a ser utilizados e quem tem acesso aos mesmos.