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Segurança é preso por morte de rapaz em estação de trem; ViaMobilidade demitiu seis funcionários

Marcos Mendes foi o agente flagrado com os joelhos sobre as costas de Jadson Pires, que não resistiu

Família questiona a forma com que ele foi imobilizado e pede a devida apuração
Jadson Vitor de Sousa Pires, de 30 anos, morreu após ser agredido por seguranças em estação da Linha 8-Diamante da ViaMobilidade, na Grande SP (Reprodução/Arquivo pessoal/Redes sociais)

O segurança Marcos Paulo Gonçalves Mendes foi preso pela morte de Jadson Vitor de Sousa Pires, de 30 anos, agredido na estação Carapicuíba da Linha 8-Diamante, da ViaMobilidade, na Grande São Paulo. O agente foi quem apareceu com os joelhos sobre as costas da vítima, enquanto ela já estava imobilizada. Após a repercussão do caso, a concessionária informou que demitiu seis funcionários envolvidos no caso (veja mais detalhes abaixo).

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A Polícia Civil pediu a prisão preventiva de Marcos Paulo, além dos seguranças Davi Reinaldo Mendes e Evandro de Sousa Gomes. No entanto, a Justiça aceitou a solicitação apenas contra o primeiro citado.

Os três prestaram depoimento no 1º Distrito Policial de Carapicuíba, na tarde de quarta-feira (4), quando Davi e Evandro foram liberados. Já Marcos Paulo saiu do local algemado e foi levado para a cadeia da cidade.

Outros dois guardas civis municipais de Itapevi, na Grande São Paulo, que também aparecem nas imagens que mostram as agressões contra Jadson, foram chamados para prestar esclarecimentos. Eles devem ser ouvidos nos próximos dias.

As defesas dos seguranças não foram encontradas para comentar o assunto até a publicação desta reportagem.

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Demissão dos seguranças

Após a repercussão do caso, a ViaMobilidade informou que os seguranças que atuam nas empresas do grupo CCR passariam por um processo de reciclagem. Porém, na noite de quarta-feira, o diretor da ViaMobilidade, André Costa, disse à TV Globo que os seis envolvidos na abordagem foram demitidos.

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“Nós queremos expressar o nosso profundo pesar pelo falecimento do Jadson, expressar a nossa solidariedade à sua família. A ocorrência do dia 11/11 foi registrada imediatamente, os agentes foram imediatamente afastados. Nós abrimos uma sindicância interna, além de apurar e contribuir ativamente nas investigações abertas pela instituição, pela autoridade competente”, disse Costa.

“Todo esse processo de sindicância interna, concomitantemente à investigação foi concluído com a avaliação de tudo o que aconteceu, de todas as práticas, de todas as execuções e atividade de procedimentos e treinamentos. E o recebimento do laudo do IML que corroborou às conclusões que nos levaram a decidir pelo desligamento imediato de todos os colaboradores envolvidos”, justificou o diretor da ViaMobilidade.

Costa destacou que a apuração interna constatou que “nenhum dos procedimentos praticados correspondem aos treinamentos e procedimentos que são ministrados constantemente a todos os colaboradores”.

“Nenhuma daquelas ações, nenhuma daquelas atividades estava prevista e foram executadas em desacordo com os nossos processos e procedimentos. Na nossa sindicância a gente conseguiu apurar todas essas questões e nos levar à conclusão de fazer esse desligamento de todos os envolvidos”, argumentou.

Morte de Jadson

O caso ocorreu no último dia 11 de novembro, mas só agora as imagens foram reveladas. Os laudos periciais sobre as causas da morte ainda não ficaram prontos, mas um médico legista que participou dos trabalhou revelou que Jadson teve costelas do lado direito quebradas, além de apresentar escoriações no antebraço direito, mão direita e nos dois joelhos.

Conforme divulgado pela TV Globo, Jadson morreu por asfixia mecânica em decorrência de esganadura, em razão das agressões.

Renata Santos de Sousa, viúva de Jadson, contou que o marido tinha sido demitido recentemente e, naquela data, saiu de casa para dar entrada no seguro-desemprego e sacar o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Ela relatou que ele não era usuário de drogas e que “era um trabalhador”.

“Ele tinha acabado de sair da empresa, tinha 11 dias que ele tinha acabado de sair da empresa. Ele saiu no dia 30 de outubro. Eu só fui conseguir ter contato com ele a tarde, que ele tinha dito que tinham roubado a moto dele. Ele tinha uma moto que foi roubada. Nisso, eu não tive mais contato com ele. Ele desligou o celular”, relatou a esposa.

A mulher disse, ainda, que buscou respostas sobre o que tinha acontecido com Jadson na estação de trem, mas só após ver o vídeo foi entender o que realmente aconteceu.

“Não justifica o que fizeram. Ele podia está ali sob efeito de droga, como estão falando. Podia estar sob efeito de álcool. As pessoas que atenderam ele não tiveram nenhum sentimento humano com ele. De entender, explicar para ele: ‘Olha, eu posso te ajudar?’ Não. Já foram agredindo ele. Eu estou juntando força de onde não tem para correr atrás da Justiça”, lamentou Renata.

Uma testemunha do caso disse que os agentes de segurança agiram com violência. “Ele não estava violento, estava apenas assustado. Aparentava com certeza estar drogado ou bêbado, não precisava fazer aquilo que fizeram com ele. Era só imobilizar o rapaz e tentar acalmar ele e tudo resolvia. Ele chegou para nós e pediu ajuda lá, pediu ajuda pra todo mundo e falou assim: ‘quero água. Me dá um copo com água?”, relatou à TV Globo a testemunha, que não quis ser identificada.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que as imagens foram analisadas pela polícia, que intimou os envolvidos para os devidos esclarecimentos sobre os fatos. A pasta destacou, ainda, que os laudos periciais solicitados estão em elaboração e serão anexados ao inquérito assim que concluídos. Por fim, a SSP-SP esclareceu que a natureza inicial da ocorrência poderá ser alterada se surgirem novas evidências.

Já a ViaMobilidade lamentou a morte do passageiro e disse que repudia qualquer forma de violência. Informou também que abriu uma sindicância interna para apurar o caso e que os agentes envolvidos foram preventivamente afastados das funções. A companhia ressaltou que o “homem de camiseta preta é Agente da Guarda Civil que estava em atuação à paisana, sem qualquer relação com a operação da concessionária”.

“A companhia informa que repudia qualquer forma de violência e que o comportamento dos profissionais que atuaram na contenção de Jadson Pires não corresponde aos seus valores, treinamento e padrão dos seus procedimentos de segurança e atendimento. (...) Diante dos recentes acontecimentos, deu início a um processo de reciclagem de 100% do seu quadro de agentes e reforçará a capacitação voltada ao atendimento de pessoas em situação de vulnerabilidade ou sob o efeito de substâncias entorpecentes”, disse a ViaMobilidade.

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