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Hospital das Clínicas desenvolve tratamento inédito e domiciliar contra depressão; projeto busca voluntários

Terapia une estimulação transcraniana por corrente contínua e atividades cognitivas

Depressão Pixabay/Divulgação

O IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) desenvolveu um tratamento inédito e domiciliar para tratar a depressão que combina a ETCC (estimulação transcraniana por corrente contínua) e atividades cognitivas. Voluntários estão sendo recrutados para testar a novidade, oferecida de forma gratuita.

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«Esta é a primeira vez que vamos testar a eficácia da ETCC em casa. Existem várias pesquisas anteriores sobre o método, mas até então em ambientes hospitalares», explica Lucas Barrione, psiquiatra e pesquisador do Serviço de Neuromodulação do IPq.

Funciona da seguinte forma: o paciente selecionado passa por uma primeira consulta presencial, onde recebe um aparelho e suas informações de uso. Trata-se de um dispositivo simples e intuitivo, que se conecta ao celular. A aparência é de um pequeno capacete, no qual ocorre a transmissão de uma corrente elétrica de baixa intensidade, correspondente a gerada por uma pilha. O procedimento é indolor.

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Divulgação

O paciente deve se submeter à terapia por cerca de 30 minutos diários. Enquanto faz uso do aparelho, deve acessar um aplicativo que engaja a atenção durante a estimulação.

«O que observamos é que a corrente modula o funcionamento dos neurônios em partes do cérebro atingidas pela depressão. De forma contínua e repetitiva, ela proporciona o equilíbrio em áreas hipoativas e hiperativas», afirma Barrione.

A ETCC é um método aprovado recentemente pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e que ainda é pouco usada nos serviços de saúde. Visto ainda como um tratamento alternativo, o acúmulo de evidências e pesquisas na área pode mudar as recomendações quanto a sua prática. A estimulação magnética, por exemplo, outra técnica de neuromudulação, já é indicada pelo Conselho Federal de Medicina. O ETCC pode seguir o mesmo rumo.

Quem pode ser voluntário

O estudo busca reunir 210 participantes, entre 18 e 59 anos, que tenham recebido diagnóstico de depressão leve ou moderada.

Voluntários estão sendo recrutados desde maio. Cada interessado passa por uma avaliação para que a equipe médica ateste se ele tem ou não condições de participar do estudo.

Os participantes podem ou não tomar medicações para controle da depressão. Quem faz uso de remédios, inclusive, pode mantê-los durante o estudo.

«As evidências indicam que a ETCC pode potencializar a ação de medicamentos como pode também ser alternativa às pessoas que não toleram os efeitos colaterais dos remédios», diz o psiquiatra.

Duração do estudo

Médico Pixabay/Divulgação

Nas primeiras seis semanas, a pesquisa será randomizada, o que significa que alguns receberão placebo e outros o tratamento ativo. Ao final deste período, o paciente será informado sobre qual das duas alternativas foi o seu caso. Ele pode, então manifestar interesse em participar da fase aberta, ou seja, receber – ou continuar recebendo – a terapia de fato pelos próximos meses.

A longo prazo, o objetivo do estudo é fazer com que a terapia domiciliar seja reconhecida. Antes disso, alguns passos precisam ser dados: terminar o estudo por completo, analisar os resultados, publicá-los em revistas científicas e divulgá-los por meio da mídia. O processo é coordenado por um comitê de ética.

Barrione conta que a pesquisa começou antes mesmo da pandemia. Por coincidência, a fase de testes coincidiu com a necessidade do isolamento social. «Além de não demandar a ida ao hospital, a vantagem do tratamento domiciliar é que o paciente pode escolher o momento que estiver mais tranquilo para realizar a sessão. Pode ser durante um intervalo ou à noite. Esse regime confere mais liberdade», avalia.

Interessados devem inicialmente responder ao questionário que consta neste link.

Mais informações sobre o Serviço Interdisciplinar de Neuromodulação do IPq podem ser obtidas aqui.

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