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‘Professora’ para o Google é ‘prostituta’? Entenda a polêmica e o que dizem os dicionários

Reprodução/Google

Conhecemos a palavra «professora» como sinônimo para termos como educadora, instrutora, docente, mentora. Alguém a quem devemos boa parte de nosso conhecimento e até nossa formação pessoal. No entanto, até a tarde desta quarta-feira (23), um segundo e polêmico significado também era exibido pela ferramenta «Dicionário» do Google.

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Google exibe definição de

Sob a classificação de «brasileirismo« – um termo regional utilizado por alguns brasileiros –, a ferramenta de busca exibia a seguinte definição quando se buscava por «professora»: «prostituta com quem adolescentes se iniciam na vida sexual«.

Procurada, a assessoria de imprensa da Google Brasil justificou que trabalha com conteúdos de dicionários parceiros: «Os resultados incluem usos coloquiais que podem causar surpresa, mas não temos controle editorial sobre as definições fornecidas por nossos parceiros que são os especialistas em linguagem».

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Ainda, a empresa consultou os responsáveis pelo conteúdo exibido nas buscas e, ainda nesta quarta, decidiu remover a definição que colocava «professora» como sinônimo a «prostituta».

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A decisão veio após a Oxford University Press – que abastece a ferramenta com definições de palavras – remover a definição polêmica de sua base.  É trabalho da OUP fazer a curadoria do conteúdo de diversos dicionários, e, por vezes, são inclusos nos resultados termos que podem ser considerados ofensivos.

«Esta definição [de «professora»] veio de uma fonte confiável e foi classificada uma gíria regional, entretanto, não a consideramos popular ou relevante o bastante para que seja mostrada de maneira tão proeminente», explicou a OUP.

A partir da tarde de quarta-feira, ao pesquisar pela definição de «professora» no Google, um único significado é exibido: «mulher que ensina ou exerce o professorado«.

Definição de professora em resultado do Google, após retirada do significado polêmico

Dicionários tradicionais utilizados no Brasil, entretanto, partiram em defesa da definição.

O que diz o Aurélio?

Em nota oficial, o dicionário Áurelio, que também traz a gíria em sua explicação de «professora», afirma que «inserir um regionalismo como uma das acepções possíveis para uma palavra é ação natural de um dicionário, que deve apresentar o maior número possível de significados para um termo».

«Esse fato é ainda mais evidente quando se fala de uma obra que tem como uma de suas principais características registrar, por meio de verbetes, a cultura regional de um país tão vasto quanto o Brasil. Só no Aurélio 5ª edição, há cerca de 9.000 brasileirismos. Todas essas palavras fazem parte da Língua Portuguesa que, a exemplo de qualquer língua, é viva e tem inúmeras nuances», continua o Aurélio.

No entanto, na oitava edição do Mini Aurélio – versão adaptada para o público infanto-juvenil –, o verbete “professora” tem apenas uma acepção: “mestra”.

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Houaiss concorda

Para o dicionário Houaiss, seu papel é apenas «registrar o que encontra no uso da língua», e não cabe a ele esconder ou eliminar palavras «desagradáveis ou insultuosas». «Os dicionários não usam as palavras que registram para ofender, menosprezar ou caçoar de ninguém. São como um espelho que reflete os conceitos mais nobres e belos, tanto como os mais agressivos e grosseiros que encontram, e fazem-no cientificamente, sem julgamento de valor».

Em nota, a equipe recupera o uso da definição de «professora» como referência à prostitutas que «iniciam a vida sexual» de alguém no livro de Jorge Amado, «Dona Flor e seus dois maridos», de 1966. «Tal acepção pejorativa é similar às que existem em outras palavras da língua, como judeu, cigano etc., que traem preconceitos às vezes seculares, mas que os dicionários mais completos não podem deixar de registrar, por fazerem parte da história dessas palavras».

O Houaiss também sai em defesa de outros dicionários que trazem a mesma definição para o verbete: «Todos nós a registramos, porque dicionário algum desse porte oculta sentidos de teores negativos. Varrê-los para debaixo do tapete não significaria eliminá-los da língua, infelizmente.

O Sindicato dos Professores discorda

O posicionamento do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, no entanto, rejeita a defesa. «Parece que até o Google resolveu se juntar aos recentes ataques aos professores e à Educação. Desta vez, o alvo são as mulheres».

A categoria ainda afirma disposição para exigir, frente à Justiça, a remoção do significado – que já foi retirado do Google, pouco após o pronunciamento do sindicato. «Não vamos admitir esse tipo de ataque e vamos tomar as medidas judiciais cabíveis para que a palavra professora figure no Google, na literatura e na mente de cada um com o seu correto significado. Afinal, somos nós, mulheres – a maioria dentro dessa profissão – que formamos as futuras gerações, apesar de totalmente abandonadas pelo Estado.»

O Metro Jornal procurou, ainda, a Academia Brasileira de Letras para contribuir ao debate. Acompanhe esta nota para futuras atualizações.

 

 

 

 

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