A cada notificação, Flávia Costa desbloqueia a tela do celular para conferir as mensagens do WhatsApp. Entre os grupos com familiares e amigos, a política é o tema que domina os compartilhamentos. “Mas nem sempre participo. Quase sempre são notícias falsas”, contou. Um estudo realizado por pesquisadores da UFMG e da PUC Minas mostrou que essa é a rotina diária de quem usa a ferramenta: os assuntos relacionados às eleições e ao cenário político do Brasil dominam as conversas.
De acordo com o doutorando em Ciências da Computação na UFMG Josemar Alves, as análises ocorreram em pelo menos 60 grupos de WhatsApp por quatro meses – eles foram postados na internet com links de participação e a entrada não depende de autorização de um administrador. “Os dados foram coletados de grupos do Brasil, Índia e Indonésia, locais que mais utilizam a ferramenta. Percebemos que a maioria das mensagens de texto e vídeos compartilhados era sobre política, diferentemente dos outros países, onde os temas dominantes falam sobre propagandas e anúncios”, explicou o especialista.
As expressões mais recorrentes eram os presidenciáveis Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL), além dos ex-presidentes Lula e Dilma (PT). Também há citações sobre golpe e impeachment.
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“No Brasil há um maior uso da rede, então as pessoas ficam mais tempo on-line e produzem um conteúdo maior. Todos os dados da pesquisa são anônimos e não há armazenamento do telefone ou sobre quem escreveu”, enfatizou.
Na mão de poucos
O estudo apontou ainda que há dominância de poucos usuários no compartilhamento de informações e notícias. “São pessoas que dominam o debate. Elas estão frequentemente on-line e participam de tudo. As mensagens eram ligadas tanto ao espectro da esquerda quanto da direita”, afirmou Alves. Os pesquisadores também compararam os grupos políticos com os não políticos e os resultados demonstraram que os que falam sobre eleições e temas relacionados são mais movimentados.
Um levantamento realizado pelo Datafolha em agosto revelou que 62% dos eleitores usam o WhatsApp e outros 20% contam com a plataforma para compartilhar informações sobre o pleito deste ano. Já outros 55% estão no Facebook e 72% declararam acessar a internet. Deste total, um a cada cinco entrevistados faz a propagação de notícias falsas nas redes.
“O contexto da pesquisa não é só caracterização que fizemos do WhatsApp, mas também investigação sobre o compartilhamento de fake news e discurso de ódio. Esse será o próximo passo”, adiantou Josemar Alves.