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Polícia muda versão e diz que ciclistas que davam volta ao mundo foram assassinados no México

Autoridades locais disseram inicialmente que o polonês Krzysztof Chmielewski e alemão Holger Hagenbusch haviam caído de um penhasco após perderem o controle da bicicleta. Após pressão de familiares e ciclistas, novas investigações apontam que eles foram roubados e mortos por criminosos.

Investigadores mexicanos confirmaram que dois ciclistas europeus encontrados mortos no sul do país não haviam sofrido um acidente, como a polícia concluiu inicialmente, mas que foram assassinados.

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Os corpos do alemão Holger Hagenbusch e do polonês Krzysztof Chmielewski foram localizados sob um penhasco entre as cidades de Ocosingo e San Cristóbal de las Casas, no Estado de Chiapas.

Autoridades locais disseram inicialmente que os dois haviam caído depois de perder o controle das bicicletas.

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Parentes e outros ciclistas, entretanto, desconfiaram de que a versão da polícia estivesse errada – e pressionaram por um aprofundamento das investigações.

O novo promotor especial encarregado do caso, Luis Alberto Sánchez, declarou, nesta sexta, que Hagenbusch e Chmielewski morreram durante o que parece ter sido um assalto.

«Nossas investigações até o momento indicam ter sido um homicídio doloso», afirmou.

O que aconteceu?

O corpo de Chmielewski foi encontrado primeiro, 40 metros abaixo da rodovia, no dia 26 de abril.

Hagenbusch foi achado oito dias depois, em 4 de maio, um pouco mais abaixo do barranco, mas sob a mesma rodovia que liga as cidades de Ocosingo e San Cristóbal de las Casas, no extremo sul do país.

O chefe da promotoria regional em Chiapas, Arturo Pablo Lievano, afirmou na ocasião que não havia evidência de crime e que tudo apontava para um acidente. Ele disse que eles provavelmente perderam o controle e saíram da estrada após a passagem de um veículo.

Porém, o irmão Hagenbusch, Reiner, disse à imprensa alemã que acreditava que os dois tinham sido assassinados e que acreditava haver alguma tentativa de acobertar os acontecimentos.

Depois de viajar para o México para identificar o corpo do irmão, ele também obteve informações sobre Chmielewski.

«O ciclista polonês foi decapitado e estava sem um dos pés», ele escreveu no Facebook.

Após novas investigações, a polícia acredita que os dois foram atacados em 19 ou 20 de abril.

Chmielewski apresentava uma lesão na cabeça consistente com um ferimento a bala, disse Sánchez.

Além disso, seu corpo fora encontrado perto de uma bicicleta que não era a dele, mas do colega alemão – fato que levantou suspeitas.

Em entrevista à BBC Mundo (serviço em espanhol da BBC), o promotor especial afirmou que os assaltantes estavam provavelmente tentando encobrir seus rastros. «Quem fez isso quis fazer parecer se tratar de um acidente e colocou a bicicleta ao lado do corpo, mas cometeu um erro e usou a bicicleta do alemão», declarou Sánchez.

Quem eram os ciclistas?

Krzysztof Chmielewski, de 37 anos, era cidadão da Polônia e viajava o mundo de bicicleta há três anos.

Ele tinha visitado 51 países e, no último ano, havia passado pelo Canadá e pelos Estados Unidos antes de chegar ao México. O polonês planejava seguir viajando rumo ao sul, até a Argentina, e tinha quase chegado à Guatemala quando foi assassinado.

Holger Hagenbusch, alemão de 43 anos, também era um ciclista experiente. Já tinha passado por 34 países e viajava de bicicleta havia quatro anos, de acordo com as informações disponíveis em seu blog.

Ciclistas pintaram um anjo na rodovia em que os dois ciclistas foram atacados

Eles não haviam começado a viagem juntos, mas seus caminhos haviam se cruzado em Chiapas.

«Achamos que eles estavam viajando a uma curta distância um do outro, talvez um tenha sido atacado primeiro… e então o segundo poderia tê-lo alcançado na sequência e os dois teriam sido capturados», disse Sánchez à BBC.

Ele disse que alguns dos pertences dos dois haviam sumido.

«Foi prematuro classificar o que aconteceu de acidente. A bicicleta (que pertencia ao alemão) não tinha sinais de que havia sofrido um acidente de trânsito», ele acrescentou.

Homenagens

No dia 6 de maio, pessoas que estavam próximo de San Cristóbal de las Casa caminharam, com suas bicicletas, até o km 158 da rodovia em que os dois homens foram atacados.

Eles carregavam uma bicicleta pintada de branco – um gesto simbólico usado no mundo inteiro para homenagear ciclistas que morreram enquanto pedalavam – e pediram justiça para as duas vítimas.

O irmão de Holger Hagenbusch, Reiner, postou um agradecimento pelo gesto em sua página no Facebook.

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1660573234063488&set=a.684235981697223.1073741826.100003324832386&type=3&theater

O México tem lutado contra um aumento expressivo dos índices de homicídio.

O ano passado foi o mais violento no país desde o início da série de estatísticas oficiais, com mais de 25 mil assassinatos.

O crime organizado respondeu por cerca de três quartos do total, conforme os dados oficiais.

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