De acordo com uma pesquisa da National Library of Medicine, as mulheres são seis vezes mais propensas a serem abandonadas por seus parceiros quando enfrentam doenças graves como câncer ou esclerose múltipla. Esse fenômeno revela que a saúde pode ser um fator decisivo na dissolução de casamentos, especialmente em estágios posteriores da vida.
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Os números são preocupantes. Quando uma mulher adoece gravemente, as chances de separação aumentam para 20,8%, em comparação com 2,9% quando é o homem quem enfrenta a doença.
Por que isso acontece? Entre as razões mais comuns está a falta de habilidades de cuidado por parte dos homens. As mulheres, tradicionalmente vistas como as cuidadoras, frequentemente assumem esses papéis na relação, mas quando são elas que precisam de apoio, muitos homens não sabem como reagir.
Para melhor compreender esse fenômeno, conversamos com a Dra. Rosana Gonzáles, psicóloga do Centro Psicológico Ánimu, que explica que o abandono pode ser tanto físico quanto emocional.
Muitas mulheres que enfrentam doenças graves, como o câncer de mama, sentem-se isoladas e emocionalmente negligenciadas ou emocionalmente abandonadas por seus parceiros após o diagnóstico.
A Dra. Gonzáles destaca que essa desconexão emocional agrava os sentimentos de solidão e medo que já acompanham a doença. As mulheres podem cair em um ciclo de ansiedade e depressão ou até mesmo se fecharem tanto nessa dor de estar lutando que o parceiro se afasta e é aí que os relacionamentos começam a se desgastar, nesse processo.
Como lidar com o abandono?
A profissional mencionou que o abandono pode assumir muitas formas, pode ser um abandono emocional ou um abandono físico propriamente dito.
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Para as mulheres que enfrentam a dor do abandono enquanto lutam contra uma doença, uma rede de apoio sólida é crucial. Esta rede deve ser composta por pessoas que ofereçam carinho e conselhos para manter uma visão equilibrada da realidade, pois a doença pode distorcer a percepção das mulheres que estão passando por um câncer de mama, fazendo-as sentir que a morte ou a perda de seus projetos de vida são inevitáveis.
Além da rede de apoio emocional, os grupos de apoio, bem como espaços para serem ouvidas e a psicoeducação desempenham um papel essencial na redução da ansiedade. Informar-se adequadamente, sem depender de informações alarmantes na internet, ajuda a combater o medo do desconhecido, incluindo o medo da morte.
O valor de celebrar as pequenas conquistas
O abandono também pode afetar o autocuidado básico, como a higiene pessoal, o que por sua vez afeta a autoestima das mulheres. Ao perder sua rotina habitual e ver sua imagem se deteriorar, muitas começam a se sentir menos importantes ou amadas.
A Dra. González menciona que é importante validar as emoções durante este processo, pois celebrar pequenas conquistas ou aceitar a tristeza como uma emoção legítima permite manter a saúde mental. "O crucial é que após sentir tristeza, é preciso pensar em quais alternativas e opções temos para trabalhar e conseguir gerenciá-la", disse.
"Uma expectativa mal formulada pode ser o pior dos conselheiros"
Quando perguntamos a Rosana como as mulheres que enfrentam um câncer podem se preparar para o abandono, ela disse que uma das chaves é gerenciar as expectativas. Segundo a profissional, as mulheres não devem esperar que seu ambiente, incluindo seu parceiro, esteja sempre disponível, por exemplo "seu parceiro nem sempre poderá pedir permissão no trabalho, essa não é a realidade de todos", destacou.
A importância de não ser uma mulher maravilha
Além disso, é vital aceitar que nem todas as pessoas podem ou sabem como fornecer o apoio necessário. Portanto, mesmo que seja complicado, as mulheres devem saber comunicar suas necessidades e pedir ajuda para evitar carregar todo o peso emocional da doença.
Por último, a especialista enfatiza que uma doença grave não deve paralisar a vida nem fazer com que as mulheres percam sua autonomia. A capacidade de manter sua independência, mesmo que seja limitada, é fundamental para preservar a autoestima.
O medo e a incerteza: os inimigos invisíveis
O medo da morte é uma das emoções mais fortes enfrentadas por mulheres com doenças graves. Esse medo pode levá-las a processos depressivos ou gerar sintomas de estresse pós-traumático. Por isso, é importante identificar muito bem as emoções e expectativas de como essa mulher lidará e como poderão ajudá-la a lidar com tudo o que o diagnóstico de câncer envolve.
O importante é que as mulheres devem apoiar-se em redes sólidas, ter expectativas realistas e não perder de vista sua autonomia para passar por esta fase da melhor maneira possível.