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Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol?

Veja o relato de como é a paixão e a vontade de ser ser um jogador profissional e como os times de várzea ajudam a manter esse sonho

Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol?
Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Escola de Futebol Pequeninos do Aracati. (Foto: Luiz Lucas).

“Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol?” A frase clichê que virou até trecho de música não poderia representar melhor a infância das crianças brasileiras. Acompanhando desde pequeno os seus ídolos aparecendo na televisão e a torcida vibrando, é comum que as crianças tenham o sonho de estar naquela posição um dia. Porém, a minoria consegue.

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“Comecei a jogar futebol com seis anos de idade. Eu tinha muito vontade de ser um jogador profissional, mas não tive oportunidade devido meus pais não terem condições para uma escola de futebol naquela época”, diz José da Silva Santos, conhecido como Zezinho, hoje diretor e jogador do Flamenguinho, time de futebol de várzea da região do Jardim Ângela, periferia do extremo sul de São Paulo.

O início da caminhada para esse sonho sempre acontece nos bairros e escolas de futebol. A criançada correndo atrás de bola nas ruas antes era uma imagem comum de se ver, hoje nem tanto, mas isso não quer dizer que muitos ainda não pensem nessa carreira.

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As escolinhas de futebol também podem ajudar, mas como apontado por Zezinho, mas nem todas os pais têm condições de bancar as mensalidades. Por isso, alguns lugares contam com projetos sociais gratuitos ou com taxas pequenas, apenas para custear o material gasto, como aluguel do campo, lavagem de uniforme e compra bola. É o caso do projeto Pequeninos do Aracati, também do distrito do Jardim Ângela.

“O projeto surgiu em 1998, na época da copa do mundo. Montamos alguns times com nomes de seleções num velho campinho na comunidade. Depois formamos um time que chamava U.P.A (Unidos Por Acaso), mudamos novamente de nome e de lá pra cá começamos dar aulas como Pequeninos do Aracati. Hoje temos 80 crianças e o nosso objetivo é a inclusão dos jovem na sociedade através do esporte, principalmente o futebol. Aqui eles aprender a ter a responsabilidade, comprometimento, lealdade, humildade e o respeito com o próximo”, diz Mateus Ferreirade Oliveira, de 44 anos, bombeiro profissional, professor de educação física e técnico do time.

Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol?
Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Mateus é professor na Escola de Futebol Pequeninos do Aracati (Foto: Luiz Lucas).

Mateus e Zezinho também já tentaram seguir carreira como profissionais, mas não é uma tarefa fácil. “Tentei ser goleiro profissional nos anos 90. Fiz testes em alguns clubes mais não tive sucesso. A família também não ajudou porque naquela época o futebol não era visto com bons olhos”, desabafa Mateus. Já Zeziznho teve que abandonar o sonho para trabalhar. “Aos 14 anos percebi que não teria essa oportunidade, porque tive que deixar um pouco de lado os estudos e o futebol para trabalhar. Meu primeiro emprego foi em restaurante, tinha que ajudar na casa junto ao meu pai”, conta. Segundo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) em 2015, o país possuia 28.203 jogadores de futebol, com 23.238 (82,4%) ganhando até R$ 1.000.

E como explicar para uma criança que às vezes é preciso abandonar esse sonho? “Atendemos crianças de sete aos dezesseis anos. Para entrar no projeto precisa estar matriculado em uma escola e apresentar um atestado escolar a cada três meses. Também verificamos o boletim com as notas. Falamos muito sobre a importância dos estudo na vida de um cidadão e de um atleta, e tentamos mostrar que o futebol não é tudo. Para além dos sonhos e histórias de superação e sucesso, damos exemplos de alguns jogadores que não deram certo, que às vezes foram enrolados por um empresário ou um clube, etc.”, conta o professor Mateus.

Mas nem tudo está perdido. Mesmo não alçando o sonho de jogar em um estádio ou ser assistido por milhares de telespectadores, essas crianças e adolescentes pegam outro caminho para continuar com a bola no pé: o futebol de várzea.

Para o diretor do Flamenguinho, a paixão pelos times dos bairros tem é tão grande quanto a de futebol profissional. “Jogo na várzea desde os meus 16 anos e jogo no Flamenguinho desde da sua fundação, em 07/02/1999. Não tem palavras para descrever a paixão pela várzea, para mim é uma adrenalina diferente. É um meio de juntarmos o útil ao agradável. Você tira os adolescentes das ruas, leva seus filhos pra onde você realmente se identifica com todos. É um exemplo que não são apenas nos clubes de elite que temos uma torcida fanática, mas na várzea também. É muito mais que um jogo”, comenta José.

Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol?
Quem nunca sonhou em ser um jogador de futebol? Primeiro jogo do time Flamenguinho, em 07/02/1999. (Foto: arquivo pessoal).

Já Mateus diz que, atualmente, o futebol de várzea está um pouco mudado. “Tenho ainda a minha primeira medalha que ganhei. Sou da época que ganhar uma medalha era tudo na vida. Hoje o futebol de várzea virou negócio, pois para montar um time competitivo vai te que gastar muito dinheiro”.

Mesmo com a crítica o professor entende a importância do esporte para as periferias. “Costumo fala que o futebol de várzea é como uma válvula de escape: tem aquele atleta de final de semana, que trabalha a semana inteira sob estresse pensando no futebol do final de semana, para rever os amigos e fazer aquela ‘resenha’. Também tem aquele tio desempregado que gosta de apitar um joguinho pra pode levar um grana pra casa. Tem aquela tia com um monte de neto que espera chegar o final de semana pra armar suas barracas e vender um churrasquinho. Além disso, o futebol de várzea une todas as raças, todas as crenças, todos os gêneros” finaliza Mateus.

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