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Zé do Caixão: Paixão pelo cinema começou aos 12 anos; veja filmografia básica

André Porto/Arquivo Metro

José Mojica Marins, cineasta que inaugurou o gênero do terror no Brasil, e que ficará para sempre no imaginário coletivo pela projeção de seu personagem mais famoso, o Zé do Caixão, morreu nesta quarta-feira (190, aos 83 anos, vítima de complicações relacionadas a uma broncopneumonia. Mesmo quem nunca assistiu a qualquer filme  de Marins sabe quem ele é. Vestindo sua tradicional cartola e capa preta, a ostentar enormes unhas e uma barba espessa, ele assombrou a psique das crianças desde meados dos anos 1960, quando lançou “À Meia-Noite Levarei Sua Alma”.

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Nascido filho de pais circenses numa sexta-feira, 13 de março, em São Paulo, Marins ficou apaixonado pela sétima arte depois que sua família se mudou para o cinema do primo de seu pai, no bairro de Vila Anastácio. Com o pai trabalhando na gerência do teatro, o pequeno José literalmente morava atrás da tela grande. O fascínio pelo cinema e os quadrinhos formaram a base de suas criações.

Aos 12 anos, ganhou uma câmera de 8 mm de aniversário, Inspirado no “Apocalipse”, rodou o sinistro “O Juízo Final” (1949), com fundos arrecadados passando um chapéu pelo teatro e criando um “pedágio cultural” na rodovia Anhanguera junto com os amigos.

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Um pesadelo no qual uma figura sem rosto com capa apareceu para ele segurando uma lápide onde se inscrevia a data de seu nascimento e sua morte deu origem ao Zé do Caixão. O próprio Marins decidiu assumir o personagem e começar a filmar com um orçamento apertado, com pouco ou nenhum recurso. Exibido em pequenos teatros decadentes, “À Meia-Noite Levarei sua Alma” estreou em 1964. Explorava os piores temores do público, desdenhando da tradição religiosa e da moral. Em filmes subsequentes, como ”Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver” (1967), “O Estranho Mundo de Zé do Caixão” (1968), “Trilogia do Terror” (1968), “O Despertar da Besta” (1970) e “O Exorcismo Negro” (1974), a macabra figura virou ícone de horror sem igual.

José Mojica Marins experimentou uma espécie de renascimento após o lançamento do documentário intitulado “Maldito: O Estranho Mundo de José Mojica Marins” (André Barcinski e Ivan Finotti; 2000). Em 2008, “A Encarnação do Demônio” foi lançado com orçamento de R$ 1 milhão, o mais elevado para um filme de Zé do Caixão, que contou até com  figurinos do estilista Alexandre Herchcovitch.

Quando entrevistei o mestre em 2010, perguntei sobre alguma história que ainda gostaria de filmar. À ocasião, ele revelou o desejo de explorar o folclore nacional, e que adoraria poder contar a lenda mineira do Corpo-Seco, sobre Zé Maximiano, rapaz conhecido por brigar e agredir seus pais, que um dia morreu assassinado. Rejeitado por Deus e o Diabo, passou a assombrar a cidade na forma de um morto-vivo ambulante.

Seu filme mais recente saiu em 2015, dentro do projeto “As Fábulas Negras”, que reuniu importantes realizadores do terror nacional para dirigir cinco lendas do nosso folclore. Marins contribuiu com o segmento “O Saci”.

Filmografia básica de Zé do Caixão

À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964)

Marins dirige e estrela este filme alucinógeno sobre um agente funerário sádico que causa medo nas pessoas.

Esta  Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1967)

Segundo episódio da trilogia do Zé do Caixão, que mais ou menos repete a premissa do anterior. Zé busca mulher para ter um filho.

O Estranho Mundo de Zé do Caixão (1968)

Primeira colaboração de Marins com o autor Rubens Lucchetti, este filme marca a crescente propensão do diretor à estranheza.

O Despertar da Besta (1970)

O ícone do terror explora a cultura das drogas como só ele pôde nesse pesadelo surrealista. Psiquiatras se reúnem para debater as drogas recreativas como o LSD.

O Fim do Homem (1971)

Homem nu sai do mar, ajuda pessoas e se torna messias. Discursa por grande parte do mundo, antes de desaparecer tão estranhamente como surgiu.

Exorcismo Negro (1974)

Marins e seu alter-ego, Zé do Caixão, entram em conflito. Marins tenta impedir o casamento de uma moça prometica ao diabo.

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