Nem todo mundo riu com o escracho de “Amantes Passageiros” (2013), mais recente investida de Pedro Almodóvar na comédia. Talvez por isso o diretor tenha decidido voltar ao que aparentemente faz de melhor: retratar mulheres e seus conflitos com uma perspicácia única.
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Para criar “Julieta”, que estreia hoje, o espanhol se inspirou na obra da escritora canadense Alice Munro, prêmio Nobel de Literatura em 2013, conhecida por escrever contos cheios de humanidade sobre personagens que poderiam ter saído de quadros de Edward Hopper.
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O filme é uma compilação de três histórias presentes no livro “A Fugitiva”. Ele narra a trajetória da personagem-título, vivida por duas atrizes diferentes, apresentada em momentos distintos da vida.
Já na maturidade, Julieta (Emma Suárez) esbarra com uma antiga amiga de sua única filha, que não vê há mais de uma década. O encontro a faz retomar sentimentos adormecidos, relembrando a história que culminou no afastamento das duas.
É quando entra em cena Julieta jovem (Adriana Ugarte), carregando nas costas o envolvimento com um pescador casado (Daniel Grao), uma história de amor apaixonada e uma tragédia que muda o curso das coisas.
Almodóvar retoma aqui a sobriedade abandonada no filme anterior. Ele não se preocupa em julgar suas personagens. Seu trabalho é deixá-las revelar por si mesmas suas complexidades, por meio do primoroso trabalho de Suárez e Ugarte, que trabalham pela primeira vez com o diretor.
O longa disputou a Palma de Ouro no último Festival de Cannes, mas sua aparição na Croisette acabou ofuscada com a citação do espanhol no escândalo dos Panamá Papers, que envolvia políticos com contas não declaradas no exterior. Uma pena: “Julieta” pode não ser Almodóvar em sua melhor forma, mas é ainda um belo exercício de sensibilidade no cinema.
Veja o trailer de «Julieta»:
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