Por 40 anos, Dragon Ball estabeleceu o padrão para shōnen com histórias épicas e personagens inesquecíveis. Hoje, seu editor de longa data, Kazuhiko Torishima, está soando o alarme: a indústria de mangás optou por enredos curtos, ditados por análises frias, e sofre de uma fome por sucessos rápidos que condena novos títulos à extinção em menos de três anos.
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De lenda viva a crítico implacável
Torishima chegou à Shōnen Jump no início da década de 1980, aprimorando o talento de Akira Toriyama e orquestrando todos os aspectos de Dragon Ball, da criação de Goku ao planejamento de sagas como Freeza.
Sua mão firme transformou o que começou como um mangá modesto em um fenômeno global, inspirando gerações de artistas e escritores.
No entanto, em seu livro recém-publicado, o editor veterano não se furta a criticar o cenário atual:
- Confiança em dados: No passado, as decisões editoriais eram baseadas na experiência, intuição e proximidade com o leitor. Hoje, os números dominam, reduzindo o espaço criativo de manobra.
- Histórias de “fast food”: Enredos curtos, ciclos de publicação de menos de três anos e um desejo de “ficar viciado agora” que sacrifica o desenvolvimento dos personagens e reviravoltas impactantes.
- Expiração programada: Como um cardápio expresso, o desejo de atingir a máxima lucratividade imediata é esquecido, esquecendo-se o desejo de construir universos duradouros que ressoem ao longo do tempo.
Para Torishima, essa fobia de séries longas condena novas franquias a um sucesso passageiro. Os leitores, saturados de opções, logo mudam de um mangá para outro sem criar a conexão profunda que tornou Dragon Ball inesquecível.
One Piece e o momento da verdade
Nem mesmo One Piece, o gigante de Eiichiro Oda com mais de 1.000 episódios, escapa ao seu olhar crítico. Torishima afirma que:
“Se Oda tivesse começado hoje, teria recebido toneladas de dados e críticas antecipadamente. E isso o teria limitado, até mesmo forçado a cortar arcos inteiros.”
Sua crítica não é direcionada à genialidade de Oda, mas à política editorial da Shōnen Jump, incapaz de manter padrões artísticos além das vendas semanais. Com isso, ele enfatiza, a ambição de “contar uma grande saga” se perde e o mangá é reduzido a um ciclo de pesquisas e correções pseudoautomáticas.
Para onde vai o mangá?
Torishima pede uma mudança: reconquistar a confiança no autor, voltando a publicar histórias que cresçam organicamente, sem submeter cada página a avaliações rápidas. Só então, afirma ele, um fenômeno tão poderoso quanto Dragon Ball poderá renascer.
Em um mercado global que consome animes e mangás incansavelmente, seu alerta é claro: a pressa mata a maravilha. Se a indústria não reequilibrar intuição e análise, os mangás permanecerão presos ao nicho “fast food”, incapazes de forjar heróis e vilões que sobrevivam ao longo dos anos.
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Talvez seja hora de relembrar essa forma de trabalhar “às cegas”, guiada pelo amor à arte, e resgatar a grandeza das narrativas épicas que tocam corações para além da moda passageira.

