“Que recomendações os adultos nos davam quando nos mandavam à loja?”, é assim que começa um longo processo de pesquisa sobre violência digital em crianças e adolescentes que levou as integrantes da Associação Civil, Cultivando Gênero AC, a escrever um livro que se estabelece como uma ferramenta na qual pais e filhos conhecerão de forma dinâmica as ferramentas para evitar os riscos na rede informática.
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"A violência digital é qualquer tipo de agressão, violência que ocorre através do uso da internet, da tecnologia, dos videogames, das redes sociais, das plataformas. Ou seja, tudo isso que te faz sentir desconfortável, o que te faz sentir triste, o que te faz irritar e que está acontecendo em um telefone, computador ou em um videogame e está lá", explicou Angie Contreras, Membro do Conselho de Segurança do TikTok para a América Latina e o Caribe.
Angie Contreras e Lizet Romero são autoras do livro gratuito "Mães e pais no virtual, uma jornada para nos conectarmos", que falaram em uma entrevista com a Nueva Mujer sobre as ferramentas, prevenção e como identificar se as crianças e adolescentes estão sofrendo violência digital, o que tem levado 1 em cada 5 jovens a faltar à escola, de acordo com um relatório da ONU de 2023.
Este livro nasce da necessidade de acabar com a lacuna intergeracional, pois os mais jovens são os que conhecem mais sobre o acesso à internet e até mesmo táticas para prevenir perigos dentro dela, no entanto, os pais ficaram para trás, entendendo que uma forma de protegê-los é o 'controle parental', mas vai muito além disso.
Com uma pesquisa que envolveu o estudo de mais de 3000 crianças entre 9 e 12 anos, onde as autoras fizeram análises a partir de observações, conversas e dinâmicas com as crianças para conhecer suas preocupações e quantas delas se sentiram vulneráveis na internet.
"Podemos ter o melhor controle parental, o melhor antivírus, mas se alguém for criar uma conta no Instagram ou no TikTok, que são os mais populares para meninas e meninos, e disser que tem 15 anos e procurar sua filha ou filho e ganhar sua confiança. O controle parental serviu para alguma coisa? E o antivírus?", declarou Angie Contreras, Diplomada em Governança da Internet e Proteção de Dados Pessoais pelo CETyS e CIDE.
Além disso, Angie Contreras enfatizou a importância de incluir os videogames na violência digital, pois esses continuam sendo espaços digitais onde as crianças se conectam com adultos, o que muitas vezes passa despercebido pelos pais.
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Esta é a razão pela qual Angie Contreras e Lizet Romero criaram um livro onde convidam os pais não apenas a conhecer as ferramentas para prevenir a violência digital, mas para criar uma conexão com seus filhos na qual a confiança permita estabelecer um vínculo de confiança e um lugar seguro para os mais jovens da casa.
"A maioria de nós vem de uma educação adultocêntrica, impositiva. Então, o que fazemos é convidá-los a revisar esse adultocentrismo que temos e que não nos serve, para termos uma comunicação fluída com nossas filhas e nossos filhos", explicou Lizet Romero, Doutora em Estudos Socioculturais.
E destacou a importância de deixar para trás os ensinamentos de uma educação vertical e propor alternativas para que os jovens expressem quando algo não está indo bem, seja aos pais ou a uma pessoa de confiança próxima ao seu círculo:
"É preciso admitir que eles não nos contam tudo, ou seja, têm direito à sua privacidade, mas que nos contem quando algo está os prejudicando, quando algo não está bem, que recorram a nós. Mas se eles sabem que vamos repreendê-los, proibir, tirar o celular. Claro que não vão nos dizer. Queremos em nossas filhas e filhos, mas como mães e pais, como estamos ouvindo-os? Como estamos acompanhando-os?", explicou Lizet Romero, diplomada em perspectiva de gênero.
Para identificar se uma criança ou jovem está sendo vítima de violência, basta reconhecer uma mudança em suas atitudes e medos em relação a notificações, medos que vêm do grooming, onde adultos ameaçam dizer aos pais das vítimas.
No entanto, Lizet Romero e Angie Contreras destacam que é a culpa que faz com que os jovens tenham medo de falar, "Muitas meninas e meninos também nos diziam, 'é porque me disseram que isso aconteceu porque eu baixei', 'é porque me disseram que eu quero chamar a atenção, que estou exagerando'. As meninas e meninos questionam o porquê e a única resposta dos pais é 'a internet é má', então dizemos aos pais que é preciso falar com eles sobre o porquê".
Num mundo cada vez mais conectado, a rede pode ser tão benéfica quanto um espaço onde setores da população mundial são mais vulneráveis. De acordo com dados revelados pela ONU, em 2023, 80% das crianças de 25 países expressaram sentir-se em perigo de abuso online.
Esta é a razão pela qual é fundamental não só para as crianças e adolescentes, mas também para os pais, conhecer quais são as ferramentas para que seus filhos encontrem na internet um espaço seguro, onde possam aprender e se divertir de forma saudável.
Atualmente, o livro “Mamães e papais no virtual, uma jornada para nos conectarmos”, que oferece ferramentas para proteger crianças e adolescentes da violência digital, está disponível gratuitamente no site da Associação Civil Cultivando Gênero AC.