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Mãe reencontra filho sequestrado há 34 anos no Acre: “vivia outra realidade”

Francisco Tigre foi levado quando tinha 11 anos para Florianópolis enquanto vendia salgados, segundo entrevista ao g1

Mãe reencontra filho sequestrado há 34 anos no Acre
Mãe reencontra filho sequestrado há 34 anos no Acre Imagem: g1/arquivo pessoal

Após 34 anos, a história de Iraci Feitosa da Silva, de 67 anos, junto com o filho, finalmente teve um final feliz. Hoje com 48 anos, Francisco Josenildo da Silva Marreira Tigre foi levado para longe do Acre e da família aos 11 anos, mas sua mãe sempre acreditou que poderia reencontrá-lo.

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Francisco é o mais velho de sete filhos de Iraci, técnica de enfermagem aposentada. Já o seu pai foi assinado em Rio Branco, em 1983.

Em entrevista ao g1, a mãe do rapaz explicou que ele queria vingar a morte do pai, e isso foi um dos motivos que fez Josenildo ser separado da família em 1987.

“Ele encontrou com essa mulher que disse que era a mãe dele, que não era eu. Ele botou na cabeça que queria vingança pela morte do pai dele. E eu tentava tirar da cabeça dele, dizendo: ‘seu pai não vai voltar se você fizer isso, você vai complicar sua vida, você é criança, pare com isso’. Ela levou ele, e ele fugiu dela, e daí ficou andando pra cima e pra baixo”, disse a aposentada ao site.

O menino foi levado quando vendia salgados em frente ao hospital onde a mãe trabalhava. A responsável pelo sequestro segue desconhecida. Ela prometeu a Josenildo que levaria ele até a pessoa que matou o pai, para que ele “acertasse as contas”.

“Foi isso que me levou a acompanhá-la. Eu disse: ‘’Então eu vou’. Ela me prometeu que me levava. Chegamos na rodoviária, permanecemos em um hotel, no dia seguinte a gente pegou o ônibus e fomos pra Porto Velho. Chegando lá, esse senhor [dono de uma carreta com a qual ela tinha conversado no dia anterior] já estava lá esperando, e de lá seguimos com ele pra Florianópolis”, explica Francisco.

Já no sul, a mulher deixou o menino em um local e desapareceu. Ele então ficou andando na cidade atrás dela, mas sem sucesso.

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“Aconteceu tanta coisa na minha vida que fiquei com o intuito de voltar para o Acre, porque eu tinha lembrança de Porto Velho e Acre. Fiquei procurando voltar. Pedia para umas pessoas para me trazer, algumas não queriam, então eu subia nas carretas, nos estepes e para onde Deus me levava eu ia. Fiquei rodando até chegar no Acre de volta”, relembrou.

O menino tentou voltar para o Acre e passou a pedir caronas e viajar clandestinamente nas traseiras de caminhões. Josenildo conseguiu chegar em Cáceres (MT) e depois em Cacoal (RO). Neste segundo destino arrumou uma carona com um caminhoneiro até Porto Velho (RO).

Lá ele viu uma carreta escrito “Acre”, e após o dono do veículo se negar a dar carona para o menino, ele viajou escondido até o estado. Na rodoviária ele conheceu uma mulher que o viu pediu comida e perguntou se ele não queria ir morar com ela em Brasiléia [230 km da capital Rio Branco]. Essa trajetória de viagens durou quase sete anos.

“Ela perguntou se eu morava na rua. Eu disse que morava sozinho, na rua. Ela perguntou se eu não queria ir morar com ela, para o rumo de Brasiléia. Eu fui”, diz o texto.

Mãe reencontra filho sequestrado há 34 anos no Acre: “vivia outra realidade”
Mãe reencontra filho sequestrado há 34 anos no Acre: “vivia outra realidade” Imagem: g1/arquivo pessoal

Outro lado da história

Do outro lado da história, a mãe do rapaz seguia procurando o mais velho dos filhos. “Eu sempre tive muita fé em Deus que eu ia conseguir ver meu filho de volta. Eu nunca achei que tivessem matado ele, ou que ele havia morrido. Pedi muito a Deus e a Nossa Senhora que trouxesse meu filho de volta. Eu andava por todo canto, falei nas rádios, na PM”.

Francisco chegou a passar por duas famílias antes de ser adotado de fato. Ele então conheceu o o seringueiro Sebastião Tigre e foi morar com o homem e a sua família, que o registrou no cartório. Essa família foi quem o incentivou a ir atrás da sua verdadeira origem.

“Eles fizeram o que eu sou hoje, minha mãe me criou, foi tudo para mim. Foi tanta coisa que eu passei que fiquei na mente que ela tinha me largado. Só que minha mãe adotiva conversava comigo, forçava minha mente para que ela pudesse me ajudar a encontrar a minha mãe biológica. Mesmo eu não gostando, ela conversava comigo dizendo que eu tinha que saber da minha história, que ninguém ia me tirar dela, até porque ela já tinha me registrado, e ficava me lembrando dessas coisas”.

Após a mãe adotiva falecer de câncer, 25 anos atrás, o rapaz desistiu de procurar a família. Contudo, após sonhar com a mãe adotiva dizendo o nome de sua mãe biológica e pedindo que ele fosse atrás dela, ele acordou se lembrando do local onde a família morava e que ele já havia inclusive passado em frente. Ele então resolveu retomar as buscas em 2014.

“Eu ia passando de frente à casa, me veio a lembrança de que era ali. Eu parei, minha tia saiu de casa, me viu e eu voltei. Ela ficou olhando, eu fui até ela, perguntei se ela conhecia a pessoa, que no caso é a minha mãe. Falei o nome e ela perguntou se eu era o Josenildo. Ela já desconfiou, eu fiquei sem jeito, já me chamou para dentro, e ficou no corre-corre. Fizemos o exame de DNA e deu certo”, comenta o rapaz ao g1.

Quando a mãe se deparou com o filho, ela não aguentou de emoção e precisou ser socorrida por médicos. Mas há dois anos, a família esta novamente completa.

“Passei mal, mas é assim mesmo, coração é fraco. Quando eu vi e abracei ele, eu não aguentei, desmaiei. Fui pro hospital, mas voltei. Estamos todos felizes. Agora estamos uma família unida, pobres mas humildes. Um apoia o outro. Graças a Deus estamos com essa vitória. Ele já voltou foi com esposa, dois filhos. Aumentou foi a família”.

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