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VÍDEO: Mãe de Isabella diz que não tem desejo de matar Alexandre Nardoni: “Nunca tive esse ódio”

Ana Carolina Oliveira contou em que momento desconfiou de que o pai e madrasta eram culpados

Ele se dedica aos estudos na cadeia
Alexandre Nardoni, condenado por matar a filha, Isabella, segue cumprindo pena em Tremembé, no interior de SP (Reprodução)

A bancária Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, revelou que nunca teve desejo de se vingar de Alexandre Nardoni, pai da vítima. Ele e a esposa, Anna Carolina Jatobá, foram condenados por matar e jogar a medida de um prédio, na Zona Sul de São Paulo, em 2008.

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“Eu nunca tive esse sentimento de ódio. Eu, Carol, nunca pensei: ‘Vou matar ele’ [Alexandre Nardoni]. Isso nunca passou na minha cabeça. Mas sou da seguinte opinião, entre eu e ele, que seja ele pelo que ele cometeu. Porque vai ser fácil morrer, o mais difícil é pagar. E Deus sabe de todas as coisas”, afirmou.

Em entrevista ao podcast “Ticaracaticast”, dos humoristas Marcos Chiesa (Bola) e Carioca, ela também lembrou quando passou a desconfiar sobre a culpa do casal. O primeiro estranhamento ocorreu quando eles foram acusados e não queriam se entregar às autoridades (assista abaixo).

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“No dia que saiu a prisão deles, eu falei com o pai dele [Antônio Nardoni], pois eles não se entregavam. E eu ainda tinha esse contato assim [com o pai de Alexandre]. Então eu perguntei o que estava acontecendo, pois, imagina você, estar sendo acusada de uma coisa que você não fez, cara, eu vou gritar pra Deus e o mundo. Vai me prender? Estou aqui, não tenho nada a esconder (...) vou provar para você que eu não fiz até o fim da minha vida. Então eu perguntei os motivos de não se entregarem e ele disse que estavam ‘dando um jeito deles se entregarem’. Como assim? Foi nessa hora que eu vi que algo de errado não estava certo nessa história”, revelou.

Ana Carolina também afirmou que, desde a morte da filha, nunca quis conversar com o casal. “Nunca quis, nem no velório. Ela [Isabella] vai voltar? Então não, o que eu teria para falar com essa pessoa? Se me falassem que eu tinha que passar por isso [para ela voltar] eu faria o que você quiser. Não vai voltar? Então me poupa”.

Questionada se já parou para questionar os motivos que levaram o casal a matar a menina, a mãe disse que já passou muito tempo “presa” a esse pensamento, mas que nunca conseguiu chegar a uma conclusão.

“Eu não consigo chegar [a uma conclusão]. Já fiz essa pergunta para mim mesma e acho que é impossível chegar a uma resposta. Acho que até quem sabe de tudo o que aconteceu, porque alguém sabe exatamente tudo o que aconteceu, pois o que você vê no documentário são ideias e suposições. No sentido assim: ninguém estava ali pra saber exatamente a dinâmica do que aconteceu. As dinâmicas foram criadas. Agora, o porquê? Cara, nunca vou chegar nele”, afirmou.

Ana Carolina também falou que, na época, o prédio ainda não tinha câmeras de segurança e que, se essas imagens existissem, poderiam ter ajudado no andamento das investigações. Ao mesmo tempo, ela sente alívio por não ter esse registro da filha caindo.

“Talvez [essas imagens] tivessem ajudado a criar um fato ali muito mais rápido, mas ao mesmo tempo eu ficava pensando naquela cena passando o dia inteiro na televisão (...) então eu penso que a gente não sabe o que realmente aconteceu, mas também não tinha a câmera pra ficar passando isso o tempo todo na televisão para torturar quem é da família (...) pois aquilo fica na sua cabeça”, lamentou.

Crime ocorreu em 2008
Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, participou do podcast "Ticaracaticast" e relembrou detalhes da morte da filha (Reprodução/YouTube)

Momentos após a ‘queda’

Na entrevista, a bancária também lembrou que foi Anna Jatobá quem a avisou, por telefone, que Isabella tinha sofrido um “acidente”.

“Foi ela [Anna Carolina Jatobá] quem me ligou. Ela já estava gritando: ‘Ela caiu, ela caiu, ela caiu. Jogaram...’. Não dava para entender, porque ela gritava, de verdade, ela gritava muito. E aí eu perguntei: ‘Onde vocês estão?’. Assim, foi tudo muito rápido”, lembrou a mãe de Isabela, que pensou que a filha tinha caído na piscina. “Para você ver como dava para eu entender bem pouco do que ela falava. Então ela disse que estavam na casa dele”.

O caso ocorreu no dia 29 de março de 2008. Como estava em uma comemoração na casa de uma amiga, nas proximidades do apartamento de Alexandre Nardoni, pai da menina, ela chegou rapidamente ao local. A bancária revelou que percebeu que a filha ainda respirava.

“Quando eu cheguei, desci do carro com ele ainda em movimento, nem esperei a parada (..) Eu não lembro como entrei no prédio...foi um pico de emoção muito forte. Não tenho essa cena guardada, [mas] quando entrei, você sobe uma escada e tem um gramado, que era onde ela estava (...) Quando cheguei, vi que ela estava respirando, a minha esperança estava ali. Eu tinha o meu fio de esperança vendo ela respirar”, relembrou ela.

“Ai todo mundo que estava comigo ligou, eu liguei, e acho que a ambulância levou uns cinco minutos pra chegar. Não sei dizer. E ele [Alexandre] estava lá, ela lá dentro e gritava, gritava. O filho deles estava lá. Então eu falava com ela [Isabella] e, quando chegou a ambulância, eu estava muito nervosa (...) mas foi desesperador, pois tive que ir na frente na ambulância. Então não sei se ela morreu na ambulância ou se foi no hospital”, lembrou.

Apesar da esperança da mãe, a menina acabou tendo a morte confirmada no hospital. Conforme a investigação policial, ela foi asfixiada e jogada do sexto andar de um prédio, na Zona Norte da capital paulista.

Documentário relembra o caso

O documentário “Isabella: O Caso Nardoni”, que estreou no último dia 17 na Netflix, relembra o crime que chocou o país em 2008. Além de trazer depoimentos fortes da mãe e avó da menina, a produção também relembra como foi o julgamento de Anna Carolina Jatobá e Alexandre Nardoni, que foram condenados pelo assassinato. No entanto, em alguns pontos, fica no ar uma dúvida sobre até onde a madrasta teve culpa no crime.

A produção revela que, no início, Ana Carolina Oliveira não desconfiava que o pai e a madrasta podiam ter cometido o crime. No entanto, ao longo das investigações, os fatos foram sendo revelados pela investigação policial e a mãe ressaltou que só queria buscar justiça.

Chamou a atenção no documentário o fato de, durante as investigações, o casal Nardoni não falar muito sobre a dor da perda de Isabella e por tentar atribuir a culpa a um suposto invasor. No entanto, segundo a polícia, não há dúvidas de que os dois cometeram o assassinato. Eles negam o crime até hoje.

É exatamente sobre essa sustentação da inocência durante anos que o advogado Roberto Podval, que defende o casal Nardoni, questionou se, de fato, eles são culpados. Além disso, o defensor afirmou que, durante o julgamento, a acusação não conseguiu provar quem matou a menina e quem a jogou pela janela, deixando claro que houve a condenação, apesar dessa lacuna nunca explicada pela investigação policial.

Já Ilana Casoy, que é escritora e criminóloga, fala no documentário sobre como Alexandre Nardoni era o “dominante” na relação com Anna Jatobá e destaca que há indícios de que ela era vítima de violência patrimonial, já que é a família do marido que tem dinheiro e, até hoje, sustenta seus filhos.

Dessa forma, por questões financeiras, fica no ar a dúvida dos motivos de até agora Jatobá manter o relacionamento e não culpar o marido pelo crime. Desde que deixou o presídio para cumprir o regime aberto, há dois meses, a madrasta mora em um apartamento de luxo do sogro, Antonio Nardoni, em Santana, na Zona Norte de São Paulo.

Saiba o que Anna Jatobá disse sobre Isabella em exame psquiátrico que liberou regime aberto
Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram condenados pela morte de Isabella Nardoni Reprodução - Arquivo - TV Globo

Julgamento e condenação

Os telespectadores também podem relembrar no documentário como foi o julgamento do casal, sendo que a madrasta pegou 26 anos de prisão. Já Alexandre foi condenado a 30 anos de prisão em regime fechado.

Anna Jatobá ficou 15 anos na Penitenciária Santa Maria Eufrásia Pelletier, a P1 feminina de Tremembé, sendo que em 13 deles trabalhou em uma oficina de costura. Há dois meses, ela obteve a progressão de pena para o regime aberto.

Antes da progressão de pena, ela passou por um processo para avaliar sua capacidade de reintegração na sociedade, entre eles um exame psiquiátrico, no qual afirmou que mantinha uma relação de afeto com a enteada. “Quando ela ficava comigo, eu cuidava como se fosse a minha filha”, disse ela durante o exame, segundo revelado pelo site G1.

Durante a avaliação, ela também revelou que fez uma tatuagem em homenagem a Isabella, a Alexandre Nardoni e seus dois filhos durante uma saída temporária. Sobre seu casamento, disse que ainda mantém relacionamento com o marido e que eles se encontraram durante saídas temporárias e conversavam por meio de cartas.

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) recorreu contra o benefício concedido a Jatobá, mas o recurso ainda não foi julgado.

Já Alexandre Nardoni cumpre pena na Penitenciária Dr. José Augusto César Salgado, conhecida como P2 de Tremembé. Em 2019, ele também já obteve o benefício do regime semiaberto, podendo fazer saidinhas temporárias. Mas ele passa a maior parte do tempo estudando dentro do presídio.

Assim estaria Isabella Nardoni, com 19 anos, se ainda estivesse ainda
Isabella Nardoni tinha cinco anos quando foi morta e jogada de prédio, em SP Reprodução

Morte de Isabella Nardoni

Isabella Nardoni tinha cinco anos quando foi jogada pelo pai e pela madrasta da janela de um apartamento que ficava no sexto andar do Edifício London, no dia 29 de março de 2008.

Inicialmente eles alegaram que foi uma queda acidental, mas a investigação apurou que a criança apresentava marcas de que tinha sido agredida e morta antes de ser arremessada.

O Ministério Público destacou durante o julgamento do casal que as provas periciais obtidas pela Polícia Civil não deixavam dúvidas sobre a autoria do assassinato. A acusação destacou que a madrasta esganou Isabella e, em seguida, o casal cortou a tela de proteção da janela e o pai jogou o corpo da criança.

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