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Vacina brasileira esbarra em falta de investimento

UFMG necessita de ao menos R$ 130 milhões para finalizar os estudos do imunizante contra covid-19

Estudos, até o momento, foram feitos de forma independente Marcílio Lana/UFMG

Diante da escassez de vacinas contra a covid-19 por todo o mundo, a corrida pela compra de imunizantes está cada vez mais disputada. O Brasil poderia até contar com uma solução caseira, mas o desenvolvimento de uma dose totalmente nacional esbarrou em algumas dificuldades, como a falta de investimento.

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Desde antes de a OMS (Organização Mundial da Saúde) decretar a pandemia do novo coronavírus, pesquisadores e cientistas do CT-Vacinas (Centro de Tecnologia em Vacinas) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) já se movimentavam para produzir um imunizante 100% nacional diante do cenário preocupante.

O laboratório realizou todas as etapas de desenvolvimento até o momento de forma independente.  O estudo está na fase de divulgação dos testes em animais. Quase um ano depois, a universidade só utilizou recursos próprios e outras alternativas, como verba da empresa pública Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).

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A pesquisadora Ana Paula Fernandes, uma das coordenadoras do CT-Vacinas, afirma que a universidade usou R$ 5 milhões desde o início do projeto. Para a continuidade da pesquisa serão necessários ao menos R$ 130 milhões, sendo R$ 30 milhões para a finalização da atual fase e mais R$ 100 milhões para os estudos clínicos, que são realizados em humanos – o mais complexo e importante do desenvolvimento de uma vacina. A previsão é da própria universidade e do vice-governador de Minas Gerais, Paulo Eduardo Brant.

“Esse é o próximo desafio, levantar esse recurso para que a gente possa superar essa fase e, aí sim, entrar na fase final de teste e produção da vacina”, disse Brant, em reunião no início do mês com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações.

O encontro selou uma parceria entre governo federal, estado e universidade com o objetivo de acelerar a produção do imunizante. No entanto, o ministério não divulgou quando será destinada a verba ou como será feito o levantamento dos recursos. Questionada pela reportagem, a pasta não respondeu até o fechamento desta edição.

O vice-governador também disse que o dinheiro poderá ser repassado por empresas privadas. “Nós temos o CT-Vacinas da UFMG, que já está com um grande trabalho desenvolvido, precisando agora de um apoio adicional para que a gente possa dar esse salto.”

A previsão do laboratório da universidade é terminar os estudos clínicos até o final deste ano assim que o investimento chegar. A expectativa é que a vacina esteja disponível para análise da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) no início de 2022.

Um longo caminho

As etapas para produção de uma vacina contra a covid-19

  1. Identificação: os cientistas precisam identificar o agente causador da doença, que neste caso é o novo coronavírus
  2. Fragmentação: a vacina usa o vírus inativo da doença (como no caso da CoronaVac) para produzir antígenos que irão estimular o organismo a produzir anticorpos contra a covid-19
  3. Testes (vacina brasileira está nesta etapa): os testes do imunizante começam em animais, geralmente camundongos que carregam o receptor ACE2 das células humanas
  4. Estudos em humanos:
    Fase 1 – Pequeno grupo de voluntários com estado de saúde bom para avaliar a segurança e a eficiência em gerar respostas do sistema imunitário do ser humano
    Fase 2 – Testa a eficácia da vacina em centenas de voluntários escolhidos de forma aleatória, incluindo os pertencentes ao grupo de risco
    Fase 3 Teste em milhares de pessoas para avaliar a eficácia da vacina em condições naturais de presença da doença
    Se obtiver um número maior que 50% na eficácia geral, a vacina pode ser submetida à análise de agências reguladoras, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para ter a aplicação autorizada

Fonte: Anvisa e OMS (Organização Mundial da Saúde)

Estudos, até o momento, foram feitos de forma independente

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