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“Duvido que Bolsonaro implante ditadura e que o PT transforme o Brasil numa Venezuela”, diz brasilianista

Geógrafo Jeff Garmany, professor do King’s College London, diz que escolha de vices de Jair Bolsonaro e de Fernando Haddad reforça a narrativa que considera ‘absurda’ sobre futuro do país.

A escolha do general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB) e da deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) como vice-candidatos à Presidência ajudou a reforçar narrativa do medo de que Jair Bolsonaro, se eleito, vai implementar uma ditadura militar no Brasil ou que, em caso de vitória, o petista Fernando Haddad vai «transformar o país numa Venezuela«.

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Essa é a avaliação do geógrafo Jeff Garmany, professor da Universidade King’s College, de Londres, que há 18 anos estuda o Brasil. Apesar do caráter simbólico de Bolsonaro ter como principal substituto um general que acabou de tirar a farda e Haddad estar ao lado uma militante do Partido Comunista do Brasil que tem alimentado ataques e a retórica dos candidatos e dos apoiadores, Garmany diz não acreditar em nenhum dos dois cenários.

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«Eu duvido que algum candidato vá levar o Brasil a esses extremos (Venezuela ou ditatura). É absurdo dizer que PT vai transformar o Brasil em Venezuela. Eu tenho medo de que Bolsonaro mude o Brasil para uma direção complicada, mais conservadora. Mas duvido que Bolsonaro implante uma ditadura», disse o professor em entrevista ao vivo à BBC News Brasil.

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O professor observa que durante os governos Lula (2003-2010) o Brasil «mudou um pouquinho».

«Não mudou muito do tempo do Fernando Henrique Cardoso», diz. Garmany avalia ainda que, apesar de Bolsonaro estar alinhado com militares, ele não vê as Forças Armadas querendo estar na linha de frente da política neste momento.

Mistura de Trump, Duterte e Al-Sisi

Para o professor, que estuda violência urbana, Bolsonaro conseguiu atrair uma grande parte do eleitorado com um discurso de mais ordem e mais polícia.

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Questionado por que Bolsonaro é comparado com os presidentes Donald Trump (EUA), Rodrigo Duterte (Filipinas) e o ex-líder peruano Alberto Fujimori, Garmany afirma que, em parte, é pelo discurso populista. Mas, para o professor, o candidato do PSL pode, potencialmente, ter um governo que se compara ao de Duterte e ao do presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sisi.

«Por causa do discurso, uma postura autoritária», afirma Garmany, emendando que o discurso de líderes como Duterte e Sisi trabalham com o medo da população.

«Trump também faz isso. (Eles) usam medo para gerar mais discussão, manipular a população. Quando a população é mais vulnerável, está com medo da violência do dia-a-dia, da economia, do futuro, (vem) esse discurso de que posso resolver, que tem solução simples e que há pessoas boas e ruins.»

Violência na campanha

Questionado sobre os relatos de violência física e verbal praticados por eleitores, que deixaram de brigar nas redes sociais e passaram a se enfrentar nas ruas, Garmany diz que é resultado da falta de debate.

«O Brasil está muito polarizado, não tem debate. O debate acabou. Isso não é um bom sinal para a democracia», afirma.

Mas ele pondera que não é um fenômeno exclusivo do Brasil.

«Depois da vitória de Trump, há registros de mais casos de violência contra imigrantes, contra muçulmanos. Não é que todo mundo que votou no Trump é preconceituoso, mas alguns deles são e se sentem mais à vontade para serem violentos», avalia o professor, que se diz espantado com as brigas entre famílias no Brasil.

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