Calado, muito reservado e de raras palavras. Essa é a impressão das poucas pessoas que conheceram Adélio Bispo de Oliveira, na pensão de número 295, da Rua Oswaldo Cruz, no centro de Juiz de Fora. O local, uma casa simples, escondida por uma árvore que cobre quase toda a fachada, não chama a atenção e destoa das outras residências e edifícios ao redor, todos de classe média alta.
Ele pagou adiantado R$ 400 por um dos melhores e maiores quartos da pensão. Alguns quartos são menores e custam a partir de R$ 290 a mensalidade. A comida é à parte e os moradores, a maioria trabalhadores do comércio ou aposentados, se vira como pode para se alimentar.
Quando ficou sabendo o que Adélio tinha feito, Uiraquitã admite que ficou com medo. “Assassino, eu fiquei até com medo. Foi um susto. O cara fazer isso, poderia pegar qualquer um de nós. Era meio doido. O mal, quando menos se espera, chega. E estava do meu lado, aqui dentro”, refletiu.
A presença do criminoso era tão discreta, que alguns moradores da pensão dizem que jamais o tinham visto. “Eu nunca o vi. Não sei quem é não! A minha porta dá direto para a rua. Quando eu fiquei sabendo do que tinha acontecido, pensei que ele também pudesse ter feito alguma coisa com a gente aqui. Dizem que ele não conversava com ninguém”, disse o também aposentado Evangelho dos Anjos Luiz.
Cansados de falar com a imprensa, que tem procurado a pensão em busca de informações desde o dia do atentado, alguns moradores saem às pressas e evitam entrevistas. Para falar com eles, só mesmo acompanhando ao longo do trajeto, caminhando sem parar.
“Eu não posso parar, pois estou atrasado. Fiquei muito surpreso com o que aconteceu. Ele estava na pensão só há duas semanas. Eu passei duas vezes por ele, cumprimentei, e ele só balançava a cabeça. Eu senti que tinha uma energia ruim nele. Era um cara fechado”, disse o garçom Sérgio, que preferiu não dar o sobrenome, enquanto descia a ladeira.
Sérgio contou que ouviu do dono da pensão, Ronaldo, que Adélio disse ser da igreja e que ira orar por sua esposa, que está com câncer. Embora a defesa de Adélio sustente que ele agiu sozinho, o garçom acredita ser mais provável que o vizinho tenha agido com outras pessoas.
“Acho que sozinho ele não agiu. Isso aí foi armado. O cara já sabia que o Bolsonaro vinha para cá e pegou um local perto do evento. É ruim, porque esta pensão é igual à nossa casa e agora fica muito visada”, lamentou Sérgio. A pensão fica a apenas a 1 km do local onde o candidato foi esfaqueado, onde se chega em pouco mais de 10 minutos de caminhada.
O dono da pensão foi ouvido pela Polícia Federal, que mandou lacrar o quarto de Adélio.
Para a advogada Cibele Romanel, vizinha da pensão e conhecida dos donos, a ação de Adélio também teve a ajuda de outras pessoas. “Eu fiquei bastante assustada. Você não espera que uma pessoa dessas esteja próxima. Ele podia ter pego a gente. Mas a minha opinião é que isso foi bem articulado. Você não faz uma coisa dessas sozinho. O cara sabia que o Bolsonaro ia vir aqui para o centro, procurou uma pensão do lado e pagou adiantado, muito estratégico. Essa tese que ele fez tudo sozinho não cola”, disse a advogada.