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Como a intervenção militar no Rio pode afetar a segurança em São Paulo?

Pilar Olivares/Reuters

As consequências da intervenção militar no Rio de Janeiro têm preocupado parte da população. Especulações como o crescimento da criminalidade em outros Estados e até mesmo uma nova ditadura militar rolam soltas pelas redes sociais.

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Desde o início deste mês, o presidente Michel Temer (MDB) decretou que o Exército assumisse o controle da segurança pública no Rio. Uma das inquietações é se isso terá reflexos imediatos nos Estados vizinhos, como Minas Gerais e São Paulo.

«A ostensividade do policiamento deve ser muito grande no Rio de Janeiro e isso pode levar o crime organizado a se mover», afirma Julio Vellozo, doutor em História Social pela USP (Universidade de São Paulo). Para ele, um aumento na criminalidade depende muito da dinâmica das facções e da ação do Exército no Rio.

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O fortalecimento do PCC (Primeiro Comando da Capital), uma das maiores facções criminosas de São Paulo, preocupa. Contudo, o professor Vellozo acredita que isso não deva acontecer, uma vez que a sede é paulista. «Isso só aconteceria com o PCC sendo envolvido pela repressão ao crime de alguma maneira. Aí sim ele reagiria de alguma forma», opina.

Quanto aos boatos de uma nova ditadura militar, o professor desmente sem pestanejar. «As Forças Armadas hoje no Brasil têm um compromisso muito grande com a manutenção da democracia. Não acho que exista, num horizonte próximo, a possibilidade de uma intervenção militar [no país]», afirma.

‘Palanque eleitoral’

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Apesar de tudo, para o doutor Julio Vellozo, a ação no Rio de Janeiro tem motivações muito mais político-eleitorais que com a resolução da segurança pública de fato. Segundo pesquisas do Ibope e do Datafolha realizadas no ano passado, a segurança está entre as quatro maiores preocupações do brasileiro.

«A intervenção das Forças Armadas é um erro. Veja bem, com isso não estou dizendo que elas não deveriam ir ao Rio. Elas foram chamadas e têm que cumprir com o pedido do presidente, mas as Forças Armadas não foram feitas para esse tipo de coisa», diz Vellozo. Ele lembra que o próprio general Eduardo Villas Bôas já afirmou em entrevistas que o Exército não foi feito para intervenções em cidades.

«As medidas deveriam ser outras. É necessário repensar nossa política de combate às drogas, por exemplo. O modo de guerra total às drogas é falido e isso já está mais que comprovado», avalia. «Os traficantes não estão nos morros, logo esse tipo de ação [a intervenção] é mais pirotecnia e não me parece que vá resultar em muita coisa».

Soluções para a segurança

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concorda com a visão de Vellozo. Ele e várias outras personalidades têm afirmado que a política de combate às drogas no Brasil está falida. Além de repensar esse modelo, o professor aponta que a criação de novas propostas surtiriam um efeito mais eficaz – principalmente a longo prazo.

Uma dessas poderia ser o aumento do monitoramento por câmeras nas cidades e a combinação de vigilância, inteligência e tecnologia. «Isso porque uma parte grande da violência tem a ver com pequenos crimes, como o furto, por exemplo. Se você pegar esses crimes contra a propriedade, eles somam uns 80% já», aponta.

Vellozo também sugere outros meios, como a criação de uma autoridade específica para cuidar da questão da segurança pública e um piso nacional para o salário dos policiais. «São necessárias medidas mais estruturais», afirma.

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