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Estupro e assassinato de menina de 6 anos gera protestos violentos contra onda de crimes no Paquistão

Duas pessoas morream em atos contra homicídios de 12 meninas em condições semelhantes ao longo de dois anos; manifestantes dizem que autoridades não estão fazendo o suficiente para dar fim à sequência de assassinatos.

Protestos violentos eclodiram no Paquistão após o estupro e assassinato de uma menina de 6 anos, o mais recente de uma série de casos similares na cidade de Kasur, na província de Punjab, no nordeste do país.

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O corpo de Zainab foi encontrado em meio a um monte de lixo na última terça-feira, vários dias depois de ela desaparecer. Após ser abusada sexualmente, Zainab foi estrangulada, de acordo com a autópsia realizada.

Havia marcas de tortura em seu rosto, segundo a emissora americana CNN, que ouviu o legista responsável, e a língua da menina estava esmagada entre os dentes. Ela estaria morta há quatro ou cinco dias quando foi encontrada.

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Os manifestantes dizem que as autoridades não estão fazendo o suficiente para dar fim à sequência de crimes.

A polícia de Kasur afirma que ocorreram outros 11 homicídios parecidos nos últimos dois anos, todos ocorridos dentro de um raio de 2 km. Cinco deles teriam relação com um homem, que está sendo procurado. Amostras de DNA foram coletadas de 90 possíveis suspeitos.

Dois manifestantes morreram na quarta-feira após a polícia abrir fogo contra uma multidão que tentava invadir uma delegacia. Militares se ofereceram para ajudar a conter os protestos, que ocorreram pelo segundo dia seguido nesta quinta-feira.

‘Vivemos com medo’

Zainab sumiu em 4 de janeiro a caminho de uma sessão de leitura do Corão, o livro sagrado do Islamismo, religião da maioria dos paquistaneses. Imagens de câmera de segurança mostram quando ela é levada por um homem. A filmagem foi muito compartilhada em redes sociais e pela mídia paquistanesa.

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Manifestantes dizem que autoridades não estão fazendo o suficiente para dar fim aos crimes

Sua família acusa a polícia de não ter feito nada após seu desaparecimento ter sido informado no dia 5. Foram seus parentes que encontraram as imagens que mostram a criança caminhando de mãos dadas com o suspeito.

"Se a polícia tivesse agido imediatamente, o culpado já teria sido pego", disse seu pai, Muhammad Amin Ansari, à emissora Geo TV ao retonar da Arábia Saudita, onde fazia uma peregrinação com sua mulher. Zainab estava hospedada com uma tia enquanto os pais viajavam.

Seu pai afirmou ainda que Zainab não será enterrada até ser preso o responsável, contrariando os preceitos islâmicos de fazer isso assim que possível após uma pessoa falecer. "Nos últimos dois anos, vivemos com medo. Os pais têm receio de deixar seus filhos saírem de casa", disse ele.

Secunder Kermani, correspondente da BBC no Paquistão, informa que o pai da menina já recebeu em sua casa vários políticos, que prometeram fazer justiça.

‘Responsabilidade dos pais’

Autoridades dizem que amostras de DNA foram coletadas do corpo de Zainab, segundo o jornal The Washignton Post, e que as primeiras evidências apontam que o autor do crime pode ser um conhecido da família.

Famílias de Kasur dizem sentir-se inseguras com homicídios

Mas houve quem apontasse que a culpa pelo ocorrido também seria da família. "A segurança de uma criança é responsabilidade dos pais", disse o ministro da Justiça de Punjab, Rana Sanaullah, ao jornal paquistanês Dawn. Ele ainda pediu calma à população: "As pessoas precisam manter suas emoções sob controle e não agravar a situação".

As autoridades afirmam que casos assim vêm sendo registrados quase mensalmente na cidade. Em dezembro, uma menina de 9 anos desapareceu no centro de Kasur depois de ir a lojas próximas de onde mora. Ela conseguiu escapar de seu sequestrador e voltar para casa, mas está muito traumatizada, segundo relatos.

Em outro caso, Ayesha, de 5 anos, sumiu em janeiro do ano passado e também foi assassinada. Seu pai, Asif Baba, acredita que o mesmo homem que matou Zainab é o responsável, disse o correpondente da BBC, e também diz que a polícia não investigou o crime como deveria.

"Asif guardou consigo o uniforme de Ayesha e sua coleção de bonecas. Seus olhos se encheram de lágrimas ao mostrar tudo isso para mim. Ele diz que, ao ouvir sobre a morte de Zainab, sentiu como se tivesse perdido sua filha de novo", afirmou Kermani.

O Paquistão ocupa a 174ª posição entre os 188 países que compõem o Índice de Desigualdade de Gênero das Nações Unidas, por causa das péssimas condições de saúde, educação e econômica a que as mulheres paquistanesas estão submetidas.

Relatório com dados de 2014 divulgado pela organização sem fins lucrativos Aurat Foundation, baseada em Islamabad, capital do país, afirma que em cada dia daquele ano seis mulheres foram assassinadas, seis foram raptadas, quatro foram estupradas e três se suicidaram.

#JustiçaporZainab

A morte de Zainab foi o estopim de uma grande comoção nacional, com estrelas do cinema e do esporte cobrando publicamente uma resolução para o caso.

Nobel da Paz cobrou um fim à sequência de crimes em seu país | Foto: Reprodução

Nas redes sociais, a hashtag #JustiçaparaZainab ficou entre as mais comentadas no Twitter, sendo compartilhada por mais de meio milhão de usuários. A estudante e ativista paquistanesa Malala Yousafzai, ganhadora do prêmio Nobel da Paz, também comentou o caso. "Isso tem de parar. O governo e as autoridades responsáveis precisam agir", tuitou ela.

Apesar de a reação ter sido motivada pela tristeza e horror diante do ocorrido, a origem da hashtag aparentemente foi política, segundo o blog BBC Trending. Ela foi primeiro usada por apoiadores do partido Pakistan Awami Tehreek (PAT), que faz oposição à Liga Muçulmana do Paquistão, que governa Punjab.

O ministro-chefe da província ofereceu uma recompensa de 10 milhões de rúpias paquistanesas (R$ 291,2 mil) para quem ajudar a identificá-lo. Também disse ter pedido detalhes sobre as outras 11 meninas mortas antes de Zainab.

Kasur já esteve no centro de um escândalo de abuso sexual em que cerca de 25 homens de uma gangue foram acusados de chantagear crianças para forçá-las a participarem de vídeos pornô entre 2009 e 2014. O caso veio à tona em 2015, e vários suspeitos foram presos.

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