Todos os dias pelo menos 32 pessoas tiram a própria vida no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Em todo o mundo, estima-se que ocorra um suicídio a cada 40 segundos. Caso houvesse prevenção, 9 de 10 casos poderiam ser evitados, de acordo com a Organização Mundial de Saúde.
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O suicídio – ou a tentativa de suicídio – é um grave problema de saúde pública que deve ser tratado com seriedade, especialmente em relação às pessoas que tentaram e aos familiares e amigos das vítimas. Isso porque são nesses grupos que a ideia de tirar a própria vida é mais comum.
Pensando nisso, o Centro de Valorização da Vida (CVV), associação que presta serviço voluntário de apoio emocional, passou a coordenar reuniões presenciais para pessoas que têm suas histórias afetadas pelo suicídio. O chamado Grupo de Apoio aos Sobreviventes do Suicídio (CVV GASS) foi criado para a troca de experiências e o apoio mútuo entre os participantes, em busca de um recomeço ou da superação do drama vivido.
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Amigos e familiares são vítimas
Treinado para atender pessoas em situação de desespero, Tino Perez trabalha como voluntário no Centro de Valorização da Vida (CVV) há 8 anos, e há 2 nos grupos de apoio. «Nós recebemos todos os que precisam de ajuda. As estatísticas mostram que os familiares e as pessoas muito próximas dos que se suicidaram são abaladas de diversas formas. Sentem remorso, culpa, raiva. O processo de luto deles é muito diferente do luto pela morte natural. Dados dizem que cada uma morte por suicídio afeta de 6 a 10 pessoas», explica.
Camila (nome fictício) acompanhou de perto o sofrimento da irmã mais velha, que, usuária de drogas dos 13 aos 19 anos, entrou em depressão profunda em 2013 e tentou suicídio duas vezes. «As vivências da minha irmã me desencadearam graves crises de ansiedade e ações auto destrutivas. Fiz terapia dos 5 aos 8 anos, depois 12 aos 13, e agora dos 14 aos 17», conta.
A presença daqueles que já tentaram suicídio também é importante nas reuniões, para o contato com os familiares e amigos de pessoas que tiraram as vidas. «Alguns percebem que não estão sozinhos, que existem pessoas que se importam com eles também», diz Tino. Ainda segundo ele, falar sobre o assunto sem tabus, no lugar de julgar ou silenciar quem sofre, é uma das maneiras de prevenir o suicídio.
A sobrevivente de suicídio Gabriela (nome fictício), tem 18 anos e diz que o apoio das pessoas próximas influência muito em como ela lida com todos os sentimentos: «A ideia principal dos suicidas é que ele não quer morrer, só quer acabar com a dor. As pessoas não deveriam banalizar o suicídio, e sim, ficar e apoiar o indivíduo que está sofrendo.»
A jovem paulistana tentou suicídio cinco vezes. Na quarta tentativa, foi internada numa clínica psiquiatra, onde tentou tirar a própria vida novamente. Hoje, ainda se auto mutila, mas já está em tratamento e diz contar com o apoio emocional dentro de casa.
Tratamento
O acompanhamento médico é de extrema importância para pessoas com pensamentos suicidas. A psicóloga Talita Cunha, especialista em Terapia Comportamental, explica como funciona: «O tratamento é sempre voltado para que os pacientes aprendam a tolerar sentimentos aversivos, mostrando que os problemas considerados ‘sem solução’ sempre terão algum tipo de alternativa.»
Para quem convive com pessoas que estão passando por isso, a psicóloga reforça a ideia de que falar sobre o assunto é essencial: «A ajuda vem quando as pessoas não têm medo e não se deixam levar pelo senso comum que prega que falar sobre suicídio aumenta a probabilidade do indivíduo cometê-lo. Devemos sim tocar no assunto, conversar, tentar compreender».
Onde encontrar o CVV
O CVV GASS está presente no Rio Grande do Sul (Porto Alegre e Novo Hamburgo), Paraná (Curitiba), São Paulo (capital e Sorocaba), Rio de Janeiro (capital), Mato Grosso (Cuiabá) e Brasília. Ainda neste ano, Pernambuco, Recife e Roraima deverão ganhar grupos. Confira os endereços, horários e contatos dos grupos aqui.
Há 54 anos, o CVV oferece apoio emocional gratuito e voluntário, com atendimento por telefone (141), email, Skype e chat. A pessoa que liga não precisa se identificar e as conversas são sigilosas.