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Candidata à prefeitura, Jandira Feghali quer implantar Passe Livre Social no Rio

Uma das três mulheres entre os 11 candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro, mas a única que aparece com chances de disputar um segundo turno da eleição – tem 7% das intenções de voto e está em quarto lugar na disputa, segundo a última pesquisa, a do Datafolha, divulgada no dia 26 –, Jandira Feghali (PCdoB) quer governar com um foco especial para as mulheres. Ela também pretende acabar com o deficit de creches no município incluindo horário noturno, implantar o Passe Livre Social e ampliar o programa Saúde da Família, que considera um avanço. Em entrevista ao Metro Jornal, a deputada federal, ferrenha defensora de Dilma Rousseff (esta entrevista foi feita antes da decisão pelo impeachment), diz que no Rio de Janeiro o “Governo Federal bancou tudo, inclusive esse chamado legado da Olimpíada.”

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Por que você quer ser prefeita e qual Rio de Janeiro imagina para o futuro mandato?

Primeiro, eu tenho 30 anos de vida pública e acho que está na hora de dar esses 30 anos a serviço da cidade, que tem um peso imenso na região metropolitana e no Brasil. Também considero que esta eleição define muito o que é o campo democrático no Brasil, o campo democrático no Rio. A cidade que eu imagino é uma que tenha democracia, porque hoje não tem. Ninguém é perguntado sobre absolutamente nada. E que a gente consiga, apesar de olhar para a cidade toda, ter um foco especial nas mulheres, que são a maioria da cidade do Rio de Janeiro, e um foco especial naqueles 32 bairros que estão no entorno da Avenida Brasil e que têm tido um imenso abandono da gestão pública municipal.

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quem-é-jandiraDepois de quase oito anos de governo da gestão Eduardo Paes (PMDB), qual é a sua avaliação sobre os dois mandatos e o que pretende fazer para corrigir eventuais erros ou melhorar os acertos?

Acho que tem algumas realizações, como por exemplo a ampliação do programa de Saúde da Família, que foi um avanço. Não podemos negar o que foi feito de correto. Mas a concepção de cidade fez crescer duas coisas que, na minha opinião, são uma inversão de valores. A especulação imobiliária de um lado e o comando do direito de ir e vir na mão dos empresários. Eduardo Paes não foi capaz, nem ele nem seu secretariado, de enfrentar um comando que tem nas mãos as linhas [de ônibus] que devem circular; que tem na mão o preço da passagem sem nenhuma transparência; que tem na mão, sem nenhuma licitação, a concessão do BRT e do VLT. Ou seja, é um comando mercantil de uma política pública do direito de ir e vir. Então, eu tenho uma visão clara de que existiram omissões muito graves. Na segurança pública, o prefeito não pode se omitir porque ele não comanda a polícia, principalmente numa cultura de paz, uma cultura da não violência. Tem omissão no campo da formatação de cadeias de produção e de serviço para o emprego permanente, não apenas um emprego transitório na Olimpíada. Há uma omissão na garantia da resolutividade da integração dos serviços de saúde. Você tem um PSF [Programa Saúde da Família], mas falta médico, as pessoas não têm porta de saída, não tem hospital de retaguarda e é tudo por uma privatização de modelo OS [Organização de Saúde], que tem que ser auditada, porque tem muita denúncia sobre isso. E, mesmo na educação, mesmo expandindo os EDIs [Espaços de Desenvolvimento Infantil], tem ainda um deficit de creches absurdo no Rio de Janeiro e não há horário integral nas escolas. Isso é grave. Nós estamos propondo a superação do deficit de creche com horário noturno, para que as mulheres que trabalham até mais tarde possam voltar para casa e pegar o seu filho na creche.

Sua principal proposta para a área de transporte é ampliar a gratuidade nos ônibus com o Passe Livre Social. Por quê? Como implementar esse projeto e de onde sairá recurso para isso?

Garantir o direito de ir e vir das populações mais vulneráveis é fundamental. Está em nossa Constituição esse direito fundamental a todas as pessoas. Nos últimos 20 anos, a inflação acumulada foi de 400%, mas com aumento da tarifa em 1.000%, e sem repasse de investimento no setor. Ou seja, os empresários se apropriaram desse adicional. A prefeitura tem caixa para isso, sem que o preço da passagem aumente. Só depende do gestor ter vontade. Mas também vamos auditar as planilhas das empresas de ônibus, que hoje são um mistério para a sociedade.

Como aproveitar esse momento pós-Olimpíada para colocar mais crianças praticando esporte e levar isso para as escolas? 

Essa foi uma grande falha de uma cidade que ia receber a Olimpíada. Uma delas é ter o esporte educacional como tarefa e início de tudo e, depois, apostar mais no alto rendimento. É a bolsa atleta municipal, ter o centro de treinamento, articular com as universidades, com os espaços, como o Governo Federal fez, que garantiu a Olimpíada e colocou as Forças Armadas para bancar os atletas para que eles pudessem treinar. E eu não vejo essa iniciativa no campo da gestão municipal, o que é muito grave.

E sobre a administração dos equipamentos olímpicos: o que você pretende fazer com o Parque Olímpico e outras construções que vão continuar? 

Elas têm que ser devolvidas à sociedade e ao povo, seja na articulação das escolas, seja para os atletas serem treinados. E tem que ter sustentabilidade, com esporte e cultura. Aqueles que virarem escolas, se é que vão virar mesmo, vamos ver… O povo tem que controlar aquilo que foi dito para ver se vai acontecer mesmo.

O que o resultado do impeachment pode influenciar tanto na eleição quanto na administração pública do Rio? 

O Governo Federal botou no Rio de Janeiro R$ 376 bilhões e bancou tudo, inclusive esse chamado legado da Olimpíada que está aí, insuficiente, mas existe. Na hora que o povo entender isso, deixa de confiar e acho que isso tem peso na eleição. A segunda questão é que, passando o impeachment, a agenda que virá será muito difícil, com restrição de recursos, retirada de direitos e, obviamente, nós vamos ter que encarar isso com altivez e uma prefeitura na mão, com a força que ela tem, para garantir viabilizar a gestão municipal.

Com a atual situação do Estado, você teme que o futuro da prefeitura também seja tão difícil? 

Nós vamos ter que auditar tudo, as dívidas, as PPPs [parcerias público-privadas], a previdência que faliu, porque eles descapitalizaram a previdência do Rio de Janeiro, e vamos ter que auditar também as planilhas de transporte. Tudo isso nós vamos ter que fazer, até para entender qual é o quadro real. Agora, dificuldades, todos enfrentaremos, mas o Rio não precisa só de si, mas de liderança política.

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