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Após ser agredido por taxistas, garoto-propaganda do Uber revela mágoa

Garoto-propaganda da Uber depois de ter sido agredido por taxistas em Porto Alegre, o motorista que não dirige mais para a empresa falou ao Metro. E não esconde a mágoa com o serviço de transporte remunerado, que considera não tê-lo apoiado

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Você saiu do Uber?

Na verdade, nunca voltei. Desenvolvi estresse pós-traumático. Não falei nada para ninguém porque o pessoal do Uber disse que estaria sempre ao meu lado e blá-blá-blá. Achei que iria voltar depois de algum tempo. Mas eles foram sumindo até que desapareceram de vez. Isso me desanimou.


Quem sumiu? O pessoal do Uber?

Sim. Disseram que iam cuidar de tudo e que estariam à disposição para o que eu precisasse, etc. Nem a liberação do meu carro eles conseguiram ainda.

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O seu New Fiesta danificado pelos taxistas (em 26 de novembro de 2015, no estacionamento de um supermercado na capital) não foi liberado?

Aliás, de danificado já deve ter virado sucata. Seis meses em um depósito, ao relento. Imagine.

 

Mas o Uber não continuou pagando o seu salário depois do ataque dos taxistas?

Que salário? Eu recebi o equivalente a duas semanas parado e R$ 60 mil do Fiesta. Ouvi todo um trilili de “compre um Fusion Hybrid (R$ 140 mil) porque agora você será uma estrela no Uber”. Minha sorte é que eu tive um pingo de cérebro na época e só me endividei em R$ 45 mil com o Civic.

 

Eles quiseram pegar você para garoto-propaganda.

De graça, e conseguiram. Quando não precisou mais, me deram as costas.

 

E você não cogitou voltar a dirigir para a Uber?

Para fugir de blitz, assalto e correr o risco de apanhar de novo em uma cidade em que o prefeito vai na TV e afirma que eu “não existo”? Além do fato de que eu simplesmente não consigo colocar uma pessoa estranha no banco traseiro do carro sem começar a suar frio e ficar com a visão embaçada. Não se esqueça que o que aconteceu comigo durou duas horas, mas eu revivi aquilo durante meses, atendendo a imprensa e pessoas. Afinal, eu era “o símbolo do Uber em Porto Alegre”.

 

Por um tempo pareceu que você estava curtindo ser o símbolo do Uber. Até quando isso durou?

Curtir eu nunca curti. Para mim sempre foi um esforço, mas eu pensava nos outros motoristas que estavam apavorados. E me sentia “apoiado” porque, em tese, a Uber estaria do meu lado.

 

Então é mentira que o Uber presta todo o apoio aos motoristas que sofrem apreensão em blitz ou agressões?

Não diria isso. Aliás, não digo isso. Mas a Uber é uma empresa, e não uma ONG. Eles querem lucrar. Eles cumpriram o mínimo para evitar um processo, talvez porque julgassem que eu fosse esse tipo de gente. Não sou.

 

Você está trabalhando?

Eu estou procurando emprego, algo que não envolva arriscar minha integridade física e psicológica e que me permita retomar a vida.

 

Você está fazendo algum acompanhamento psicológico?

Tenho uma terapeuta e tomo medicamentos para não ter crises de pânico e coisas do tipo. Evito sair sozinho e ainda fico bastante neurótico quando vejo mais de um táxi passando aqui na frente de casa.

 

Você foi convidado para ser candidato a vereador e não aceitou.

Acho que primeiro tenho que pensar no fato de que eu não faria nada por ser um único no meio de um monte, e no final das contas acabaria me queimando. Se houvesse mesmo a chance de eu mudar algo, eu até iria, inclusive porque acredito que sou bastante competente, talvez mais do que muito político profissional que tem por aí, mas tenho que pensar no bem maior e no futuro.

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