As feridas da infância, essas cicatrizes emocionais que carregamos conosco desde os primeiros anos de vida, têm um impacto profundo e duradouro em nossos relacionamentos adultos. Essas experiências precoces podem moldar nossas percepções, comportamentos e reações, influenciando significativamente a dinâmica com nossos parceiros.
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Curar essas feridas é crucial, pois permite quebrar padrões negativos e construir vínculos mais saudáveis e satisfatórios. Reconhecer e abordar esses traumas não só melhora o relacionamento consigo mesmo, mas também fortalece a conexão e a intimidade em nossos relacionamentos amorosos, criando um espaço mais seguro e amoroso para ambos.
“Quando falamos em curar e cuidar de nossa criança interior, estamos nos referindo a considerar que dentro de nós existe uma parte que é a consciência adulta e outra que é a consciência infantil, que é o que também chamamos de nosso ‘eu interior’”, explicou Ana Paola Ramos Uriarte, psicoterapeuta, palestrante e cofundadora do Instituto Artesánate® em entrevista com a Nueva Mujer.
"Isto abrange a fase de desenvolvimento desde que éramos pequenos, até mesmo desde o útero de nossa mãe e toda a experiência que tivemos na infância. Durante esta fase, temos necessidades físicas e fisiológicas, mas também emocionais, de nos sentirmos aceitos, amados, confiantes, encorajados, protegidos, bem-vindos e parte de uma comunidade."
De acordo com a especialista, se todas essas necessidades forem completamente atendidas, não haverá feridas na psique da criança; mas se não forem, então ficarão lacunas emocionais que se traduzirão em carências na vida adulta. "Ao ter essas carências e lacunas na vida, inconscientemente projetamos no parceiro a responsabilidade de preencher esses vazios, o que acaba gerando um problema", sentenciou.
A influência das feridas emocionais na dinâmica do casal
Os comportamentos de uma pessoa com essas feridas que se refletem na relação de casal incluem o protesto, tanto de forma explícita através de reclamações e queixas, quanto de forma passiva através do silêncio e da indiferença.
"Estas ações revelam a falta de cura de feridas emocionais, o que leva à desconexão e a nos sentirmos insuficientes", disse Ramos e acrescentou que frequentemente, são projetadas na relação expectativas de satisfação de necessidades, semelhante à relação entre pais e filhos. "Quando alguém não é autossuficiente e depende do parceiro para suprir suas necessidades, a dinâmica se assemelha mais a uma relação parental do que a uma relação de casal saudável".
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Uma pessoa que inicia um relacionamento sem ter curado suas feridas emocionais enfrenta vários desafios significativos. Em primeiro lugar, é provável que traga consigo padrões de comportamento e crenças negativas enraizadas em experiências passadas não resolvidas. Isso pode se manifestar na forma como se relaciona com o parceiro, como a tendência a buscar validação externa para sua autoestima ou a incapacidade de estabelecer limites saudáveis.
O nível de satisfação e os conflitos em um relacionamento podem refletir nosso estado emocional interno. Reconhecer isso é o primeiro passo para lidar com as feridas emocionais enraizadas desde a infância. Mudar a percepção dos problemas como desafios para o crescimento pessoal é fundamental. Nesse sentido, Ramos apontou que a terapia pode ser uma ferramenta valiosa para esse processo, fornecendo um espaço seguro para explorar nossas emoções e fortalecer a conexão com o outro.
A comunicação como pilar que fortalece a relação
Quando há feridas da infância presentes em um relacionamento de casal, a comunicação se torna um pilar fundamental para curar e fortalecer o relacionamento. É por meio do diálogo aberto e sincero que os casais podem entender melhor as necessidades, medos e preocupações um do outro.
"A comunicação é fundamental; no entanto, não pode ser assertiva se não houver intimidade, e se isso estiver faltando é porque há problemas de autoestima e feridas da infância. Se uma pessoa está ferida, não pode se abrir para a vulnerabilidade porque está se protegendo."
O caminho para uma comunicação saudável em um relacionamento afetado por feridas da infância envolve não apenas falar, mas também ouvir com empatia e compreensão, criando um espaço seguro para ambas as partes.