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Psiquiatra utiliza ecstasy para tratar pacientes com estresse pós-traumático

Reprodução/Ministério da Justiça

Não é de hoje que o uso de drogas em tratamentos médicos é considerado tabu por grande parte da sociedade. Mas e se esse tipo de substância for a única solução realmente eficaz contra alguma doença ou distúrbio?

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Uma das drogas que podem auxiliar em terapias é o ecstasy.

De acordo com o psiquiatra e pesquisador Eduardo Schenberg, que é mestre em Psicofarmacologia pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e doutor em Neurociências pela USP (Universidade de São Paulo), ela pode ajudar pacientes diagnosticados com depressão e estresse pós-traumático.

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«Esse método é uma inovação na psiquiatria, pois faz uma combinação entre terapia e medicação», afirma o estudioso. «Um paciente que sofreu uma violência muito grande geralmente não consegue falar sobre o trauma. As emoções são tão fortes que ele tem medo de entrar em pânico, sentir todo o choque novamente».

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A partir de sua pesquisa, Schenberg conseguiu autorização na Justiça para tratar um paciente utilizando a metilenodioximetanfetamina (MDMA) – nome científico do ecstasy.

A MDMA é capaz de diminuir essa sensação de medo, facilitando o trabalho do psiquiatra. Ela reduz a ativação da amígdala, região do cérebro que responde pelas emoções, ao mesmo tempo em que aumenta a atividade no córtex pré-frontal, responsável pelo raciocínio.

Para realizar esse tipo de atendimento, o paciente precisa tomar um comprimido, dentro do consultório. A cápsula é diferente do «ecstasy das ruas ou das baladas», já que essa é uma versão pura e com controle de qualidade.

Schenberg se inspirou em tratamentos realizados nos Estados Unidos, onde centenas de pessoas com estresse pós-traumático já foram tratadas com o auxílio da MDMA. Ele explica que os profissionais só recorrem a esse método quando não conseguem mais tratar o paciente de outras formas.

«Não existe um medicamento específico para esse distúrbio. Quando uma pessoa é diagnosticada com estresse pós-traumático, o que os médicos fazem é tratar os sintomas: por exemplo, se um paciente com transtorno de estresse pós-traumático se queixa de insônia, o psiquiatra passa algum remédio para dormir; se está com depressão, receita um antidepressivo», diz o pesquisador.

Preconceito

Mesmo com todo o tabu, as drogas (ou psicoativos) já foram grandes aliadas da psiquiatria, principalmente entre os anos de 1950 e 1960. Nessa época, elas eram legais, mas a partir de meados dos anos 1970 começaram a ser proibidas em diversos países. Só que essa restrição não separou o uso recreativo do clínico, dificultando o acesso de profissionais da saúde a essas substâncias.

De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), cerca de 5,8% dos brasileiros sofrem com depressão. E é pensando nesses números que Schenberg defende uma nova política para as drogas.»Essa proibição faz com que a gente negue ao paciente o acesso a uma droga que só ela resolve o problema», justifica.

Uma substância polêmica, mas que hoje já é legalizada para uso terapêutico no Brasil é a maconha. Desde 2015, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autorizou a importação de canabidiol. «As drogas têm efeitos biológicos diversos e, dependendo da forma como são utilizadas, podem trazer vários benefícios aos pacientes», diz o psiquiatra.

Com o objetivo de quebrar esse tabu, ele resolveu criar um curso para desmistificar o tema. Em parceria com o co-fundador da plataforma de atividades criativas Perestroika, Felipe Anghinoni, o pesquisador Eduardo Schenberg oferece 25 aulas online em que explica as reações do corpo humano a tais substâncias, como atuam no cérebro, dependência química e políticas públicas.

Uma vez inscrito na plataforma, o aluno tem até 4 meses para concluir as aulas. Elas são direcionadas a profissionais da área da saúde e do âmbito jurídico, mas estão abertas para qualquer um que queira participar também. As inscrições podem ser feitas diretamente no site (www.quedrogaeessa.perestroika.com.br) e custam R$ 147.

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