Esporte

Vencedor do Mundial de Surfe Adaptado, Kizu fala sobre superação

Fellipe ‘Kizu’ Lima é um autêntico ‘rato de praia’. Nascido e criado em Belo Horizonte, hoje ele mora no Rio de Janeiro, onde pratica surfe todos os dias nas praias da zona Oeste da capital fluminense. Apaixonado desde moleque por esportes radicais, nem mesmo a falta de movimento nas pernas – resultado de um acidente doméstico quando ele tinha 18 anos – desanimaram o atleta de 28 anos. Kizu sagrou-se, no ano passado, o primeiro campeão mundial de surfe adaptado e colhe os frutos de sua dedicação ao esporte. Em entrevista exclusiva ao Metro Jornal, Kizu conta sobre sua trajetória e os percalços de sua vida de superação.

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Você foi o primeiro campeão mundial de surfe adaptado. Como é praticada essa modalidade e quais os desafios?

Eu pratico o waveski, que é um surfe com uma prancha mais grossa. O modelo é bem parecido com um caiaque. Na verdade, competi bastante tempo em outras modalidades de caiaque e canoagem oceânica. Como sempre fui apaixonado por surfe, comprei um caiaque, que não era próprio para surfe, e fui para a praia com ele. Assim que peguei a primeira onda, vi que dava para fazer umas manobras e empolguei. Comecei a pesquisar e descobri o waveski e o kayak surf. A princípio, é preciso bastante equilíbrio, mas como já praticava a canoagem, para mim não foi tão difícil.

Dizem que mineiro não é muito familiarizado com o mar, quanto mais com surfe. Quando começou essa sua paixão e como ela se manteve?

Desde moleque, já curtia esporte. Comecei com uns 4 anos no kart e no skate, até chegar ao surfe. Depois que aconteceu o acidente, demorei um pouco a me imaginar surfando novamente. Não tinha nem ideia de como iria fazer isso. Aos poucos as coisas foram se encaminhando e consegui voltar a praticar. Essa coisa do mineiro, muita gente não consegue entender essa fama [de não se adaptar ao mar]. A verdade é que tem muito mais mineiro apaixonado pelo mar do se imagina por aí.

Falando sobre o acidente, como aconteceu?

Foi 2006, quando estava com 18 anos. Era um dia comum, me reuni com amigos na casa de um deles, e após algum tempo de conversas e brincadeiras, me sentei no parapeito da varanda do 1º andar para descansar. Acabei cochilando, cai de uma altura aproximada de 3 m e fraturei  três vértebras lombares, o que me deixou paraplégico. Como sempre fui ligado ao esporte e tive muito apoio da família e amigos, rapidamente percebi que teria que me adaptar. Resolvi mudar o rumo da minha vida. Com a fisioterapia, fui voltando aos esportes radicais como mergulho livre, skate (assentado), kite buggy e drift trike, mas ainda não estava satisfeito. Sentia muita falta de surfar.

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E como foi essa volta ao surfe?

Foi quando me mudei para os Estados Unidos. Lá, abri minha mente para a canoagem e comecei a remar pelos pântanos e praias da Flórida. Descobri que era um esporte altamente adaptável a pessoas com deficiência e isso me trouxe esperanças. Quando voltei para o Brasil, conheci o kayak surf e iniciei minha nova carreira como atleta. Sou muito grato ao esporte. Graças à ele, tive oportunidade de participar de campeonatos (Mundial, Sul-americano e Brasileiro). Além de conhecer lugares incríveis como a Austrália, os Estados Unidos e a Indonésia.

Eu vi que você é muito fã do Mineirinho (atual campeão do WTC). Qual foi a sensação quando ele te parabenizou pelo título mundial?

Eu tenho vários ídolos nos esporte, mas o Mineirinho [que é paulista] é um dos caras que mais admiro. É um sujeito que correu demais chegar onde está e sempre me inspirou a batalhar. O reconhecimento de um cara desses é algo muito importante para mim. Quando tive a oportunidade de bater um papo com ele, vi o tanto que é um cara humilde e bacana. Já até combinamos de pegar uma onda juntos.

Como alguns esportes, o surfe adaptado também carece de incentivo e patrocínio?

Ainda temos poucas pessoas interessadas em investir em um atleta ou na estrutura da modalidade. Lá fora, a gente percebe que o apoio é maior, o que faz com que a prática seja cada vez mais difundida no exterior. Meu sonho é ver esse esporte crescer no Brasil e ter cada vez mais gente praticando surfe adaptado. A modalidade em si tem crescido demais agora e isso é bom para todo mundo, mas ainda temos muito o que evoluir.

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