Esporte

Andrés Sanchez encontra Del Nero e diz ser contra renúncia

O momento era de perguntas, mas no reencontro do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, com o desafeto Andrés Sanchez, deputado federal pelo PT-SP, nesta terça-feira, o parlamentar preferiu não fazer muitos questionamentos ao cartola. Mas o corintiano não deixou de se pronunciar durante sabatina na Comissão de Esporte da Câmara, em Brasília.

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Sanchez, que já foi diretor de seleções da CBF, e deixou o posto detonando Del Nero, disse ser contra a saída do mandatário por conta da crise na entidade, mas sem deixar de dar uma cutucada no adversário.

“Acho que o senhor não tem que renunciar. Tem que esperar tudo (investigações) acabar. Renúncia seria uma covardia”, disse Sanchez, que admitiu ter dito que não acreditava na ida de Del Nero à comissão. “Achei que (Del Nero) não vinha, faço mea culpa”, declarou.

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12º co-conspirador

O deputado, que se declarou ser «anti-Marco Polo Del Nero», fez uma declaração que soou como um desafio.

“Espero, torço e rezo para que o senhor não seja o 12º co-conspirador (apontado no relatório do Departamento de Justiça dos EUA), até pela amizade que tinha com o senhor. Seria uma mancha muito grande ter três presidentes investigados. Talvez o futebol brasileiro não aguentasse”, afirmou, citando o personagem da investigação, cujo nome não foi revelado, mas que tem credenciais (ocupante de altos postos na CBF, Conmebol e Fifa) semelhantes a de Del Nero.

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Sanchez aproveitou para discursar contra os que reclamam de uma elitização do futebol, defender os preços dos ingressos nos jogos do Corinthians e criticou os que “se metem” na modalidade “sem nunca ter sentado num clube para saber o que passa”. Ainda houve campanha contra meia-entrada: «tem que ter para comida, para meu pai pagar metade na churrascaria».

Ao retomar a palavra, o corintiano acabou fazendo uma pergunta: se os clubes poderiam participar da Assembleia Geral da CBF, e não somente as federações. Del Nero não respondeu diretamente.

Entenda o caso

Investigações conduzidas pelo FBI, nos EUA, culminaram na prisão de sete dirigentes de peso no futebol em Zurique, na Suíça. Reunidos para a eleição do próximo presidente da entidade, os cartolas foram detidos pela polícia suíça no hotel Baur au Lac. Entre eles, está o ex-presidente da CBF entre 2012 e 2015 e atual vice da entidade, José Maria Marin, que permanece detido na Suíça.

No total, a investigação chegou a 14 nomes. Além dos sete dirigentes que já foram presos, sete foram indiciados. O brasileiro José Lázaro Marguiles, que seria um intermediário nas operações ilegais, é um deles. Outras quatro pessoas, incluindo o empresário José Hawilla, do grupo Traffic, são réus confessos no esquema. Dessas 18 pessoas, 11, entre elas Marin, foram banidas pela Fifa de quaisquer atividades ligadas ao futebol.

As acusações são de extorsão, fraude, conspiração e lavagem de dinheiro para acordos em torneios como as Eliminatórias, Copa América, Libertadores e Copa do Brasil. O esquema dura, pelo menos, 20 anos e movimentou mais de US$ 150 milhões (R$ 476 milhões) até agora. O valor pode ser muito maior.

Com a prisão dos cartolas e as notícias sobre o andamento das investigações, a pressão sobre a Fifa só aumentou. Diante deste cenário, Joseph Blatter, presidente que havia sido reeleito ao seu quinto mandato no dia 29 de maio, renunciou ao cargo. O secretário-geral da entidade e braço-direito do suíço, Jérôme Valcke também está em situação delicada pela suspeita de participar de pagamento de propina.

O escândalo respingou até mesmo no ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, que deixou o comando da confederação em 2012. No Brasil, a Polícia Federal pediu o indiciamento do cartola por quatro crimes (lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documentos público). Entre 2009 e 2012, Teixeira teria movimentado R$ 464,5 milhões de suas contas bancárias, o que chamou a atenção das autoridades.

Como funcionava o esquema

Empresas de marketing esportivo subornavam dirigentes para ganhar apoio e colocar sua marca nos eventos da Fifa, Conmebol, CBF e outras entidades. Foi assim que Marin recebeu cerca de R$ 2 milhões por ano da empresa Traffic, por direitos de transmissão da Copa do Brasil, como propina, de acordo com as investigações. Marin também está envolvido em acusações de suborno de edições da Copa América até 2023.

Nem o contrato da CBF com a Nike escapou do FBI. A acusação é de pagamento de suborno em relação ao contrato da principal patrocinadora da Seleção Brasileira, que vem desde 1996. “O futebol é um belo jogo. Mas foi sequestrado. A vítima é o futebol. Essas pessoas conseguiram muito dinheiro graças ao amor que esse esporte desperta”, disse o diretor do FBI, James Comey. “Estamos dando um cartão vermelho para a Fifa”, completou Richard Webber, da Receita Federal americana.

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