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História de negro acusado injustamente de crime baliza ‘Se a Rua Beale Falasse’

James Baldwin (1924-1987) é um dos principais escritores negros dos Estados Unidos. Apesar de ter obtido reconhecimento em vida, participando ativamente da luta pelos direitos civis nos anos 1960, só agora ele tem recebido o destaque que merece, no Brasil, devido às adaptações de sua obra ao cinema. Foi assim com o documentário “Eu Não Sou Seu Negro”, em 2016, e com “Se a Rua Beale Falasse”, atualmente em cartaz.

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Lançado em 1974, o livro foi adaptado por Barry Jenkins (“Moonlight”) e, no próximo domingo, disputa o Oscar de melhor trilha sonora, roteiro adaptado e atriz coadjuvante para Regina King.

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Folhear “Se a Rua Beale Falasse”, que acaba de ser publicado, ajuda a entender a pertinência de Baldwin ainda hoje.

O quinto romance do escritor nova-iorquino se debruça sobre o jovem casal formado por Fonny e Tish. Acusado de ter estuprado uma latina, ele é considerado culpado, basicamente, por ser negro. Enquanto tenta tirá-lo da cadeia, sua noiva se descobre grávida.

É Tish quem narra a história sob a óptica de alguém que, aos 19 anos, tem que descobrir o lugar no qual a sociedade o categoriza, muitas vezes de forma dolorosa. No caso dela, isso significa aprender o que é ser uma negra de pele escura em um bairro branco de NY, o que leva um policial a enquadrar Fonny na primeira oportunidade.

A tal rua Beale do título não dá as caras. Ela remete à via da cidade de Memphis considerada point do blues no início do século 20.

É, portanto, uma metáfora para Tish, que, tal como os bluesmen, põe-se a relatar suas mais melancólicas experiências, mas também algumas alegrias, em um zigue-zague que alterna a luta para libertar o amado com o passado de sua família e a construção de seu relacionamento.

Com isso, ela afirma sua existência e defende um modo de estar no mundo que precisa ser sempre relembrado.

Baldwin escreve de forma simples, dando a Tish uma voz ingênua como pede sua idade. Essa forma direta de expressão reforça o caráter cortante de suas constatações durante o périplo para salvar Fonny: “Ter um problema quer dizer que você está só”, pensa ela em um momento. 

Dessa forma, o escritor alia contundência e poesia e, sem lacrações, desenrola um modo sensível de emplacar ideias ainda muito necessárias.

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