Difícil imaginar o que poderia passar pela cabeça do presidente Jair Bolsonaro ao enviar para a Câmara dos Deputados, com pedido de aprovação, o projeto de lei que altera artigos do Conselho Nacional do Trânsito. Como explicar, por exemplo, a elevação de 20 para 40 pontos o que o motorista poderia perder para ficar sem a sua CNH? Ora, é evidente que a medida vai agradar a muita gente, sobretudo que já está pendurado ali nos 19 pontos ou quase chegando lá. Mas pior do que isso é tirar, por exemplo, a multa de quem conduz carro sem a cadeirinha da criança menor de sete anos, transformando-a numa simples advertência ou fazendo da dita cadeirinha um simples adorno.
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São coisas que não tem cabimento, e olha que o presidente disse ontem que na verdade gostaria de passar não para 40 apenas, mas para 60 o número de pontos que o motorista poderia perder para não ficar sem a sua carteira. Não menos grave é a desobrigatoriedade do exame toxicológico de motoristas profissionais, caminhoneiros, por exemplo. Ora, é sabido que o ‘rebite’, produtos à base de anfetaminas, descem na ‘banguela’ pelas estradas do país, aumentando o risco de acidentes e fazendo do Brasil, aliás, campeão nesse esporte. Há um vídeo rodando na internet – um não, vários – exibindo uma carreta indo de um lado a outro da rodovia, com uma patrulha atrás, e com o motorista ‘rebitado’ até não poder mais, até que foi interceptado e preso, com o devido cuidado com a generalização.
Enfim, o governo ao tomar tal decisão, notoriamente populista, não explica em que estudo se baseou para mexer tão profundamente no CNT – e aqui foram citados apenas alguns exemplos – de forma que, felizmente, o projeto do presidente Bolsonaro vai passar por uma comissão especial que poderá corrigir algumas aberrações, tais como as aqui citadas – a da cadeirinha então… – ou mesmo a da isenção do exame toxicológico para os motoristas ditos profissionais, uma decisão tomada notoriamente para agradar os caminhoneiros sempre prontos para assustar o governo com ameaça de greve.