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Um começo duvidoso

carlos-lindenberg-colunistaAo instalar nessa terça-feira o seu Conselho de Ética para julgar o comportamento de ninguém menos do que o seu presidente, Eduardo Cunha, a Câmara dos Deputados abre uma etapa nova nesse processo de acusações e denúncias que tem tomado conta do país desde um ano atrás, pelo menos, mais precisamente assim que foram divulgados os resultados eleitorais.

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O julgamento do deputado Eduardo Cunha começa, no entanto, com alguns sinais inquietantes. O primeiro deles é que o relator deve ser um irmão de fé do acusado, o deputado Fausto Pinto, do PRB-SP, parlamentar de primeiro mandato eleito com a sobra de votos do deputado Russomano, com apenas 22 mil sufrágios. Não bastasse isso, um deputado do Solidariedade renunciou à sua cadeira no Conselho para ser substituído pelo colega Paulinho da Força Sindical, ardoroso defensor de Eduardo Cunha. Por fim, o processo de Cunha está embolado com outros dois que não tem nada a ver com o dele.

Eduardo Cunha, como se sabe, está denunciado no Conselho de Ética por não ter declarado à Justiça Eleitoral que não possui contas bancárias na Suíça e por ter mentido na CPI da Petrobrás que não tinha dinheiro no exterior. Acabou sendo levado ao Conselho pela suposta quebra do decoro parlamentar tão logo bancos suíços comunicaram ao STF que Eduardo Cunha tem quatro contas naquele país – e não só ele, como a esposa e a enteada. Esse dinheiro seria, ao que se apura na Operação Lava jato, produto de propina no valor de U$5 milhões paga por empreiteiros da Petrobras.

Ao falar com os jornalistas que vai provar não ter mentido na CPI, o presidente da Câmara acabou revelando o que deve ter chocado a muita gente: segundo Eduardo Cunha há pelo menos 150 deputados sendo investigados pela Procuradoria Geral da República por supostos crimes diversos – “se ser investigado pelo Supremo é motivo para levar alguém ao Conselho de Ética, uns 150 deputados deveriam estar lá também”, disse o deputado, ele mesmo um dos investigados. O número é assustador, ainda que, no final, nem todos tenham de fato culpa no cartório. Mas é num momento desses que se pergunta o que é que fizeram com o instituto da representação popular, reflexo sem dúvida de uma legislação eleitoral atrasada e feita de encomenda, quem sabe exatamente com esse fim: eleger os piores. Legislação essa, por sinal, que foi emendada agora para ser pior ainda do que a atual, com a possibilidade do financiamento privado das campanhas eleitorais, ideia ( de quem?) de Cunha.

Carlos Lindenberg é colunista do jornal Metro e comentarista da TV Band Minas. Escreve neste espaço às quintas-feiras.

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